APC: avaliação e planejamento são peças chave para garantir avanços

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APC: avaliação e planejamento são peças chave para garantir avanços

As ações do APC em 2023 tiveram início com foco no planejamento e na garantia ao enfrentamento das desigualdades educacionais

Por Débora Britto

Fortalecer as ações no chão da escola, qualificar cada vez mais professoras(es) e garantir ferramentas que permitam conhecer mais e melhor as(os) estudantes que precisam de apoio na recomposição de aprendizagem são os objetivos para o terceiro ano do Programa Eleva Aprendizagem, com a implementação da tecnologia Apoio Pedagógico Complementar (APC).

Para isso, planejar é essencial, bem como realizar bons diagnósticos. É a partir desses eixos que as atividades do ano tiveram início. Com três encontros realizados ao longo de março, nos dias 14, 21 e 22, as participantes mergulharam nos desafios e próximos passos dos eixos de Avaliação e Planejamento, que tem previstos uma avaliação diagnóstica, a reformulação do Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento (PACM) do Programa Eleva Aprendizagem e o desenho do Plano de Formação de Professoras(es). 

Graça Rosa, tutora e formadora do eixo Planejamento, explica que os dois eixos estão conectados e precisam caminhar juntos. “Existem duas avaliações, a primeira do programa refere-se ao diagnóstico do desempenho e a segunda envolve levantar o perfil dos(as) estudantes com maiores dificuldades de aprendizagem. É assim que vamos dar identidade a esses números. Não se trata apenas do desempenho na prova, eu preciso saber quem são, onde moram, quais são as condições de aprendizagem e acesso à saúde. Preciso saber sobre eles(as) na integralidade. Assim vou entender o que precisam para apoiar a recomposição de aprendizagem desse grupo“, explica.

Em seguida, a reformulação do PACM e a construção detalhada do Plano de Formação de Professoras(es) são atividades que demandarão um olhar atento para verificar o andamento das ações e, se preciso, ajustar o curso.

Foto: acervo pessoal

O plano de formação já era uma proposta de 2022. Agora, o que precisa ser feito é entender se teve como monitorar a ação. Tive como acompanhar ou como promover o plano de formação docente? O que a gente quer é uma qualificação dessas(es) professoras(es). Quando a(o) estudante for para o atendimento, precisa entender que não é porque ele(a)precisa de um apoio, que não tem potencialidades. É preciso ter uma abordagem diferenciada para ajudar a recompor aprendizagem“, destaca. 

Graça Rosa

Diferente da recuperação, que é quando se pretende recuperar alguma coisa ou conteúdo dado, falar em recompor aprendizagem  significa dizer que trabalharemos assuntos que as crianças não viram. Por isso, é necessário trabalhar com um olhar e estratégias diferenciadas. O Plano de Formação é importante nesse sentido, reforça Graça. 

As formações realizadas em março focaram nos eixos de avaliação e planejamento, centrais para estruturar as ações dos municípios, e dar o pontapé nas atividades do ano. Ao longo do ano, o percurso formativo vai contemplar quatro eixos, dando continuidade à implementação da tecnologia do APC pelas equipes das secretarias à comunidade escolar:

Planejamento: mobilização da colaboração na (re)elaboração do Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento do Programa Eleva Aprendizagem .

Avaliação: apoiar tanto o diagnóstico, a definição de metas e o acompanhamento das aprendizagens em Língua Portuguesa e Matemática, como a definição e acompanhamento do perfil dos(as) estudantes com dificuldades de aprendizagem.

Língua Portuguesa/Alfabetização: fortalecer e subsidiar percursos formativos destinados às necessidades das professoras e dos professores em relação ao desenvolvimento das competências leitora e escritora.

Matemática: fortalecer e subsidiar percursos formativos destinados às necessidades das professoras e dos professores em relação ao desenvolvimento do letramento matemático.

Com relação à avaliação, os primeiros passos deste ano dizem respeito à realização do diagnóstico inicial e à aplicação do questionário de perfil de estudantes. No eixo de planejamento, o foco no PACM traz outros desafios, que serão trabalhados de perto com o acompanhamento pelas tutorias, que a partir deste ano terão maior peso nas atividades. 

Sendo o terceiro ano do Programa Eleva Aprendizagem, no Consórcio Intermunicipal do Sul do Estado de Alagoas (Conisul), garantir a continuidade e o envolvimento dos pontos focais são também desafios a serem enfrentados. 

Érica Catalani, coordenadora do APC pelo Cenpec, destaca que, apesar dos desafios, o consórcio tem um histórico de grande capacidade de mobilização e ações que possam fortalecer o engajamento dos pontos focais já estão sendo organizadas.

Foto: acervo pessoal

Nossa expectativa está alinhada ao grande compromisso desse território com a melhoria das aprendizagens. Tanto as ações que serão discutidas com o Núcleo de Implementação do Conisul quanto as tutorias e encontros presenciais serão importantes para conferir maior sustentabilidade ao Programa Eleva Aprendizagem e à construção do Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento para 2023″, aponta. 

Érica Catalani, coordenadora do APC pelo Cenpec


Garantir aprendizados para uma política pública 

A experiência acumulada da tecnologia do APC tem mostrado resultados que já são palpáveis no chão da escola. Um dos exemplos compartilhados na última formação  foi o de uma criança que, questionada sobre seu cabelo crespo, respondeu afirmando com orgulho suas origens e valorizando as suas características, de uma menina negra. 

Essa partilha se deu no contexto dos debates sobre como o clima escolar é determinante para criar espaços em que a recomposição da aprendizagem e a educação antirracista sejam preocupações aliadas para promoção da aprendizagem nas escolas, sem reforçar estigmas ou segregarr as crianças.

Graça lembra que temos 20 anos da Lei 10.639/03, que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas brasileiras, mas ainda temos muitos desafios na sua implementação em todo território nacional

Assim como essa lei, ela entende que os passos para fortalecer o APC parte importante de uma política pública para recomposição de aprendizagens e superação das desigualdades educacionais estão sendo trilhados. 

A ideia do clima escolar nos anos iniciais é preventiva. Isso é importante para essas(es) meninas(os) terem voz e vez, que elas(es) mesmas(os) suscitem diálogos para que não cheguem a extremos. Isso colabora para entender que não é um estigma alguém participar da recomposição de aprendizagem fora do horário de aula. A ideia de trabalhar clima escolar é abrir espaços de diálogos, de troca de ideias, para se sentirem amparadas(os) a apresentar suas ideias, entender e aceitar o diferente, e desnaturalizar os bullyings. Para isso, temos essas leis para apoiar e as ações no chão da escola.”

Graça Rosa

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Ccomo, então, garantir que os aprendizados fruto do APC fortaleçam a construção de políticas públicas? Érica destaca dois caminhos centrais para começar a responder a essa pergunta-chave: fomentar a participação democrática e ter um olhar para uma política pública para além de gestões e governos.

Como ela explica, o primeiro compromisso para evitar que uma política pública fique pelo caminho é a participação democrática: “Essa política precisa dialogar com os anseios de todas as pessoas envolvidas, precisa atender às dores e aos problemas vividos por elas e eles. Nesse caso os princípios da gestão democrática, da transparência e do combate às desigualdades são essenciais. Fazer junto contribui para laços de confiança, pertencimento e para a construção das corresponsabilidade”, diz Érica Catalani, coordenadora do APC pelo Cenpec.

O segundo compromisso é decorrente do primeiro e se refere ao olhar cuidadoso para que o Programa Eleva não seja encarado como uma política de governo, ou seja, uma política temporária, decidida sem a participação social, sem bases institucionais e sociais de acompanhamento bem definidas. 

Os diálogos, as ações e os indicadores de acompanhamento do APC fomentam a construção de uma política de estado, que envolve mais de uma instância de discussão, mais propícia às mudanças de normas e de práticas preexistentes. Esse é um grande desafio e que não pode ser enfrentado de maneira isolada, por isso, em nossa atuação com as(os) técnicas(os) da secretaria, estimulamos a implementação de ações sistêmicas entre a gestão central, gestão das escolas, docentes e comunidade escolar além de ações intersetoriais, com o envolvimento de outras secretarias e setores sociais“, complementa.  

Érica Catalani, coordenadora do APC pelo Cenpec


Troca de experiências e fortalecimento de redes

Para Edvânia Lessa, ponto focal do município Piaçabuçu, um aspecto inspirador das formações é a oportunidade de trocas experiências com outros municípios e aprimorar as práticas pedagógicas dialogando sobre os desafios e possibilidades em conjunto

Foto: acervo pessoal

Na formação a gente troca muitas experiências de cada município. Então cada município tem o seu instrumento e com a formação a gente está aprimorando. Estamos reformulando, replanejando, e reconstruindo esses instrumentos que servirão para as necessidades formativas das nossas crianças e das(os) nossas(os) professoras(es). Os encontros nos oferecem esse mapeamento e orientação para o bom percurso formativo.” 

Ao longo das formações, as conexões também têm colaborado para o fortalecimento de ações em colaboração entre os municípios, que é um dos objetivos do APC. 

“Uma expectativa é colaboração, a união e o engajamento dos 17 municípios que fazem parte do Conisul, visando a elevação dos bons índices para uma educação igualitária, equitativa, com acesso e com a permanência e sabermos que estamos devolvendo a dignidade para a nossa sociedade. Com essa questão dessa defasagem, muitas crianças ficaram para trás e a gente precisa devolver essa dignidade”, defende Edvânia.  


Tutorias: como contemplar realidades diferentes

Para além das pontes necessárias e do fortalecimento de redes, cada município tem especificidades que podem surgir como dúvidas e incertezas na construção dos planos de formação e no PACM. Pensando nisso, neste ano as tutorias, que já aconteciam, ganham um novo formato, com objetivo de garantir mais tempo de acompanhamento individualizado, mas não isolado. 

“Esse ano estamos incentivando e propondo um número maior de tutorias para acompanhar as secretarias. Temos uma proposta de ser transversal sobre o Plano de Ação, Comunicação e Monitoramento (PACM) e sobre os desdobramentos dele. A Secretaria propôs um plano, mas na hora de colocar em prática pode ter dúvidas e desafios. A tutoria é o acompanhamento mais específico, caso a caso“, explica Graça. 

Além das formações, as tutorias podem ser o espaço em que os principais desafios do APC ganhem contornos mais específicos, a partir de cada realidade. Nesse ponto, a ideia está conectada a um dos objetivos e princípios da tecnologia: melhorar a aprendizagem com equidade. 

O grande desafio da APC é como melhorar a aprendizagem com equidade. Podemos melhorar e deixar de fora meninas e meninos que mais precisam. As crianças negras, as que moram longe, as que têm questões de saúde… A ideia é pensar sobre como deixamos de fora algumas pessoas no processo educativo. Quem fica para trás?”, questiona Graça, e complementa: “As tutorias são indiretas, com as equipes das secretarias, mas espero que isso esteja chegando nas(os) professoras(es) ao longo do ano, como tratar essas questões.”

Graça Rosa, formadora do eixo Planejamento e tutora

Portanto, um plano bem desenhado precisará ter em conta como associar as teorias trabalhadas às dinâmicas próprias de cada território.

A gente vai ter que pensar como promover equidade e apoiar todas e todos, por isso a recomposição de aprendizagem é tão importante para os anos iniciais. A gente precisa conhecer as crianças e saber como atender com equidade e qualificar as práticas do território e atender as meninas e os meninos“, pontua Graça. 


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