Apoio Pedagógico Complementar: tutorias para recomposição de aprendizagens

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Apoio Pedagógico Complementar: tutorias para recomposição de aprendizagens

Por Breno Procópio

De olho nas especificidades, nos desafios e nas oportunidades que cada município oferece sob a perspectiva do enfrentamento das desigualdades educacionais e construção da equidade, a tecnologia Apoio Pedagógico Complementar (APC) tem realizado tutorias individualizadas.

As duas horas previstas para cada território do Conisul Alagoas foram divididas em dois encontros remotos de uma hora. Na maioria dos municípios, técnicos(as) e pontos focais já participaram desses dois encontros, iniciados em abril.

Foto: arquivo pessoal

De acordo com Maria das Graças Pereira dos Santos Rosa, formadora no APC e responsável pela tutoria do Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento:

A tutoria é mais um canal para sanar dúvidas em relação à construção do diagnóstico inicial do município e levantar pequenas questões que pudessem suscitar uma análise mais problematizada desses dados.”

Maria das Graças Pereira dos Santos Rosa


Tutorias: encontros fortalecem iniciativas e impulsionam trabalhos

As ferramentas de planejamento (Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento) e diagnóstico do APC foram apresentadas a todos os municípios, de forma remota e presencial, nos encontros realizados em fevereiro e março.

Agora, por meio da tutoria, cada município é capaz de avaliar os avanços, as dificuldades e as próprias potencialidades. Mesmo aqueles que ainda não concluíram a fase de diagnóstico têm na tutoria o ambiente facilitador para sanar dúvidas, alinhavar novas perspectivas e metodologias para avançar com as ferramentas. 

Foto: arquivo pessoal

Para Claudênia Ferreira dos Santos, ponto focal em São Sebastião, as tutorias: 

Foram momentos maravilhosos em que a professora Graça nos tirou várias dúvidas, como também nos deu algumas sugestões que contribuíram bastante para o nosso planejamento, para a elaboração do Plano de Ação e aplicação das avaliações diagnósticas.”

Claudênia Ferreira dos Santos

Uma das proposições da tutoria é levar as(os) participantes a analisarem em que etapa do processo eles se encontram. A pergunta “em que momento você acha que o município está?” deflagra, mais do que as inseguranças, os pontos positivos do caminho já percorrido, o que tem grande reflexo no aspecto motivacional das equipes.

Foto: arquivo pessoal

Para Gerlany de Vasconcelos, articuladora de ensino no município de Igreja Nova:

A tutoria permite interagir de forma comunicativa, explanar e ajustar nossas ações ao ensino e aprendizagem, nos motivando a trilhar percursos, com mais credibilidade em nosso potencial e formato de trabalho.”

Gerlany de Vasconcelos

No município de Penedo, a Avaliação Diagnóstica está em fase de conclusão, mas os processos de comunicação e monitoramento das ações iniciais já estão acontecendo.

Foto: arquivo pessoal

Segundo a coordenadora pedagógica Laudeci Melo Santos Caetano, as informações estão sendo repassadas às equipes gestoras, um acompanhamento está sendo feito nas escolas, há os momentos de planejamento coletivo e um olhar atento às práticas de intervenções.

A tutoria possibilitou direcionar e esclarecer dúvidas, socializar experiências e motivar a equipe a buscar qualidade no trabalho. O APC é como uma estratégia de sistematização, socialização e construção coletiva.”

Laudeci Melo Santos Caetano


A análise dos dados para além dos números

Uma das principais abordagens durante as tutorias foi a da problematização dos dados. O que está por trás dessas informações? O que esses indicadores sociais e educacionais apontam? A ação de problematizar e questionar os dados, para além de apenas coletá-los, é o que permite aos municípios ter uma noção real dos problemas que irão enfrentar e, com base nesse conhecimento, traçar planos de intervenção e de recomposição das aprendizagens para enfrentamento das desigualdades.

Como reflete a formadora Maria das Graças:

O diagnóstico não é uma tarefa apenas para ser entregue. A todo momento ele vai te dar dados e evidências dos problemas com os quais você está lidando, que ações estão sendo desenvolvidas e se essas ações estão surtindo efeito, ou se é preciso fazer uma correção de rota, reformular este rumo, ajustar e diferenciar intervenções.”

Maria das Graças Pereira dos Santos Rosa

No município de São Sebastião, a Avaliação Diagnóstica foi realizada no período de 4 a 11 de maio e os resultados foram analisados junto à equipe de coordenadoras(es) das escolas. Alíson Wagner dos Santos, técnico que participou das tutorias, destacou os aspectos positivos desses encontros: 

Foto: arquivo pessoal

A partir da tutoria, nós ficamos mais confiantes e isso fez com que a gente conseguisse acelerar o processo de aplicação das avaliações. Fizemos o levantamento do número de estudantes com mais dificuldade. Iniciamos a comunicação através de momentos formativos com (as)os coordenadoras(es) pedagógicas(os), identificando e propondo melhorias no de ensino e aprendizagem. Elaboramos o Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento em sua versão preliminar.”

Alíson Wagner dos Santos

Em São Brás, as avaliações diagnósticas também foram concluídas e o questionário de perfil das(os) estudantes já foi aplicado em quase todas as escolas. Maria Simone de Andrade, técnica pedagógica do município, participou dos encontros de tutoria e destacou o quanto eles foram importantes para a elaboração e aplicação do questionário de perfil.

A técnica apontou alguns dados iniciais, levantados a partir de uma análise preliminar dos indicadores obtidos com as avaliações e questionários de perfil. O que mais chamou a atenção da equipe foi o número de estudantes que apresentaram características compatíveis com o transtorno do espectro autista.

Foto: arquivo pessoal

Atualmente temos um grande número de estudantes com autismo. Percebemos isso através dos levantamentos que temos feito. Quando a gente vai às escolas, conversa com a(o) professora(or), com os pais… nessas conversas a gente também percebe esse dado. Eu não sei se antigamente a gente já tinha esse número de estudantes e não enxergávamos, e hoje temos uma visão mais ampla sobre isso.”

Maria Simone de Andrade

Atentas aos primeiros resultados dos diagnósticos, as equipes já pensam em como trabalhar as aprendizagens e recomposição com esses estudantes, fazer o monitoramento e buscar parcerias para proporcionar a todas(os) uma educação de qualidade com equidade.

Nesse sentido, a construção da linha de base, que reúne dados cognitivos, sociais, culturais, de saúde etc. de cada estudante, somados às condições do município, torna mais fácil identificar possíveis parcerias. É nisso que a equipe aposta para ajudar as(os) alunas(os).

“Buscaremos parcerias com a Secretaria da Saúde para nos ajudar no diagnóstico correto destas(es) estudantes, assistência e acompanhamento psicológico para elas(es) e as famílias; a assistência social dependendo do caso”, afirma Maria Simone.

A proposta de análise e problematização dos dados está diretamente relacionada à metodologia do APC, que disponibiliza aos municípios do Conisul Alagoas materiais de apoio, um deles, inclusive, relacionado ao conteúdo abordado nessas tutorias.

Um dos protocolos do APC  inclui uma proposta de problematização a ser realizada sobre as informações do diagnóstico. Entre as perguntas orientadoras, estão as seguintes:

  • O que chama a atenção quando se observam os dados relativos ao abandono, à reprovação e à distorção idade-ano?
  • Qual o perfil das(os) estudantes que apresentam as maiores dificuldades de aprendizagem (cor/raça/sexo; histórico escolar de reprovações, abando e distorção)?
  • A quais causas/fatores são atribuídas essas dificuldades?
  • Quais instrumentos de acompanhamento pedagógico as escolas têm utilizado para acompanhar e apoiar essas(es) estudantes?
  • Em quais escolas os resultados de desempenho são mais baixos?
  • Em quais escolas os resultados são mais altos?
  • Qual é o perfil dessas escolas?
  • Qual é o perfil socioeconômico delas e de suas localidades?

Essas questões demandam não apenas uma análise mais minuciosa dos dados, mas deixam claro o quanto é importante  o envolvimento de todas as instâncias para o processo de intervenção e superação das desigualdades.


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