Dia Mundial da Água: como trabalhar o tema na educação

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Dia Mundial da Água: como trabalhar o tema na educação

De importância mundial, o tema da água deve ser trazido para a realidade dos(das) estudantes e pode ser trabalhado de diversas maneiras. Conheça algumas

Por Stephanie Kim Abe

Desde 1993, comemoramos o Dia Mundial da Água todo 22 de março. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), para chamar atenção da importância do acesso à água tratada para todos e todas. Atualmente, uma em cada três pessoas no mundo vivem sem água potável segura. 

A garantia do acesso à água potável e saneamento é o sexto dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que fazem parte da Agenda 2030, proposta pela ONU para os seus países membros em 2015. A água também é tema do ODS 14, que estabelece a conservação e promoção do uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos, garantindo a vida na água. Esse recurso também é objeto indireto de outros objetivos, que versam sobre tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis (ODS 11) e assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis (ODS 12).

ONU, Os 17 ODS da Agenda 2030
ONU, Os 17 ODS da Agenda 2030

Que a água é fundamental e um tema de importância mundial é incontestável. Por isso, trabalhá-lo em sala de aula, , como já acontece há muitos anos. não requer muitos argumentos. Mas é preciso tomar cuidado sobre como tratar esse tema com os(as) alunos(as), de forma que seja realmente efetiva. Mariana Lorenzin, mentora pedagógica do Prêmio Respostas para o Amanhã, explica:

Mariana Lorenzin
Foto: arquivo pessoal

O acesso à água potável, o saneamento básico, o desperdício são problemas que afetam diversas realidades, então esse é um tema de relevância mundial. Mas precisamos ter um cuidado para que ele não seja imposto, de modo que não signifique nada para aquele território.
Vemos escolas que trabalham a ‘água’ em todas as disciplinas, o ano inteiro. Mas como os alunos se envolveram com o tema de fato? O que motivou a aprendizagem deles? Os professores têm esse desafio de aproximar o tema dos alunos e de gerar necessidade de conhecer sobre, por meio de diferentes metodologias ativas. Assim, eles se apropriam do assunto e se tornam os principais agentes da sua aprendizagem.”

Mariana Lorenzin

A seguir, contamos duas experiências inspiradoras de como trabalhar o tema da água na sala de aula em consonância com a realidade local.


Achando soluções sustentáveis para a poluição do rio local (Cascavel, CE)

Em Cascavel (CE), estudantes do 2º ano do Ensino Médio da escola EEMTI Marconi Coelho Reis desenvolveram um projeto ano passado para tentar solucionar uma questão muito presente no território: a poluição dos rios da região por corante e resíduos agroindustriais. 

Kemily Naiara, estudante da equipe, em vídeo que apresenta o projeto, explica:

A partir dessas problemáticas, decidimos então desenvolver uma tecnologia capaz de reduzir contaminantes da indústria têxtil, por meio de materiais naturais de baixo custo através do método de adsorção.” 

Kemily Naiara

Com a orientação da professora Heloína Lopes Capistrano, a equipe de estudantes investigou o potencial dos resíduos agroindustriais de abóbora como um biocoagulante facilitador do tratamento da água. Daí o nome do projeto: BAP: Biocompósito para Adsorção de Poluentes.

Um dos pontos fortes foram os seus impactos na comunidade, porque os alunos buscaram resolver o problema de uma forma que fez sentido no contexto em que ele estava inserido, usando as sementes de abóbora, que é um produto local.
Outro destaque foi o protagonismo dos estudantes, percebido tanto no desenvolvimento do projeto como nos pareceres do mentor da equipe. Eles realmente se apropriaram do trabalho e trouxeram sentido para a aprendizagem deles.”

Mariana Lorenzin

A mentora pedagógica também ressalta os caminhos encontradas pela professora para garantir o desenvolvimento do trabalho, mesmo em tempos de pandemia – o que mostra que é possível realizar projetos científicos com distanciamento social.

Eles usaram alguns recursos tecnológicos de prototipagem e fizeram animações dos resultados esperados, porque não tinham como realizar alguns testes presencialmente.”

Mariana Lorenzin

8ª edição do Prêmio Respostas para o Amanhã

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O lançamento da nova edição do Prêmio Respostas para o Amanhã acontece amanhã, dia 23/03, às 16h, durante a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). A solenidade acontece durante o painel “A Ciência como resposta para o Amanhã e a escola como laboratório de investigação”, com transmissão ao vivo pelo canal da Febrace no YouTube.

O Prêmio Respostas para o Amanhã reconhece práticas educativas de professores(as) das áreas de ciências da natureza e de matemática e suas tecnologias que visem a elaborar projetos para turmas de alunos de escolas públicas de ensino médio. Uma iniciativa global da Samsung com a coordenação técnica do CENPEC Educação, a versão brasileira do Solve For Tomorrow já envolveu, desde 2014, 162.906 estudantes, 15.803 professores e 5.036 escolas públicas em 8.113 projetos inscritos.

Acompanhe a transmissão ao vivo. Ative o lembrete abaixo e participe!


Água não brota em balde: criando uma campanha publicitária de conscientização (Jacareí, SP)

Para a professora de língua portuguesa Claudete Resende, os problemas do bairro em que mora, ao redor da escola estadual Dona Benedita Freire de Macedo, são bem conhecidos e causam o desprestígio de quem mora nessa região da Vila Ita ou Jardim Emília: 

Foto: arquivo pessoal

Temos vários problemas ambientais: a luz aqui é gato, não há hidrômetro nas casas, então o pessoal desperdiça água, as pessoas jogam lixo nos terrenos baldios ou ateiam fogo, há inundações etc. Apesar de ser um bairro próximo do centro de Jacareí (SP), a comunidade é desprezada pelo poder público e isso causa um impacto social e cultural nas pessoas que aqui moram.”

Claudete Resende

Então, ela não pensou duas vezes em aderir ao projeto Arte da Imagem. A iniciativa, que aconteceu em 128 escolas públicas de 12 cidades brasileiras, buscou contribuir para a discussão sobre o desenvolvimento sustentável, por meio da criação de campanhas de utilidade pública.  

Na sua escola, Claudete tocou o projeto com cerca de oito alunos(as), ao lado da professora de arte Adriana Telles de Mattos. Elas dividiram os temas entre os(as) estudantes interessados(as) e utilizaram principalmente os finais de semana para realizar as fotos com a turma. Como o projeto foi realizado durante a pandemia, elas tiveram que contar com a ajuda dos familiares no contato com os(as) alunos(as) e realizar saídas individuais, para não aglomerar e respeitar todos os protocolos. 

Foto: Vinícius de Oliveira Lopes

A foto e a frase do Vinícius de Oliveira Lopes, que foi o vencedor da sua escola e acabou aparecendo no outdoor da cidade, foi feita em um desses momentos:

O Vinícius é meu vizinho, então estávamos fazendo a foto na frente da minha casa. Chega a ser um pouco contraditório, mas pra tirá-la tivemos que desperdiçar um pouco de água, porque precisávamos do balde de água cheio. De repente, meu marido chegou e disse: ‘gente, vocês estão pensando que água brota do balde? Os vizinhos vão reclamar!’.
Já tínhamos construído a concepção da campanha, mas a frase nasceu daí. Nossa ideia era que a partir dessa frase, uma vez que a pandemia passasse, pudéssemos construir outras situações: ‘água não brota da torneira, do chuveiro’ etc.” 

Claudete Resende

Tanto as professoras como estudantes participaram de workshops oferecidos pela equipe do projeto, trazendo a temática dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e dicas práticas sobre como fotografar. 

O cuidado com o meio ambiente já tem sido pauta do nosso trabalho, mas eu nunca tinha trabalhado os ODSs diretamente. Eu gostei muito que o enfoque maior foi nas técnicas e noções de fotografia, porque eles trouxeram esse olhar prático que foi muito enriquecedor e nos empolgou bastante.” 

Claudete Resende

Para ela, é difícil mensurar em palavras os aprendizados que os(as) alunos(as) construíram, pois foi na empolgação e no olhar deles, ao verem os trabalhos prontos e projetados até em outdoor da cidade que a iniciativa mostrou mais resultado. A dinâmica do trabalho permitiu maior conscientização não só dos alunos, como também dos familiares:

A Drica, professora de artes que trabalhou comigo nesse projeto, me ensinou que ‘a obra cria vida própria’. E foi o que aconteceu, porque ao longo dos nossos encontros, fomos conversando sobre os problemas do bairro, e um tema foi levando a outros. Então eles perceberam que na casa deles também desperdiçam água, ou que o vizinho coloca fogo no terreno. ‘Então vou falar pra eles não fazerem mais isso’, concluíam. Ao mesmo tempo que íamos fotografando, eles foram olhando para o entorno, compartilhando suas experiências e experimentando sua aprendizagem.” 

Claudete Resende

Os resultados do projeto em todas as escolas participantes podem ser conferidos no livro Arte da Imagem – caminhos do consumo consciente, que será distribuído a partir de hoje a todas as unidades de ensino que fizeram parte da iniciativa. Além disso, é possível acessar sua versão digital gratuitamente.

Acesse o livro digital aqui


Dicas para professores(as)

Como o(a) professor(a) pode fazer para estimular o olhar do aluno para o entorno? Para Mariana Lorenzin, mentora pedagógica do RPA, os(as) educadores(as) devem fazer esse convite de diferentes formas, mas sempre com um objetivo pedagógico em mente, pensando o que esperam como aprendizagem dos(as) estudantes com essa atividade. 

Há uma série de estratégias de sensibilização e motivação que os professores podem utilizar, como registros fotográficos, vídeos, entrevistas com a comunidade local e saídas de campo. A ideia é propor dinâmicas que aproximem o estudante do entorno em que está inserido e que ampliem a sua visão, de modo que ele consiga identificar que  tem alguma coisa aqui que precisamos olhar com mais cuidado e atenção. É dessa percepção que vai se desdobrar o projeto ou pesquisa.”

Mariana Lorenzin

Ao trazer a problemática para a realidade dos(das) estudantes, o tema trabalhado passa a ter mais sentido para eles, como aconteceu tanto para os(as) alunos(as) de Cascavel (CE) como de Jacareí (SP).

A professora Claudete ressalta a importância de envolver as famílias dos(das) estudantes, principalmente em tempos de pandemia e com relação ao tema do consumo consciente:

Normalmente, quem cuida dos afazeres domésticos não são as crianças e os adolescentes, são os pais, tios, avós. Elas contribuem para o maior ou menor desperdício. Então é preciso um trabalho coletivo, de conscientizar um, pra ele conscientizar o outro, e por aí vai. Quando você trabalha com o aluno e a sua família, o resultado é imediato, a abrangência é maior. Independente do tema, quando envolvemos a família, ela se sente mais valorizada, e acaba te apoiando mais, porque percebe que fazemos aquilo porque gostamos e acreditamos nos nossos projetos.” 

Claudete Resende

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