Como as crianças aprendem as relações entre a fala e a escrita na alfabetização? E como apoiar esse processo? Matéria baseada nos materiais da Plataforma Alfaletrar (Cenpec/Magda Soares)
A comunicação verbal, por meio da oralidade, é uma capacidade dos seres humanos. A criança desenvolve a fala quando exposta a um meio linguístico e estimulada por mediações adequadas. Já a aprendizagem da leitura e da escrita é um pouco diferente: não basta entrar em contato com práticas letradas, é necessário descobrir como funciona o sistema alfabético.
É papel da escola e do professor ajudar a criança a compreender como esse sistema funciona e o que ele representa. Aprender a escrita alfabética é, sobretudo, aprender a converter sons da fala em letras (escrita) e converter uma combinação de letras em sons da fala (leitura).
Chamamos esse processo de faceta linguística da aprendizagem inicial da língua escrita, ou alfabetização. Essa faceta é necessária mas não suficiente para que uma criança se torne alfabetizada e letrada. Junto a ela, é preciso trabalhar outra faceta, também fundamental, denominada letramento. A proposta de aliar a alfabetização ao letramento, desenvolvida pela professora e pesquisadora Magda Soares desde a década de 1980, é o que ela chama de alfaletrar.
Alfabetização e as fases da aprendizagem da criança
Para aprenderem a faceta linguística, a mediação das(os) professoras(os) é fundamental. Para isso, é importante identificar quais os conhecimentos que as crianças já construíram em relação ao sistema de escrita para saber como atuar. De acordo com a Psicogênese da língua escrita, baseada nas pesquisas desenvolvidas por Emilia Ferreiro e Ana Teberoski, em geral, as crianças passam por algumas fases, em que desenvolvem algumas hipóteses sobre como a língua escrita funciona e para que serve. Para identificar em que fase elas estão, é importante observar:
Foto: arquivo Cenpec
A criança entende que a escrita é igual ao desenho? (fase icônica)
Produz uma imitação de escrita, misturando letras com outros símbolos, aleatoriamente? (fase da garatuja)
Já conhece algumas letras, mas ainda não associa a fala à escrita? (fase pré-silábica)
Entende a escrita como representação gráfica da fala e costuma usar uma letra para cada som da língua? (fase silábica)
Começa a perceber que há sílabas formadas por mais de um som e passa a usar mais de uma letra para algumas sílabas orais? (fase silábico-alfabética)
Entende que cada letra representa um único som e que cada som é grafado por uma única letra. (fase alfabética)
Passa a apreender as regras da ortografia e adquire mais fluência com a língua escrita? (fase ortográfica)
Consciência silábica e fonêmica
Para avançar na aprendizagem da língua escrita, as crianças precisam compreender que a escrita é a representação gráfica da fala, ou seja, as letras representam na escrita os sons da fala.
Foto: arquivo Cenpec
Nesse processo, as crianças, em geral, começam a perceber que as palavras são formadas por sílabas, ou seja, começam a adquirir consciência silábica.
Quando já conseguem segmentar palavras em sílabas, é hora de prestar atenção na estrutura das sílabas, ou seja, nos fonemas. Essa é uma tarefa mais difícil, pois os sons dos fonemas não são pronunciáveis isoladamente – necessitam das vogais para isso. Por exemplo: o F só é pronunciado quando acompanhado de uma vogal: FA, FÉ, FI…
Assim, conhecer as letras é fundamental, pois são elas, sobretudo, que ajudam a criança a perceber os fonemas. Isso contribui para a aprendizagem da escrita alfabética. Só se pode desenvolver consciência fonêmica relacionando oralidade e escrita.
Leitura fonográfica e logográfica
No processo de compreender cada vez mais a relação entre a escrita e a fala, ou seja, desenvolver consciência silábica e fonêmica, atividades de leitura são fundamentais. Nesse sentido, há duas estratégias de leitura que as crianças podem utilizar e que é importante as(os) educadoras(es) – e também as famílias – compreenderem, a fim de apoiar essa aprendizagem.
Assista ao vídeo a seguir e procure identificar essas diferentes estratégias utilizadas pela criança:
Compreendendo as estratégias de leitura
Conseguiu perceber as duas estratégias? Vamos falar um pouco delas. A criança do vídeo utiliza duas formas de leitura: a fonográfica e a logográfica.
Mas o que são essas estratégias? Vamos entender.
Por meio da leitura fonográfica, as crianças realizam a decodificação na leitura (convertem as letras do texto escrito em seus sons correspondentes) e a codificação na escrita (converter os sons ouvidos – ou apenas evocados – em seus grafemas correspondentes). Como neste trecho do vídeo:
CRIANÇA – O RA O RA TI NHU… (apontando para RATINHO) CRIANÇA – O MO RAN GO (apontando para MORANGO).
Nessa estratégia, o olhar se volta para as unidades menores, os fonemas, focando na combinação das letras – que formam as sílabas e as palavras (processamento da palavra).
Quanto mais uma criança avança no domínio da leitura, mais as operações de decodificação se automatizam, até lhe dar a ilusão de que o sentido brota do texto sem que ela se esforce para construí-la.
Já a leitura logográfica, também conhecida como leitura global, a criança se apoia na mem´ória, ou seja reconhece a palavra porque já a conhece anteriormente. Como no trecho a seguir:
CRIANÇA – MO RAN onde que tá mesmo? (apontando para MADURO) CRIANÇA – O RATINHO. O é E? CRIANÇA – O MO RAN GO GRANDE E MADURO (olhando para o chão)
Essa estratégia é essencial para a construção de sentido, mas é insuficiente para ler textos – ou palavras novas – pois a memória não daria conta de registrar todas as palavras.
No entanto, a leitura logográfica é fundamental para se desenvolver a fluência, pois, quanto mais rápido as operações de decodificação acontecem, maior o domínio da leitura.
A mediação é fundamental na aprendizagem
Embora crianças em contato cotidiano com a leitura e a escrita tenham mais facilidade em se alfabetizar, elas precisam de um ensino sistemático para compreender o sistema alfabético em sua complexidade. Raros são os casos de crianças que aprendem sozinhas. Nesse sentido, o papel da família e, principalmente, da escola e das(os) professoras(es) é fundamental.
Para apoiar a criança no processo de compreender cada vez mais a relação entre a escrita e a fala, ou seja, desenvolver consciência silábica e fonêmica, as(os) professoras(es) e a família podem desenvolver diferentes atividades que chamem a atenção para essa relação. Isso é possível por meio do contato com a leitura de textos da literatura infantil e com o repert´ório de brincadeiras orais (cantigas, parlendas, trava-línguas, quadrinhas etc.).
O Portal Cenpec usa cookies para salvar seu histórico de navegação. Ao continuar navegando em nosso ambiente, você aceita o armazenamento desses cookies em seu dispositivo. Os dados coletados nos ajudam a analisar o uso do Portal, aprimorar sua navegação no ambiente e aperfeiçoar nossos esforços de comunicação.
Para mais informações, consulte a Política de privacidade no site.
Para mais informações sobre o tipo de cookies que você encontra neste Portal, acesse Definições de cookie.
Quando visita um website, este pode armazenar ou recolher informações no seu navegador, principalmente na forma de cookies. Essas informações podem ser sobre você, suas preferências ou sobre seu dispositivo, e são utilizadas principalmente para o website funcionar conforme esperado.
O Portal Cenpec dispõe de cookies estritamente necessários. Esses cookies não armazenam informação pessoal identificável. Eles são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.
Muito gostoso de ler essa leitura pois complementa minha prática em sala de aulas Obrigada!
Muito bom o material.