Especial Luiz Gama
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LUIZ GAMA, CONSCIÊNCIA NEGRA, JUSTIÇA E LIBERDADE

 

“Nasci na cidade de S[ão] Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da Rua do Bângala, formando ângulo interno, na quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguesia de SantAna, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica.
Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina, (Nagô de Nação) de nome Luíza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.
Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa.
[…] Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas, neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo e pertencia a uma das principais famílias da Bahia de origem portuguesa. Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome.”

Com essas palavras, Luiz Gama conta de suas origens ao escritor e amigo Lúcio de Mendonça em carta datada de 25 de julho de 1880.

Mas quem é este personagem que há poucos anos passou a ganhar espaço nas páginas da história brasileira? Por que, durante tanto tempo, seu nome e sua obra foram desconhecidos da maioria, mesmo tendo sido um dos nossos maiores abolicionistas?

Luiz Gonzaga Pinto nasceu em Salvador, Bahia, em 21 de junho de 1830. Filho de Luiza Mahin, negra africana livre, e de um fidalgo de origem portuguesa, sua trajetória é marcada pela luta em prol da libertação das pessoas escravizadas e pela valorização da cultura afro-brasileira.

Nas palavras de José do Patrocínio, outro grande abolicionista brasileiro, Luiz Gama era o “grande chefe”, “o símbolo da grande causa”.
De fato, ao longo de seus 52 anos de vida, usou o sistema jurídico para libertar centenas de pessoas, organizou conferências, escreveu inúmeros artigos polêmicos, além de ter encabeçado iniciativas para o alforriamento de escravizadas(os) promovidas pela loja maçônica América, de São Paulo.

 

 

 

 

Homenagens póstumas

  • Em 1931, Luiz Gama foi homenageado com um busto localizado no Largo do Arouche, região central da cidade de São Paulo. Esculpido por Yolando Mallozzi, o monumento foi composto em granito, bronze, betão.
  • Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lhe conferiu postumamente o título de advogado provisionado (no Brasil imperial, aquele que, sem formação acadêmica em Direito, obtinha a autorização do órgão competente do Poder Judiciário para exercer a postulação em juízo em primeira instância).
  • Em 2017, foi homenageado nomeando uma das salas da instituição.
  • Em 2018, foi reconhecido como Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil pela Lei nº 13.62.
  • Em 2021, recebeu o título de Doutor Honoris Causa póstumo pela Universidade de São Paulo (USP).
  • No mesmo ano, foi lançado o filme Doutor Gama, de autoria de Jeferson De, que conta a vida de Luiz Gama, com destaque para sua luta abolicionista nos tribunais e na imprensa da época.
  • Luiz Gama é também o patrono da cadeira n.º 15 da Academia Paulista de Letras.

    • No entanto, essas homenagens são bastante modestas se pensarmos no impacto da vida e da obra de Luiz Gama, o maior abolicionista das Américas. No caso da educação, a quase ausência desse grande personagem nas aulas e nos materiais didáticos evidencia esse fato.

    Como nota a professora Lígia Fonseca Ferreira:

    “É notável, contudo, a pequena atenção com que é tratada a trajetória de Luís Gama nos currículos escolares e universitários quando comparada a de outros intelectuais que trataram de temas idênticos ou semelhantes aos que esse autor enfrentou, como, por exemplo, o também abolicionista Joaquim Nabuco, contemporâneo de Gama, assim como Castro Alves, poeta cuja temática de apelo ao abolicionismo e ao antiescravismo estava também presente na obra poética de Gama, ainda que sob uma perspectiva social distinta. Enquanto Castro Alves assumia-se como um interlocutor dos negros escravizados, Gama enunciava e encarnava a própria voz dos/as escravizados/as, até porque fora escravizado, questionando as instituições e a posição subalternizada e desumana dos negros na estrutura social oitocentista” (FERREIRA, 2007).

     

     

    Luiz Gama, um homem mergulhado no seu tempo – entrevista com Ligia Fonseca Ferreira

     

    Luiz Gama era um homem da palavra. E era com essa arma que ele defendia seus ideias de justiça e liberdade, seja no jornalismo, seja na literatura, seja no sistema judiciário.

    “Quando a gente lê o Luiz Gama, a gente vai ouvindo a voz dele, na sua eloquência marcada pela indignação“, diz Lígia Fonseca Ferreira. Professora de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Lígia se dedica ao resgate e ao estudo da obra escrita do grande abolicionista negro.

    Esse foi o objetivo de sua pesquisa de doutorado na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III, que desenvolveu de 1995 a 2000 e defendeu em 2001.

    Em 2000, Lígia organizou a reedição crítica das Primeiras Trovas Burlescas, com base em uma verdadeira pesquisa “arqueológica” e de “restauro” na Biblioteca Mário de Andrade e em coleções particulares. A pesquisadora também organizou os livros Com a palavra, Luiz Gama (2011) e Lições de resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (2021), que trazem textos integrais do abolicionista.

    Com seu trabalho, Lígia é responsável pelo resgate desta grande figura em nossa história. Confira nossa conversa com a pesquisadora.

     

     

     

    Gama: nosso primeiro autor autodeclarado negro

    As Primeiras trovas burlescas de Getulino foi a única obra literária publicada por Luiz Gama, em fins do século XIX, num Brasil escravocrata, em que a maioria da população era africana e afrodescendente.

    A obra é composta por poemas satíricos que tematizam questões sociais, políticas e raciais do Brasil recém-independente. A primeira edição, de 1959, traz 22 poemas de Luiz Gama e 3 poemas do amigo José Bonifácio, o Moço, parceiro de luta abolicionista e republicana. Em 1961, a obra ganhou uma segunda edição revista e ampliada, que reuniu 39 textos de Luiz Gama e 10 poemas de José Bonifácio.

    No auge do romantismo, em que a escravidão desponta como tema e as pessoas negras como personagens, a obra inaugura uma figura até então ausente na literatura brasileira: o autor negro, que se assume como tal (“negro sou”). Ou, como ele declara em “Lá vai o verso”:

    “Quero que o mundo me encarando veja, Um retumbante Orfeu de carapinha”

    Não por acaso, o pseudônimo impresso no título: “Getulino” remete a “Getúlia”, território da África do Norte, entre as atuais Argélia e Mauritânia, habitado na Antiguidade pelos getulos, grupo étnico pertencente ao povo berbere.

    Contexto:

    A primeira edição das Primeiras trovas burlescas de Getulino (PTB) veio a público em 1859, mesmo ano em que foi publicado Úrsula, considerado o primeiro romance abolicionista brasileiro, e sua autora, a maranhense Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher e negra a publicar um romance em nossas terras. A professora Lígia Fonseca Ferreira fala sobre esse cenário literário:

    “No final dos anos 1850, a vida intelectual marca-se ainda fortemente pela mística indianista a alimentar projetos de fundação de uma literatura genuinamente brasileira quando surge o grande romance nacional – O Guarani (1857), de José de Alencar. Porém, outras manifestações então menos visíveis, por acontecer longe dos holofotes da Corte, vêm sendo hoje trazidas à tona, como a emergência da autoria negra. No Maranhão, coincide com as PTB a publicação de Úrsula, tido como primeiro romance abolicionista brasileiro, da escritora afrodescendente Maria Firmina dos Reis, é também de 1859, em gênero e estilo totalmente opostos às PTB, o volume Primaveras, obra única de Casimiro de Abreu, poeta menor alçado a estatura maior, com direito a vaga na Academia Brasileira de Letras, graças ao sucesso alcançado com poesias em linguagem simples, dedicadas à saudade da infância, a natureza, o sentimentalismo religioso, o patriotismo difuso etc.” (FERREIRA, 2019.)

    A Bodarrada

    Em contraponto ao lirismo então reinante, as trovas (poemas) de Luiz Gama se destacam pela sátira aos costumes e preconceitos de sua época, e à defesa da cultura negra e da africanidade.

    Um dos poemas mais famosos desta obra é “Quem sou eu?”, que ficou mais conhecido pelo subtítulo, “A Bodarrada” – em referência a “bode”, forma pejorativa como eram tratadas as pessoas negras que se opunham ao regime escravocrata. No trecho a seguir, destacamos versos em que o autor faz referência a sua cor e identidade étnico-racial:

    “Eu bem sei que sou qual Grilo,
    De maçante e mau estilo;
    E que os homens poderosos
    Desta arenga receosos
    Hão de chamar-me tarelo,
    Bode, negro, Mongibelo;
    Porém eu que não me abalo,
    Vou tangendo o meu badalo
    Com repique impertinente,
    Pondo a trote muita gente.
    Se negro sou, ou sou bode
    Pouco importa. O que isto pode?
    Bodes há de toda a casta,
    Pois que a espécie é muito vasta…
    Há cinzentos, há rajados,
    Baios, pampas e malhados,
    Bodes negros, bodes brancos,
    E, sejamos todos francos,
    Uns plebeus, e outros nobres,
    Bodes ricos, bodes pobres,
    Bodes sábios, importantes,
    E também alguns tratantes…”

     

    O livro também traz poemas satirizando a Faculdade de Direito e seus “doutores”,o alvos frequentes do sarcasmo de Gama, como nesta estrofe de “Lá vai o verso”:

    “Se temos majestosas Faculdades,
    Onde imperam egrégias potestades,
    E, apesar das luzes dos mentores,
    Os burregos também saem Doutores;
    Se varões de preclara inteligência,
    Animam a defender a decadência,
    E a Pátria sepultando em vil desdouro,
    Perjuram como Judas – só por ouro:
    É que o sábio, no Brasil, só quer lambança,
    Onde possa empantufar a larga pança!”

     

    Embora em menor número, Luiz Gama também compôs poemas líricos, em que exalta a mãe e a mulher negra. Segundo a pesquisadora Ligia Fonseca Ferreira (Unifesp), são de sua autoria os primeiros poemas dedicados à mulher negra em nossa literatura. Dois exemplos disso são os poemas “A cativa”, que está presente nas duas edições de Primeiras trovas burlescas de Getulino, e “Meus amores”, publicado no semanário Diabo Coxo, em 1865.

     

     

    Vozes em Gama: áudios com leituras de poemas e textos de Luiz Gama

     

    Convidamos educadoras e educadores a ler seus textos preferidos de Luiz Gama. Confira a seguir:

     

    Aline Fabre: leitura de “Carta ao comendador José Vergueiro”, publicado no jornal O Ipiranga, 21 de fevereiro de 1869.

    Esdras Soares: leitura do poema “Lá vai verso”, publicado no livro Primeiras trovas burlescas de Getulino (1959).

    José Victor Nunes Mariano: leitura do poema “Quem sou eu? (Bodarrada)”, publicado no livro Primeiras trovas burlescas de Getulino (1959).

    Lara Rocha: leitura do poema “A cativa“, publicado no livro Primeiras trovas burlescas de Getulino (1961).

    Luciane Silva: leitura do poema “Meus amores”, publicado no semanário Diabo Coxo, em 1865.

    Patrícia Ferreira: leitura do poema “A borboleta“, publicado no livro Primeiras trovas burlescas de Getulino (1961).

    Washington Góes: leitura da carta de Luiz Gama a Lúcio de Mendonça, de 25 de julho de 1880.

     

     

    Galeria de personagens: uma Gama de histórias

    A vida de Luiz Gama se entrelaça com a de muitas outras pessoas. Com sua intensa e incansável atuação como abolicionista, sua trajetória se cruzou com a de diversas personalidades relevantes na história brasileira, muitas das quais foram influenciadas por suas ideias e ações. Vamos (re)conhecer algumas?

    Clique no símbolo em cada imagem para saber mais:

     

     

    Na trilha de Luiz Gama: Entrevista com Guilherme Soares Dias (Guia Negro)

     

    Após mais de um século de apagamento, as contribuições de Luiz Gama para a história brasileira têm ganhado o merecido destaque em iniciativas e espaços diversos, seja na academia, onde têm aumentado estudos sobre a vida e a obra do nosso maior abolicionista, seja na mídia e nas redes sociais.

    Uma dessas iniciativas é a Caminhada Luiz Gama. Realizada pela equipe do Guia Negro, a caminhada percorrer as “pegadas” que este importante personagem deixou pela cidade de São Paulo, onde viveu a maior parte de sua vida.

    Confira a seguir a entrevista com o jornalista Guilherme Soares Dias, fundador do Guia Negro, plataforma de afroturismo que tem como objetivo ensinar sobre o protagonismo negro e outras histórias.

    Guillherme Dias (à esquerda) e participantes da Caminhada Luiz Gama no no Largo do Arouche, região central São Paulo (SP), onde se encontra o busto do grande abolicionista, inaugurado em 1931.

    Portal CENPEC: Vocês têm uma caminhada em São Paulo sobre o Luiz Gama. Qual a importância de conhecer esse personagem e a sua atuação na história do Brasil?

    Guillherme Dias: O Luiz Gama é o maior abolicionista no Brasil. Ele sozinho libertou cerca de 500 pessoas. Não há informações de outra pessoa que conseguiu libertar tantas pessoas, nem no Brasil nem em outro país que sofreu com a escravização. Então o legado dele é de resistência mesmo, de uma luta incansável e que passou por vários meios, como advogado, jornalista, poeta, ou na maçonaria, enfim, todos os espaços que ocupou ele levou a luta abolicionista. Então é uma figura que merece estar entre os heróis do Brasil, e que deveria ser mais estudado na escola e referenciado na mídia.

    Portal CENPEC: Por que, apesar dessa importância, ele ficou (e ainda é) ausente ou pouco falado nas aulas de história?

    Guillherme Dias: Muito por conta do racismo estrutural, que destaca os personagens brancos, por meio de datas e grandes monumentos, em detrimento de pessoas negras, que são apagadas da história. É o caso do Luiz Gama. Mas ele não é o único personagem negro grandioso e que não recebe o devido reconhecimento: isso se repete com outros personagens. No caso do Gama, ele foi muito feliz em documentar a sua própria história, deixou escritos que fazem com que a presença dele seja inegável, mas no caso de outros, por exemplo, Zumbi e Dandara dos Palmares, a gente tem inclusive o questionamento da existência. Daí que a gente vê a importância de ele ter registrado em documentos as passagens da sua vida.

    Sobre as aulas de história, não dá mais para a gente olhar para a história sem levar em conta a presença das pessoas negras e indígenas. Há muitos questionamentos importantes a se fazer nesse sentido, por exemplo: no 7 de setembro, que é chamado de Dia da Independência, onde estavam as pessoas negras nesse episódio? Por que quando se fala dessa Independência a gente não lembra onde elas estavam? Então, ao trazer datas e fatos históricos, é importante fazer sempre esses questionamento de onde estão pessoas negras e indígenas, e falar disso ao longo do ano, não somente no mês de novembro.

     

     

     

     

    Quiz: Gama e companhia: quem é quem nessa história?

    Agora que conhece um pouco mais da história deste grande abolicionista, que tal testar seus conhecimentos?

    Participe do quiz.

     

     

     

     

    De ex-escravizado e autodidata a “autor”: a produção literária de Luiz Gama

    “Luiz Gama começou tardiamente seu letramento, e assim que resgatou sua liberdade, buscou uma “segunda” liberdade: a liberdade do conhecimento, da conquista da palavra. Jamais frequentou escolas e “academias” (referindo-se à “Academia de Direito de São Paulo”, uma das únicas instituições de ensino superior no Brasil). Orgulhava-se de ser um autodidata, confessava-se um leitor voraz. E essa transformação é um dentre tantos fatos extraordinários que marcaram a vida de um homem negro, um ex-escravizado que se tornaria um autor. Aqui o sentido desta palavra é mais amplo do que lhe emprestam acepções presentes no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: não se trata apenas de um sinônimo de “escritor”, não se limita apenas à “pessoa que produz ou compõe obra literária, artística ou científica”. A noção de “autor” é aqui compreendida como aquele que introduz uma enunciação em primeira pessoa, o que permitirá a Luiz Gama introduzir a voz negra na literatura brasileira, em pleno período romântico, cerca de trinta anos antes da Abolição da Escravidão, quando o negro começava a despontar como personagem na literatura produzida por autores brancos.”

    Confira na íntegra o artigo da professora Ligia Fonseca Ferreira (Unifesp) publicado no portal Escrevendo o Futuro em 22 de novembro de 2023.

     

     

    Midiateca

    Audiovisuais e podcasts

     

    Documentário Luiz Gama na Pequena África (Nova Criativa Social, 2023)

    A produção une as histórias de Luiz Gama e da Pequena África, local no Rio de Janeiro conhecido por abrigar africanos e afrodescendentes que chegavam à capital. A obra reflete sobre o período escravocrata no país e estimula o público a conhecer a região, que fica na Zona Portuária da cidade.

    Band Jornalismo: Por que apagaram Luiz Gama da história?

    Entrevista com a professora Lígia Fonseca Ferreira/Unifesp, maior especialista sobre Luiz Gama do Brasil, aborda os motivos do apagamento histórico da vida e obra do grande abolicionista e as razões de seu reconhecimento recente.

    Filme Doutor Gama (Direção: Jeferson De). Brasil, 2021 (trailer)

    Doutor Gama é baseado na biografia de Luiz Gama, um dos personagens mais importantes da história brasileira, homem negro que utilizou as leis e os tribunais para libertar mais de 500 escravizadas(os).

    Podcast Canal Bruta – Conheça Luís Gama com Lígia Fonseca Ferreira

    Conheça de perto quem foi essa grande personalidade da nossa história, um advogado autodidata que libertou mais de 500 escravizadas(os), e que pode ser considerado, como afirma Lígia, um patrono da abolição e da luta antirracista.

    451 MHz Podcast: Luiz Gama no campo de batalha

    O jurista Silvio Almeida e a historiadora Ligia Fonseca Ferreira debatem a atualidade desse pioneiro dos direitos humanos que se libertou da escravidão e defendeu os desvalidos com as armas do direito e do jornalismo.

    Podcast Crisálida de ar #21 – Primeiras trovas burlescas, de Luiz Gama

    Um episódio muito especial sobre a obra poética de uma das maiores referências de luta e intelectualidade: o poeta, jornalista e advogado Luiz Gama, o maior líder abolicionista do Brasil.

    Livros, artigos e reportagens

     

    GAMA, Luiz. Primeiras trovas burlescas de Getulino. 1859. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional, disponível para download no site da Biblioteca Brasiliana Mindlin.

    Único livro publicado em vida por Luiz Gama, traz sátiras sociais, políticas e raciais sobre o Brasil de sua época. A primeira edição, de 1959, foi composta por 22 poemas de Luiz Gama e 3 poemas do amigo e também abolicionista José Bonifácio, o Moço. Dois anos depois, a obra ganhou uma segunda edição ampliada.

    GAMA, Luiz. Lições de resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro. Lígia Fonseca Ferreira (Org.). Sesc Edições, 2021.

    A coletânea reúne 61 artigos integrais de Luiz Gama, publicados em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro entre 1864 e 1882. A obra traz ainda extensa introdução, cronologia temática, bibliografia sobre o autor, um apêndice com cartas e artigo biográfico de Lúcio de Mendonça, além de notas descritivas e explicativas.

    CARVALHO, Gilberto de Abreu Sodré. O advogado e o imperador: a história de um herói brasileiro. Duna Dueto, 2015.

    A condição degradante das pessoas negras no Brasil do século XIX é retratada neste romance histórico centrado na vida do abolicionista Luiz Gama. A relação entre o abolicionista e o imperador põe em debate questões como liberdade e justiça social, apontando a omissão do Dom Pedro II sobre a questão escravista e um projeto de país que incluísse todas as pessoas.

    CORREIOS IMS. Lances doridos. De: Luiz Gama Para: Lúcio de Mendonça. São Paulo, 25 de julho de 1880.

    Esta célebre carta de 1880 é uma resposta de Luiz Gama a pedido do escritor Lúcio de Mendonça para que lhe contasse os fatos dramáticos de sua vida, como filho de negra, africana livre, e pai de origem portuguesa. A experiência de vida relatada foi determinante para sua trajetória como um dos maiores abolicionistas brasileiros.

    FERREIRA, Lígia Fonseca. Luiz Gama por Luiz Gama: carta a Lúcio de Mendonça. Teresa revista de Literatura Brasileira [819]; São Paulo, p. 300-321, 2008.

    Neste artigo, a professora e historiadora Lígia Fonseca Ferreira (Unifesp) destaca o ineditismo da carta de Luiz Gama ao amigo Lúcio de Mendonça, em que o abolicionista revela episódios fundamentais de sua vida e que só vêm à luz nos anos 1930.

    FERREIRA, Ligia Fonseca. Luiz Gama autor, leitor, editor: revisitando as Primeiras Trovas Burlescas de 1859 e 1861. Estud. av. 33 (96), maio-ago. 2019.

    Por meio do cotejo entre as duas edições das Primeiras Trovas Burlescas, de Luiz Gama, o artigo acompanha a formação e evolução do autor. Identifica, através das epígrafes, as referências seguidas pelo poeta e observa as mudanças de uma edição a outra.

    FERREIRA, L. F. Luís Gama: um abolicionista leitor de Renan. Estudos Avançados, v. 21, n. 60, p. 271-288, 2007.

    O filósofo Ernest Renan exerceu grande influência sobre boa parte da elite intelectual brasileira engajada em movimentos que caracterizam a transição da Monarquia para a República. Entre eles, destaca-se Luiz Gama, caso único de um ex-escravizado autodidata que alcança projeção no cenário político e nas letras.

    LAIDLER, Christiane. A Lei do Ventre Livre: interesses e disputas em torno do projeto de “abolição gradual”. Escritos – Revista da Fundação Casa de Rui Barbosa, n. 5. 2011.

    O artigo analisa as negociações em torno do projeto de abolição gradual da escravidão no Brasil. A Lei do Ventre Livre foi considerada por abolicionistas como uma farsa para garantir sobrevida ao regime escravista. Esse discurso se enraizou na memória da sociedade.

    HORA DO POVO. O homem do 13 de Maio – em homenagem a Luiz Gama. Publicado em 13 de maio de 2021.

    A matéria, em homenagem ao 13 de maio, reproduz “Última página da vida de um grande homem”, artigo do escritor Raul Pompeia, um dos discípulos de Luiz Gama, publicado no periódico Gazeta de Notícias em 10 de setembro de 1882, semanas após o falecimento do grande abolicionista negro.

    POLITIZE! Luiz Gama: conheça a história do maior abolicionista do Brasil (por Isabela Alves)

    Reportagem destaca aspectos importantes a vida, obra e legado deste grande advogado, abolicionista, escritor e jornalista.

    PORTAL DA MEMÓRIA DO TRT-2. Luiz Gama: as grandes trovas de um ícone, 2020.

    Reportagem traz fatos importantes da vida e da obra do grande abolicionista, acompanhado de vasta iconografia.

    COSTA, Ana de Lourdes R. Espaços negros: “cantos” e “lojas” em Salvador no século XIX. Caderno CRH. Suplemento, p. 18-34, 1991.

    Artigo identifica marcas de negritude em Salvador no século XIX, abordando os “cantos” e as “lojas”, lugares de trabalho e de moradia.

    ARAÚJO, Jamile. 183 anos da Sabinada: luta por uma República Bahiense livre e independente. MST, 2020.

    A matéria relembra o contexto de insurgência local e nacional, e os principais acontecimentos em torno do levante iniciado em 1837, na então província da Bahia, que por quatro meses instituiu uma república separatista.

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO (TJSP). Exposição Luiz Gama e o Judiciário Paulista no século XIX.

    Esta exposição apresenta resumo de 3 dos 32 processos ingressados por Luiz Gama no Tribunal da Relação de São Paulo. Por meio deles, é possível aprender sobre o contexto histórico, a legislação, os costumes e as campanhas abolicionistas.

    SANTOS, Sales Augusto dos; FARIA, Luis Gustavo de Paiva. Os projetos de abolição de Joaquim Nabuco e Luís Gama. Revista Exitus, Santarém/PA, v. 10, p. 01-31, 2020.

    O artigo compara os projetos de abolição de Joaquim Nabuco e de Luís Gama. Para os autores, o projeto de Nabuco, representante da elite da época, é oposto ao de Gama, ex-escravizado que logrou ser poeta e advogado antiescravista.

    BBC NEWS BRASIL. Luiz Gama: textos inéditos mostram como abolicionista denunciava violência policial no século 19. Reportagem de Leandro Machado, 2 ago 2021.

    BBC NEWS BRASIL. Dia da Consciência Negra: quem foi Luiz Gama, figura-chave no movimento abolicionista brasileiro. Entrevista de Ligia Fonseca Ferreira em 19 nov. 2020.

    BBC NEWS BRASIL. Luiz Gama: A desconhecida ação judicial com que advogado negro libertou 217 escravizados no século 19.

    PATROCÍNIO, José do. Manifesto da Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro. Gazeta da Tarde, 1883.

    Fac-símile da Biblioteca Brasiliana traz na íntegra o manifesto, dirigido aos deputados brasileiros, condena a escravidão no plano econômico, rejeita a lei do ventre livre e qualifica a instituição do cativeiro como juridicamente ilegal.

    MUSEU NACIONAL. Africanos no Brasil.

    A presença de africanos e descendentes no Brasil foi marcada pela violência da escravidão e pós-abolição. A exposição traz objetos que nos mostram como essas pessoas recriaram seu mundo a partir do final do século XIX, em particular na Bahia e no Rio de Janeiro.

    UNIVERSIDADE ZUMBI DOS PALMARES. Conheça Luísa Mahin, revolucionária negra, 2022.

    Especial publicado na semana do Dia Internacional da Mulher destaca a narrativa em torno da mítica Luísa Mahin, mãe de Luiz Gama, símbolo da luta da comunidade negra, da resistência e herança cultural.

     

     

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    Créditos

    Pesquisa e texto: Tamara Castro
    Revisão: Aline Rezende
    Projeto gráfico e web design: Marco Antonio Vieira

    Entrevistados:
    Guilherme Soares Dias
    Ligia Fonseca Ferreira

    Colaboração:
    Aline Fabre
    Esdras Soares
    José Victor Nunes Mariano
    Lara Rocha
    Luciane Silva
    Patrícia Ferreira
    Washington Góes

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