Essa minha descoberta aconteceu em Lavrinhas, lá perto e bem perto de Cruzeiro do Sul, ao norte de todas as minhas revelações. Dia sim, dia não, de manhã ou de tarde, nunca deixo de ir lá. Cultivo a minha descoberta, é um trabalho de jardinagem. De palavras.
A minha descoberta se chama Telma e, como um nome está dentro de todos os nomes, atende pelo chamado só de professora. Ela se sente sempre chamada pelas crianças e pelos personagens que ela inventa. A professora Telma quase não tem mais nome, nem precisa, ela é professora.
Imagem: Fotolia.
As palavras se embaralham, brincam e jogam com outras palavras, a vida se descobre todo dia, às vezes se encanta, às vezes se assusta. Essa minha descoberta não é só minha, é da professora, mas aqui ninguém é dono de nada, é proibido mandar no reino de todas as coisas e no reino de coisa nenhuma. É um lugar de coisas grandes e pequenas, todas do mesmo tamanho, do tamanho do céu e das curvas de uma ideia, do pensamento das palavras. Essa é outra descoberta da professora, é ela.
Um dia é dia de sol, outro dia é dia de chuva, todo dia é dia de gente, de dores e de alegrias. E as dores são bem-vindas, as alegrias esperadas, o que conta é o que não se obriga. Tudo acontece e tem dia que acontece tanta coisa que é preciso esquecer para guardar o lugar da próxima descoberta.
A palavra preferida da professora Telma é inventário. Penso comigo que é porque ela gosta de inventar coisas para sempre. E as crianças entram nessa outra descoberta e ficam inventando o que parece que não existe na cabeça das outras pessoas, mas existe dentro de um livro. E dentro da vida, que é melhor ainda.
Um dia desses, uma criança mais atrevida olhou dentro da palavra professora e achou o nome dela, um outro nome. Não disse para ninguém, tem descoberta que é só minha.
“… os professores […] têm a tarefa de cuidar para que mundos se abram cada vez que viramos uma página de um livro”, diz Telma Vilas Boas, a professora que inspirou Jorge Miguel Marinho nesta homenagem ao Dia dos Professores.
Leia a entrevista com essa educadora apaixonada por literatura e por seu ofício de formar leitores.
Jorge Miguel Marinho
Foi professor de Literatura Brasileira com pós-graduação pela Universidade de São Paulo (USP), coordenador de oficinas de criação literária, dramaturgo, roteirista, ator, pesquisador de componentes lúdicos na crítica literária com os livros Nem tudo que é sólido desmancha no ar – ensaios de peso e A convite das palavras – motivações para ler, escrever e criar, autor de livros de ficção literária, entre eles, Te dou a lua amanhã – uma biofantasia de Mário de Andrade e Lis no peito – um livro que pede perdão, premiados com o Jabuti. Jorge Miguel Marinho faleceu em junho deste ano.
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