Esforços para minimizar os impactos da pandemia e combater o abandono escolar

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Esforços para minimizar os impactos da pandemia e combater o abandono escolar

Da articulação de parcerias à realização de sorteios: descubra como quatro municípios têm se organizado para garantir a matrícula e manter o vínculo com estudantes

Por Stephanie Kim Abe

Em agosto do ano passado, noticiamos algumas boas práticas de gestão durante a pandemia realizadas por municípios que fazem parte do Programa Parceria pela Valorização da Educação (PVE), uma iniciativa do Instituto Votorantim com parceria técnica do Cenpec e outras instituições.

Este ano, o Programa continua atuando com foco nas demandas do seu público-alvo, garantindo que a formação dada às equipes técnicas das secretarias municipais de educação e de gestores(as) escolares apoie os desafios enfrentados por elas. No primeiro módulo da formação de 2021, que acabou em abril, o foco foram estratégias de busca ativa e de combate ao abandono e evasão escolar.

Como explica Luciana Marchi Franceschini, técnica de projetos do Cenpec:

Foto: arquivo pessoal

Qualquer estratégia de prevenção do abandono escolar passa necessariamente por algumas etapas. Uma das primeiras maneiras que tentamos favorecer essa reflexão foi trazendo um olhar ampliado para o que é a situação de exclusão escolar no meu município. Tem criança passando fome? Tem violência? O que distancia esses estudantes da escola? Ou seja, entender primeiro o que exclui.”

Luciana Marchi Franceschini

Veja o cenário da exclusão escolar no Brasil

Por meio desse processo, que inclui encontros virtuais entre formadores(as) e as equipes dos municípios, além de curso a distância em ambiente virtual de aprendizagem, os 30 municípios participantes refletiram sobre as ações que têm realizado e os possíveis caminhos a serem adotados.

Como não poderia deixar de ser em um país com tanta diversidade regional, as estratégias adotadas foram muitas: visitas domiciliares, adoção de instrumentos de acompanhamento e monitoramento de devolutivas, trabalho intersetorial e em grupo, sorteios para trazer matrículas, parcerias entre municípios etc.

A possibilidade de conhecer e se aprofundar em diferentes estratégias de busca ativa é um dos grandes triunfos do PVE, e que a equipe formadora está sempre atenta em garantir que os municípios participantes possam se beneficiar desse fator. Ao mesmo tempo que ela é uma potência, também traz desafios para a condução da formação, como explica Renata Del Monaco, formadora do PVE:

Foto: arquivo pessoal

Muitos problemas que os municípios enfrentam são semelhantes então eu estimulo muito essa troca. Ano passado conseguimos fazer isso mais vezes, porque estávamos todos no mesmo momento, preenchendo os mesmos documentos orientadores. Este ano tem sido mais difícil, porque cada um está em uma fase. Tenho municípios que começaram o ano letivo em maio de 2021, e outros que conseguiram começar já em janeiro. No geral, eles gostam desses momentos de troca e de escuta, porque podem compartilhar suas experiências ao mesmo tempo que se inspiram e se questionam a partir das ações dos outros.”

Renata Del Monaco

Com a indicação da equipe do PVE, o Portal Cenpec detalha abaixo a experiência de quatro municípios de diferentes estados brasileiros que têm realizado ações distintas e adaptadas à realidade local para garantir o vínculo de estudantes com a escola e combater o abandono escolar.


Informação e formação pelo direito à educação

Para apoiar educadores(as), gestores(as) e redes de ensino neste momento complexo, sistematizamos nossas produções sobre essa temática desde o início da pandemia no Brasil. Confira #EducacaoNaPandemia.


Inspirando-se na experiência de outro município – Angatuba (SP)

Números da educação municipal em Angatuba
– 10 escolas municipais, sendo 5 rurais
– Cerca de 3,5 mil estudantes (70% deles matriculados em escolas urbanas)
– Todas as escolas municipais têm internet
– 41 computadores para uso dos alunos(as)
– IDEB 2019: 7,0 (meta: 6,8)

Dados do Censo Escolar/INEP 2020 (Fonte: QEdu

O que a pequena cidade de Angatuba, no interior de São Paulo, tem a ver com o município paranaense de Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba? A equipe da Secretaria Municipal de Educação de Angatuba encontrou algumas semelhanças, uma vez que foram apresentados ao projeto das Casas Sementeiras que a Secretaria Municipal de Educação da cidade paranaense realiza desde o ano passado.

As chamadas “casas sementeiras” são casas de pessoas da sociedade civil (ou mesmo indústrias e comércios) que se comprometeram a acompanhar a aprendizagem das crianças do seu entorno durante o contexto de ensino remoto. Elas funcionam não só como locais de retirada e entrega dos materiais impressos, descentralizando o papel da escola, mas também como pontos de apoio e identificação de possíveis violações de direitos, já que fazem parte da comunidade escolar.

Foto: arquivo pessoal

Fernando Isao Kawahara, técnico de programas e projetos do Cenpec, explica:

O mais interessante desse projeto é que o primeiro grande objetivo da Secretaria Municipal de Educação não era necessariamente a educação. Era combater a violência. Eles começaram esse trabalho para proteger as crianças nesse contexto de isolamento social.”

Fernando Isao Kawahara

Saiba mais sobre a experiência de Almirante Tamandaré

Greisielle Catarina de Toledo Ribeiro, supervisora de ensino do Ensino Fundamental I da Secretaria Municipal de Educação de Angatuba, explica algumas das semelhanças que a equipe identificou ao ver o vídeo da experiência de Almirante durante uma formação do PVE, no começo deste ano:

Foto: arquivo pessoal

Na escola em que eu trabalhava, algumas famílias buscavam o material na unidade e levavam para outras que moravam perto delas. Em outras unidades, alguns pais pediam para diretores deixar as atividades impressas em comércios, como na padaria. Em outra unidade, nós tínhamos uma parceria com uma senhora que abria as portas da sua casa, algo semelhante às Casas Sementeiras.”

Greisielle Catarina de Toledo Ribeiro

A experiência casava muito com o projeto SOS que o grupo de mobilização de Angatuba chegou a idealizar no ano passado. O projeto pretendia chamar pessoas da comunidade que estivessem dispostas a apoiar de alguma forma o ensino remoto, seja doando dispositivos eletrônicos para estudantes, disponibilizando a internet móvel, auxiliando nas tarefas escolares etc. Com a possibilidade da volta do ensino presencial no começo do ano, o projeto acabou não saindo do papel.

Para Wilson Rodrigo Matos, supervisor de ensino do Ensino Fundamental II, um ponto da experiência das Casas Sementeiras que chamou a sua atenção foi a divisão do município em territórios, o que permite que um olhar específico para as demandas de cada um desses locais. Ainda que Angatuba seja menor que Almirante, o município paulista tem diferentes realidades, como comunidades rurais e mais carentes, e também se preocupa com problemas sociais que algumas famílias sofrem (dependência química, violência, vulnerabilidade social, insegurança alimentar etc.).

Com essas semelhanças em mente, a equipe de Angatuba pediu um encontro com Almirante Tamandaré, para que pudessem conhecer mais a fundo o projeto. A apresentação foi realizada no final de abril, organizada pela formadora do PVE Andreia dos Santos de Jesus:

Foto: arquivo pessoal

Eu já tinha clareza do que seria interessante eles perguntarem e entenderem do projeto, mas sempre faço esse movimento de instigar a equipe técnica a pensar por si mesma o que ela quer e precisa saber. E eles perceberam que o que Almirante nos ensina é como se cria e encadeia ações, e como as coisas estão interligadas. As Casas Sementeiras estão dentro de um processo, ancorada por outros projetos e ações.”

Andreia dos Santos de Jesus

Para Greisielle, foi justamente essa ideia de parceria e de colaboração entre a comunidade e a escola que a atraiu no projeto de Almirante Tamandaré. Mas a forte relação com a comunidade escolar já tem uma construção mais sólida no município paranaense, o que não acontece em Angatuba, como explica Wilson:

Foto: arquivo pessoal

Por morarmos em uma cidade pequena, é muito fácil as pessoas se conhecerem, então as escolas estavam sempre abertas e sempre tivemos muito contato com a comunidade. Porém o momento é delicado, há certas fragilidades e as famílias estão sofrendo em diversos aspectos. Então precisamos tomar cuidado na hora de nos aproximar dessas famílias e a cobrança precisa ser cautelosa.”

Wilson Rodrigo Matos

Entender os detalhes da experiência de Almirante Tamandaré ajudou a equipe a estruturar a sua própria busca ativa e pensar formas de garantir que as atividades remotas cheguem a todos(as) estudantes. Eles começaram a olhar para os materiais didáticos que eram oferecidos e a refletir sobre as atividades disponibilizadas, se podiam ser realizadas pelos(as) alunos(as) em um contexto remoto, sem a mediação e a condução do(a) professor(a). Além disso, a Secretaria tem mantido o controle das devolutivas e frequência dos(das) estudantes nas atividades remotas por meio de uma planilha on-line.

Para a formadora Andreia, essa troca de experiências entre os municípios proporcionada pelo PVE foi benéfica para ambas as partes:

É quando você conta sobre o processo que está vivendo que reflete sobre o que está acontecendo, porque o outro te lança perguntas, tem dúvidas e isso faz com que você pense nas questões que muitas vezes estão sendo realizadas no automático. Para o que escuta, entender a experiência do outro fortalece também aquilo que você já tem e te permite fazer escolhas para atingir aquilo que considera prioritário. Por isso digo que o encontro fortaleceu as duas partes: Almirante, que está vivendo a experiência das Casas Sementeiras, e Angatuba, que pode entender melhor o projeto dentro de um processo e aprimorar a sua experiência local.”

Andreia dos Santos de Jesus

Sorteios para atrair matrículas – Laranjeiras (SE)

Números da educação municipal em Laranjeiras
– 18 escolas municipais, sendo 10 rurais
– Cerca de 3,4 mil estudantes (60% deles matriculados em escolas urbanas)
– 12 escolas municipais têm internet
– 469 computadores para uso dos alunos(as)
– IDEB 2019: 3,7 (meta: 4,6)

Dados do Censo Escolar/INEP 2020 (Fonte: QEdu)

No começo de 2021, quando fez o levantamento da quantidade de alunos(as) matriculados(as) na rede, a nova equipe da secretaria municipal de educação de Laranjeiras (a cerca de 20 km da capital sergipana) percebeu uma grande queda nesses números. Os dados legitimaram uma realidade que a equipe já tinha notado e refletiram os efeitos da perda de vínculos entre os(as) estudantes e a escola.

Segundo Carla Maria Azevedo Machado Pina, técnica pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Laranjeiras:

Foto: arquivo pessoal

Ano passado, nossos(as) alunos(as) ficaram praticamente o início do ano todo sem atividades, já que nós só conseguimos realizar o ensino remoto no segundo semestre, em torno de setembro. Estimulamos que os(as) diretores(as) não perdessem o vínculo com as crianças e alguns professores criaram grupos no WhatsApp com os pais, mas nem todos têm celular. Esse cenário desestimulou muito as famílias, que acabaram retirando seus(suas) filhos(as) da escola.”

Carla Maria Azevedo Machado Pina

Nessa análise, a equipe notou que houve um aumento de matrículas nas redes estaduais e privadas. Além do abandono dos(as) alunos(as), o município enfrentou problemas relacionados ao repasse de verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que está atrelado às matrículas.

Para combater o problema, o município aderiu ao Busca Ativa Escolar do Unicef em fevereiro, montando uma equipe multisetorial que inclui a Saúde e Assistência Social para ir A campo. Essa equipe tem feito visitas domiciliares procurando conhecer quem são as crianças que estão fora da escola e quais os motivos por não estarem matriculadas. “Descobrimos que há, inclusive, muitos adultos que não terminaram os estudos. Isso fez com que abríssemos vagas de Educação de Jovens e Adultos não só para o período noturno, mas também diurno”, diz Carla.

Matrícula Premiada, em Laranjeiras (SE). Foto: reprodução

Em paralelo, o próprio prefeito, após reunião com todos(as) os(as) técnicos(as) da secretaria de educação, propôs outra ação para atrair estudantes: promover sorteios para quem matriculasse as crianças e elas mantivessem uma frequência regular na escola. Batizada de “Matrícula Premiada”, a campanha sorteou ao longo de maio notebooks, bicicletas, kits escolares, tablets, cestas básicas e televisões.

Com todas essas ações, Laranjeiras conseguiu 822 matrículas para o ano letivo de 2021, que se iniciou em maio, totalizando 4.102 alunos(as).

A técnica Carla acredita que essas ações têm sido essenciais para garantir que os(as) familiares entendam a importância da educação:

Embora a lei diga que a criança tem que estar matriculada na escola, no frigir dos ovos, os pais não ligam muito para essas questões. A nossa comunidade é pobre então muitos pensam que é melhor o filho trabalhar do que ir para a escola. Se houver denúncia, eles mandam a criança pra escola; se não chega nenhuma punição, simplesmente ignoram. Os prêmios fizeram com que as famílias vissem algum benefício com a matrícula e utilizamos esse momento para reforçar essa mensagem a elas.”

Carla Maria Azevedo Machado Pina

A Secretaria ainda tem orientado os(as) diretores(as) a conversar com os adultos que vão pegar as atividades escolares e os kits de alimentação não só sobre os(as) próprios(as) alunos(as), mas também sobre se têm conhecimento de outras crianças ou jovens que podem estar fora da escola. Contando com o apoio e o conhecimento da comunidade sobre seu entorno, a Secretaria espera ter mais informações e denúncias dessas possíveis violações do direito à Educação. “A Busca Ativa está também no processo de formação das novas equipes escolares e da Secretaria”, diz Carla.

A formadora do PVE no município, Maria Helena Bertolini Bezerra, vê muito progresso em todo esse processo, principalmente na forma como a Secretaria tem aprendido a se organizar:

Foto: arquivo pessoal

Vejo muito potencial em Laranjeiras, porque a Secretaria agrega muita gente boa e com experiência. Houve um crescimento gigantesco em pouco tempo no sentido da delimitação de papeis e no investimento necessário nessas pessoas para que as ações aconteçam. Se é preciso realizar formação ou fazer parcerias, eles se planejam para que isso aconteça. Toda a equipe tem mais noção do seu papel e, com isso, as coisas estão caminhando.”

Maria Helena Bertolini Bezerra

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Mobilização e articulação intersetorial para manter vínculos – São Félix (BA)

Números da educação municipal em São Félix
– cerca de 1,7 mil estudantes (55% deles matriculados em escolas urbanas);
– 13 escolas municipais, sendo 7 rurais;
– 7 escolas municipais têm internet;
– 9 computadores para uso dos(das) alunos(as)
– IDEB 2019: 4,9 (meta: 4,8)

Dados do Censo Escolar/INEP 2020 (Fonte: QEdu)

Há cinco anos com o programa PVE, o município de São Félix – localizado à margem direita do Rio Paraguaçu, a 110 km de Salvador – sempre teve um grupo de mobilização social muito grande e atuante. O grupo era composto por pessoas de diferentes setores, como conselheiros(as) tutelares e profissionais da área de Saúde. Entre suas ações, estavam atividades culturais em parques e praças públicas (contação de história, distribuição de livros, brincadeiras e jogos antigos, exposição de arte local etc.).

A pandemia também impactou o grupo e suas atividades. Apesar de terem perdido membros, essa equipe se manteve atuante. A diferença foi que, enquanto antes as escolas eram apenas convidadas para participar das ações que promoviam, hoje em dia elas são parte central do trabalho que o grupo tem realizado on-line.

Josi Lima Gonçalves Amorim da Silva, técnica pedagógica do Ensino Fundamental I da Secretaria Municipal de Educação de São Félix, explica

Foto: arquivo pessoal

Antes, nós dávamos mais atenção à comunidade. Hoje, nosso trabalho de mobilização é com a escola. Nós planejamos uma ação, levamos para os gestores e professores, e eles então chamam os alunos para participar. Dessa forma, ela se torna uma ação da escola, e não algo isolado realizado pelo grupo de mobilização. O objetivo é dar voz e vez aos alunos e a todos da comunidade escolar, para que possam expor a sua visão e experiência do ensino remoto.”

Josi Lima Gonçalves Amorim da Silva
Foto: reprodução

Todas as ações são lives e transmitidas pelas redes sociais do grupo de mobilização. No “Papo de vó”, criado por uma professora aposentada do estado e membro do grupo de mobilização, o espaço é aberto para que avós e avôs contem sobre a relação com os(as) netos(as) durante o isolamento social. No “Minha Arte preferida”, os(as) estudantes são estimulados(as) a expor alguma produção artística – pode ser cantar uma música preferida, recitar um poema autoral, mostrar uma pintura etc. No “Lanche divertido”, são apresentadas comidas saudáveis de forma lúdica e com informações nutricionais sobre elas.

Para trazer ainda mais sentido às ações e fortalecer a parceria com as escolas, algumas atividades promovidas pelo grupo de mobilização são incluídas nas apostilas enviadas para casa. É o caso das orientações dadas pelo Programa Saúde na Escola e das contações de história com a Boneca Clara.

A técnica pedagógica Mylene Meyre Gomes Luttigards, que interpreta a personagem, explica:

Foto: arquivo pessoal

A Boneca Clara foi criada para uma participação no projeto Biblioteca em Movimento. Como eu sou da Educação Infantil e gosto de contar histórias, criei essa personagem para trabalhar valores e boas maneiras com as crianças. Eu conto a história e os professores fazem uma atividade pedagógica em cima delas.”

Mylene Meyre Gomes Luttigards

Para Josiane, é fundamental fazer esse movimento articulado com as escolas, para garantir uma participação efetiva. “Partimos da premissa de que quando as pessoas não se sentem parte de algo, elas não se envolvem. Por isso buscamos transferir a responsabilidade e trabalhar junto com os diretores e professores”, conclui.


Trabalho intersetorial

Ainda que o grupo de mobilização incluísse diferentes profissionais, foi com a adesão ao Busca Ativa Escolar que a equipe da Secretaria Municipal de Educação começou a trabalhar mais efetivamente de forma intersetorial.

A formadora do PVE Renata Del Mônaco conta que o município começou cedo a ofertar o ensino remoto, já em março, por meio da oferta de atividades impressa, com o projeto “Aula em casa”. A continuidade da gestão do ano anterior facilitou o trabalho e a reflexão sobre as ações realizadas ano passado.

Em São Félix, existe um lado que é a busca ativa feita pela Secretaria e outro que a prevenção do abandono escolar pelas ações do grupo de mobilização. Apesar de não sofrerem com um percentual significativo de abandono, eles têm o medo da evasão futura e também olham para a recuperação das aprendizagens, pois percebem que há estudantes que tem acompanhado as aulas e forma aquém do desejado.”

Renata Del Mônaco

A coordenação de cada unidade escolar monitora a entrega das atividades remotas e quando o(a) aluno(a) não busca ou não envia a tarefa, a equipe se mobiliza para entrar em contato com a família e entender o motivo pela não participação.

A partir dessa informação, são pensadas intervenções em rede, como explica a secretária municipal de educação Adineia Santos de Jesus Barbosa:

Secretarias - Prefeitura Municipal de São Felix
Foto: reprodução

Temos um estado de vulnerabilidade social muito alto em nossa cidade. Por vezes nos deparamos com familiares que são usuários de drogas ou que sofrem com alcoolismo, ou de alunos com deficiência que não estão recebendo benefícios. Nesses casos, encaminhamos para a assistência social. Em outros casos, as famílias não têm conhecimento suficiente para ajudar o(a) aluno(a) na sua atividade escolar. Então agendamos algum encontro com a equipe pedagógica, para que ela possa orientá-los(las).”

Adineia Santos de Jesus Barbosa
Foto: arquivo pessoal

De acordo com ela, em geral o percentual de não devolutivas fica em torno de 10% dos(as) alunos(as). A equipe da Secretaria credita o baixo número ao acompanhamento frequente, às visitas domiciliares e às intervenções, como explica Conceição Carla Bispo Guedes, técnica pedagógica do Ensino Fundamental II:

Principalmente na zona rural, onde sabemos que é tudo mais difícil, quando as gestoras se disponibilizam a ir até a casa do estudante, elas possibilitam que ele realize suas atividades, mantenha o vínculo com a escola e não a abandone por completo.”

Conceição Carla Bispo Guedes

Adineia complementa, em relação às intervenções intersetoriais: “Com o Busca Ativa Escolar, contamos com profissionais habilitados e qualificados para lidar com algumas questões referentes a outras áreas, trazendo um grande ganho não só para a Secretaria, como para as famílias”.


Acompanhamento de perto e periodicamente nas escolas – Nobres (MT)

Números da educação municipal em Nobres
– 7 escolas municipais, sendo 3 rurais
– Cerca de 1,5 mil estudantes (73% deles matriculados em escolas urbanas)
– Todas as escolas municipais têm internet
– 26 computadores para uso dos alunos(as)
– IDEB 2019: 5,6 (meta: 5,1)

Dados do Censo Escolar/INEP 2020 (Fonte: QEdu)

“É preciso ir às escolas, olhá-las de perto” – era o que aconselhava Andreia dos Santos de Jesus, formadora do PVE, à equipe da Secretaria Municipal de Educação de Nobres ano passado. Como a taxa de contágio no município era baixa, os(as) professores(as) se organizaram para ir até algumas escolas preparar os materiais das atividades remotas, em horários distintos, garantindo a segurança sanitária de todos(as).

Motivadas por essas provocações, a secretária Edilman Conceição Rondon e sua equipe realizaram uma visita a cada uma das unidades escolares no segundo semestre de 2020, para saber como é que a educação remota e os materiais estavam sendo organizados.

A experiência foi boa e acabou sendo repaginada para este ano. Chamada de Comissão de Acompanhamento, o que antes eram só visitas pontuais hoje está estruturada de forma mais constante, como explica Edilene da Silva Campos Rodrigues, formadora de educação infantil e técnica formadora de gestores escolares da Secretaria:

Foto: arquivo pessoal

No primeiro mês, em maio, nós olhamos a questão do alinhamento dos conteúdos, checamos o formato das atividades remotas, a interação on-line e as devolutivas. Nós propusemos encaminhamentos e planejamos o trabalho com os coordenadores das escolas. A partir de agora, nós vamos fazer também um diagnóstico da aprendizagem das crianças e continuar esse acompanhamento.”

Edilene da Silva Campos Rodrigues

A formadora Andreia ressalta a importância dessa mudança e como ela pode fortalecer a rede como um todo, trazendo mais unidade às ações realizadas pelas escolas e garantindo uma visão mais clara do que é urgente que a Secretaria realize para melhorar o trabalho na ponta:

A visita era apenas uma forma de averiguar como as coisas estavam acontecendo, como um check-list. Ao fazer um trabalho de acompanhamento, a Secretaria passa a pensar junto os processos que precisam ser olhados com mais calma. Ela chega com uma pauta prévia, a equipe escolar está preparada para discutir sobre o assunto e apresentar o que tem feito. Dessa forma eles discutem efetivamente a realidade da escola e suas demandas. O acompanhamento fortalece o grupo na perspectiva de um trabalho coletivo e facilita a elaboração dos processos formativos e de gestão pela Secretaria.”

Andreia dos Santos de Jesus

Além desse monitoramento mensal, a Secretaria tem reforçado a mensagem com a equipe escolar gestora da importância de manter o diálogo com os familiares dos(as) estudantes e o controle das devolutivas. O órgão também pretende investir em formação digital para os(as) professores(as) este ano, a fim de que possam realizar atividades on-line com mais conhecimento e recursos. De acordo com a equipe, o município não tem tido problemas com abandono ou evasão escolar.

Foto: arquivo pessoal

Apesar da Comissão de Acompanhamento estar no seu segundo mês de funcionamento, a secretária municipal de educação de Nobres Edilman Conceição Rondon já vê frutos desse trabalho:

Para a nossa surpresa, as aulas tiveram uma melhora significativa já com essa primeira devolutiva. Em uma visita em uma escola rural no final de maio, percebi 80% dos professores interagindo de uma forma mais lúdica com os(as) alunos(as). Voltei muito feliz.”


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