Cenpec lança Painel de desigualdades educacionais no Brasil

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Cenpec lança Painel de desigualdades educacionais no Brasil

Com análises e contextualizações históricas realizadas pela organização, o painel interativo busca democratizar o acesso aos dados acerca das desigualdades educacionais para toda sociedade; saiba mais

Por Stephanie Kim Abe

Para sonhar, projetar e construir equidade e qualidade educacional para crianças, adolescentes e jovens de todo o Brasil, o Cenpec atua com foco no enfrentamento das desigualdades educacionais. É em consonância com esse propósito que a organização lançou hoje, 16/9, o Painel de desigualdades educacionais no Brasil, durante o evento on-line e gratuito Desigualdades educacionais em foco.

Elaborado pelo próprio Cenpec, o painel interativo traz dados e análises sobre essas desigualdades de forma dinâmica e simples. Romualdo Portela de Oliveira, diretor de Pesquisa e Avaliação do Cenpec, explica:

Professor Romualdo Portela
Foto: reprodução

Nosso objetivo é sistematizar informações que já estão disponíveis e públicas, mas que nem sempre são de fácil acesso ou compreensão ao público geral. Queremos ajudar famílias, estudantes, professoras(es), gestoras(es) educacionais a interpretar esses dados, para que possam tomar consciência de que é preciso enfrentar as desigualdades educacionais para efetivarmos o direito à educação de todas e todos. Assim, o Painel é mais uma ferramenta desenvolvida pelo Cenpec alinhada ao nosso foco – que é de refletir sobre e combater essas desigualdades para promover a equidade na educação.”

Romualdo Portela de Oliveira

Acesse o Painel de desigualdades educacionais no Brasil

Assista ao evento de lançamento do Painel:


Dados iniciais

Neste primeiro momento, os dados disponíveis no Painel estão divididos em duas grandes entradas. A primeira, Resultados de permanência escolar em diferentes contextos, traz informações sobre três barreiras educacionais:

  • reprovação;
  • distorção idade-série;
  • abandono escolar.

A distorção idade-série ocorre quando o(a) estudante está pelo menos dois anos acima da idade considerada ideal em relação ao ano ou à série escolar. O abandono ocorre quando o(a) estudante deixa de frequentar a escola durante o ano letivo.

Painel de desigualdades educacionais - Distorção idade-série conforme sexo
Painel de desigualdades educacionais – Distorção idade-série conforme sexo

Esses dados são apresentados em uma série histórica, de acordo com filtros de perfil do estudante (sexo e raça/cor declarados), contexto escolar (dependência administrativa, etapa de escolarização e série escolar) ou contexto do território (unidades da federação e localização rural ou urbana). Com base nesses marcadores, é possível ter uma dimensão do progresso no sistema de ensino e como esses fenômenos produzem e perpetuam as desigualdades educacionais.

Por exemplo, relação a sexo, os dados mostram que há mais meninos do que meninas em reprovação, distorção idade-série e abandono escolar. Em relação ao recorte de raça/cor, esses fenômenos também são mais recorrentes entre crianças e adolescentes autodeclarados(as) indígenas, pretos(as) e pardos(as). Quando acionamos o filtro de território, nos deparamos com maior incidência das três barreiras nas áreas rurais – embora as urbanas apresentem número absoluto maior de matrículas.

Confira também o estudo Enfrentamento da cultura do fracasso escolar (Cenpec/UNICEF)

A segunda entrada, Formação inicial docente no Brasil, permite entender a formação dos(as) professores(as) em relação à série que leciona. Aqui, os dados são apresentados por estados, municípios e escolas, etapas de ensino e localização. Ao selecionar um município, temos acesso ao número de docentes com ensino superior com licenciatura, ensino superior sem licenciatura, ensino médio com magistério, ensino médio sem magistério e apenas ensino fundamental. Esses dados podem ser comparados à média do estado e do Brasil.

Um bom exemplo da importância de conhecer e considerar esses dados na hora de pensar estratégias para efetivar o direito à educação é a própria atuação do Cenpec no enfrentamento dessas desigualdades educacionais. Romualdo Portela de Oliveira explica essa relação direta entre as informações disponibilizadas no Painel e as ações da organização:

Alguns dos nossos projetos incidem muito fortemente sobre os dados de resultados de permanência escolar. É o caso do Apoio Pedagógico Complementar, um programa muito forte e consolidado em aceleração de aprendizagem, ou do Letra Viva Alfabetiza, projeto de alfabetização que enfrenta o não aprendizado, a reprovação e o abandono escolar. Do outro lado, os dados relacionados à situação dos(das) professores(as) são a base para a construção de um bom diagnóstico que ancora as nossas ações de formação docente – grupo focal da maioria dos nossos projetos.”

Romualdo Portela de Oliveira

Saiba mais sobre a atuação do Cenpec para promover a equidade na educação


Análises do Cenpec e outras informações

Painel de desigualdades educacionais – Cenpec comenta

Além de oferecer acesso mais amigável aos dados, sobre desigualdades na educação pública brasileira o Painel traz análises referentes a cada um dos filtros disponíveis. Essas análises, apresentadas nos boxes “Cenpec comenta”, trazem interpretações dos dados referentes às barreiras educacionais expostas no material. 

Como explica a pesquisadora Valéria Virgínia Lopes, doutora em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que colaborou na elaboração do Painel:

A ideia é que, para quem tem dificuldade em ler o gráfico, o comentário possa dar pistas na interpretação de dados e de como usar esse entendimento para obter outros resultados.”

Valéria Virgínia Lopes

Há também análises sobre o contexto histórico das desigualdades educacionais e uma seção sobre políticas públicas comprometidas com a reversão desse cenário, que traz informações sobre o foco da política, sua importância e seu contexto atual, incluindo links para o acesso a maior detalhamento.

Enquanto gestores(as) e tomadores(as) de decisão podem utilizar o Painel ao pensar políticas públicas e intervenções que visem a eliminação dessas barreiras educacionais, a comunidade escolar e a sociedade como um todo precisam compreender esse cenário e como ele as afeta diretamente, para se mobilizar por mudanças e pela garantia do direito à educação de qualidade para todas e todos.

Para Valéria, essa apresentação amigável dos dados e as pílulas de análises proporcionadas pela equipe de especialistas do Cenpec são essenciais para atingir esse objetivo:

Foto: arquivo pessoal

É necessário que a sociedade se incomode com esses números e resultados. Precisamos desnaturalizar esses fenômenos da reprovação, da distorção idade-série e do abandono escolar. Não há explicação possível, por exemplo, para que indígenas e autodeclarados(as) pretos(as) e pardos(as) reprovem mais e abandonem a escola, a não ser o racismo estrutural. O Painel traça um retrato desse cenário de desigualdades educacionais, que é insustentável.”

Valéria Virgínia Lopes

Aprimoramentos 

O Painel de desigualdades educacionais no Brasil seguirá sendo aprimorado ao longo do ano. A ideia é introduzir mais possibilidades de filtros e de cruzamento de dados, além do aporte de outras informações de modo a se aproximar cada vez mais de um bom retrato das desigualdades educacionais. É o caso dos dados de condições de funcionamento das escolas, que estão disponíveis no Censo Escolar, e de proficiência dos(das) estudantes, por meio dos últimos resultados da Prova Brasil.

Assim, será possível cruzar marcadores, como os de gênero e raça/cor. Poderemos saber, por exemplo, não só quantas meninas estão em distorção idade-série, mas quantas meninas pretas e pardas estão nessa situação em uma determinada localidade. Como explica Romualdo Portela de Oliveira:

Uma vez finalizado o Painel, poderemos cruzar os dados de forma que fique evidente a sobreposição das desigualdades. Isso significa que as parcelas mais pobres, mais excluídas da população, que vivem nos chamados territórios mais vulneráveis, frequentam escolas que têm piores resultados, cujos(as) professores(as) têm formação menos adequada em relação a outras regiões e cujas condições estruturais de funcionamento são mais precárias. Ou seja, as desigualdades não se distribuem aleatoriamente. Elas atendem certa lógica social, que é preciso combater. Por exemplo, àquelas crianças que já têm mais dificuldade, o sistema deveria oferecer professores(as) mais bem formados(as).”

Romualdo Portela de Oliveira

Também está prevista a abertura da Comunidade de ações para a equidade, um espaço colaborativo em que docentes, gestoras(es) escolares estaduais e municipais, pesquisadoras(es) e outros(as) possam compartilhar e discutir iniciativas e propostas para o enfrentamento das desigualdades na educação brasileira.

Navegue pelo Painel interativo e participe desta iniciativa pela garantia do direito à educação de qualidade para todos(as)!


Na mídia

  • Confira a seguir trecho da RBS TV sobre o lançamento do painel:
  • Confira a entrevista de Romualdo Portela de Oliveira ao programa Cidadania, da TV Senado, sobre as análises do Painel.


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