Webinário marca um ano do APC no Conisul Alagoas

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Webinário marca um ano do APC no Conisul Alagoas

No encontro virtual foram abordadas principalmente as desigualdades educacionais potencializadas pela pandemia e a importância da construção colaborativa de um currículo que respeite as especificidades de cada território.

Por Breno Procópio

Acredito muito no poder da transformação e da emancipação. A única coisa irreversível foram as perdas de vidas. Não é irreversível a possibilidade de recompor de onde paramos. Acho que vai ser um processo letárgico, demorado, processual, mas possível“.

A afirmativa é do mestre e doutor em educação e professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Francisco Thiago Silva, que proferiu a palestra “Currículo e desigualdades: desafios e possibilidades no trabalho pedagógico”, como parte da programação do webinário “Eleva Aprendizagem: juntos superando as desigualdades educacionais do Conisul”. 

O evento on-line, transmitido no dia 13/12, proporcionou não apenas um momento celebrativo, mas também de questionamentos, reflexões e avaliação deste primeiro ano de implantação da tecnologia educacional Apoio Pedagógico Complementar (APC) nos 17 municípios do Consórcio Intermunicipal do Sul do Estado de Alagoas (Conisul).


Currículo

Foto: reprodução vídeo

O currículo não pode ser reduzido a índices: currículo é conhecimento, é democrático. Todo mundo tem que participar da sua elaboração”.

Francisco Thiago Silva, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)

Entre as várias colocações, o professor Francisco destacou a importância da valorização dos conhecimentos das comunidades locais na elaboração do currículo. A forma como ele é estruturado pode ser determinante para minimizar ou acentuar os níveis de desigualdade.

É necessário que o estudante se identifique com a escola, com o conteúdo proposto. Cabe à comunidade escolar achar o ponto de equilíbrio entre o conhecimento/currículo local e o conhecimento/currículo nacional proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Outro destaque é que a rotina pedagógica não deve ser delimitada em função das avaliações. Ainda que o resultado delas seja um dos fatores determinantes para conhecer os déficits de aprendizagens de cada estudante, a prática pedagógica precisa passar por todas as áreas do conhecimento.

O papel social da escola é garantir que o conhecimento científico não apenas seja transmitido, mas, sobretudo, que seja um agente transformador de realidades, possibilitando, como frisou o professor Francisco, a tão sonhada “emancipação e melhoria de vida social”.


Desigualdades educacionais

Para vencer as desigualdades que a pandemia nos impôs, a gente tem que falar de recomposição dessa desigualdade. Recompor é restituir de onde parou, recomeçar”.

Francisco Thiago Silva, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)

O tema das desigualdades educacionais foi amplamente abordado durante o seminário, com apresentação de índices/estatísticas que ressaltam essas desigualdades no âmbito das regiões do território brasileiro e no contexto das classes sociais.

Para se ter uma ideia do panorama apresentado pelo professor:

– No Distrito Federal, 42% das escolas públicas dispunham de internet para o ensino remoto no período pandêmico, já em Rondônia, apenas 0,5% das escolas tinham internet;

– Entre as(os) estudantes com maior renda, quase 40%, e a maioria na escola privada, voltaram a ter aula presencial em julho de 2021. Entre os mais pobres, apenas 16% voltaram neste mesmo período às salas de aula.

Em um cenário que impactou na evasão, abandono escolar e distorção idade-série, os desafios não serão contornados de imediato. A recomposição das aprendizagens, proposta que vem sendo desenvolvida pelo APC no Conisul, é um dos caminhos apontados pelo professor.


Eleva Aprendizagem: juntos superando as desigualdades educacionais

Nos municípios do Conisul, o APC também é conhecido como Eleva Aprendizagem. A implantação dessa tecnologia educacional no território é fruto da parceria entre o Itaú Social, Conisul e Cenpec desenvolvida por meio do Programa Melhoria da Educação.

Claudia Petri, coordenadora da área de implementação regional do Itaú Social, lembrou que desde 1999 o programa tem contribuído para a melhoria da qualidade da aprendizagem em vários municípios. E ressaltou os aspectos positivos deste primeiro ano de caminhada no Conisul:

Foto: acervo pessoal

Nós estamos muito felizes com os resultados que conseguimos atingir esse ano. O diagnóstico foi feito, em Língua Portuguesa e Matemática, para mais de 22 mil alunos. Então, a gente está terminando o ano de uma forma muito positiva, com bons resultados e dizendo que a gente continua em 2023, nessa parceria potente com os 17 municípios do Conisul.”

Claudia Petri, coordenadora da área de implementação regional do Itaú Social

Já a diretora executiva do Cenpec, Beatriz Cortese, destacou:

Foto: acervo pessoal

Nós do Cenpec estamos tendo a oportunidade de cumprir o nosso propósito que é reduzir as desigualdades educacionais. A gente sabe o quanto a pandemia agravou o cenário de desigualdades e exigiu que todos nós, especialmente os educadores responsáveis pela educação pública, reorganizássemos as ações de combate à cultura do fracasso escolar. Com tudo isso, a gente percebeu a importância de um trabalho coletivo, de um trabalho intersetorial. Em nome do Cenpec, parabenizo cada equipe de cada município e desejo que esse percurso continue sendo trilhado com muita colaboração.” 

Beatriz Cortese, diretora executiva do Cenpec

A coordenadora de projetos do Cenpec, Érica Catalani, fez um breve resgate do que é o APC e dos principais eixos norteadores trabalhados em 2022. Falou da importância e necessidade do processo colaborativo entre secretaria, gestão escolar e docentes, e como isso já tem dado resultados.

Se ainda a gente tem muito para caminhar em direção ao enfrentamento das desigualdades, também podemos perceber que as ações já estão sendo trilhadas e implementadas. Já estamos na direção da promoção da equidade que é tão desejada. Todo esse percurso só é possível porque há um grande engajamento não só das equipes técnicas, mas também de toda a equipe do Itaú Social, da equipe do Conisul e outras instituições parceiras.”

Érica Catalani, coordenadora de projetos do Cenpec


Caminhos trilhados em 2022 

Abaixo, a partir das experiências e realidades particularizadas de cada município, seguem alguns relatos de técnicas(os), gestoras(es) e secretárias(os) apresentados no webinário. Uma breve análise do primeiro ano de atividades do APC no Conisul.

A íntegra do webinário você pode conferir no Canal do Conisul no Youtube. Clique aqui.

Márcia Soares – Barra de São Miguel

“No 3º ano, em Língua Portuguesa, no primeiro ciclo de avaliações diagnósticas formativas, nós tínhamos 7% dos nossos alunos no nível muito baixo e 15% no nível alto. No terceiro ciclo (de avaliações), percebemos que nós não temos mais nenhum aluno no nível muito baixo. E hoje temos 18% no nível alto. É um resultado bem concreto desse trabalho que vem sendo feito desde o início do ano. Tenho absoluta certeza de que no próximo ano vamos alcançar ainda melhores resultados.”

Sandra Maria dos Santos Ribeiro – Secretária Municipal de Educação de São Sebastião 

“No meu município, o número de alunos atendidos para as atividades de reforço, identificados lá no diagnóstico que fizemos, a maioria já saiu do reforço. Esse é um resultado fruto de um trabalho colaborativo, participativo e de uma orientação pautada em um diagnóstico de rede.”

Tereza Feitoza – Teotônio Vilela

“Embora tivéssemos algumas políticas de atendimento aos estudantes que apresentam dificuldades de aprendizagem, não acompanhávamos os dados estatísticos sobre as desigualdades educacionais, não tínhamos um diagnóstico de perfil dos estudantes. Foi a partir da experiência com o APC que pudemos observar quem são esses estudantes que apresentam dificuldades, seu histórico escolar de reprovação, de abandono, de cor, raça, das condições socioeconômicas, entre outros aspectos, e a partir daí planejarmos as ações para a recomposição dessas aprendizagens, que garantam a superação das desigualdades.”

Claudênia Ferreira – São Sebastião

“Formamos turmas no contraturno em Língua Portuguesa e Matemática para aqueles alunos que apresentaram nível baixo e muito baixo. A partir daí, passamos a monitorar a aprendizagem desses estudantes e vimos que valeu muito a pena. De 720 estudantes, 534 já estão sendo atendidos. E temos certeza de que até 2024 alcançaremos o nosso objetivo com excelência.”

Márcia Nascimento – Secretária Municipal de Educação de Campo Alegre

“O APC está sendo desenvolvido em nove escolas e tem trazido grandes resultados para esse município, contribuindo efetivamente com o processo de ensino-aprendizagem e garantindo a qualidade da educação pública”

Luciano Barros Lucena – Secretário Municipal de Educação de Penedo

“Nós da educação de Penedo só temos a agradecer pelo apoio das equipes, tanto do Itaú Social como Cenpec, que em forma de parceria vem contribuindo para a melhoria da educação em nosso município. Aproveito a oportunidade para pedir que todos os professores, gestores, equipes técnicas dos 17 municípios envolvidos nesse projeto participem. Com certeza os resultados irão ser satisfatórios.”

Estela Celina – Coordenadora da Câmara Técnica do Conisul e Secretária de Educação de Barra de São Miguel

“O Conisul foi agraciado com o Programa Melhoria da Educação durante quatro anos. Esse programa é fantástico. É muito importante elevarmos a aprendizagem dos nossos alunos dos 17 municípios do Conisul. Gratidão aos dirigentes municipais por todo o apoio, aos gestores das escolas e a todos que vêm participando. O momento é realmente de agradecer, pedir apoio, pedir que no próximo ano tenha a continuidade do Eleva Aprendizagem.”