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6 obras literárias para trabalhar com adolescentes e jovens
Por Stephanie Kim Abe
“Se você quer mesmo ouvir a história toda, a primeira coisa que você deve querer saber é onde eu nasci, e como que foi a porcaria da minha infância, e o que os meus pais faziam antes de eu nascer e tal, e essa merda toda meio David Copperfield, mas eu não estou a fim de entrar nessa, se você quer saber a verdade.”
É assim que começa o livro O apanhador no campo de centeio, do escritor norte-americano J. D. Salinger. Só com esse trecho inicial — reparou no uso do palavrão? — já dá para entender porque esse é um dos romances mais revolucionários do século 20, lançado em 1951, e que tem influenciado gerações de adolescentes desde então.
Como explica Priscilla Joaquim, do departamento de educação da Editora Todavia:
Esta obra é considerada a fundação da adolescência na literatura, porque é a primeira vez que um adolescente, como conhecemos hoje, tem voz. O garoto Holden Caulfield é que narra a sua história em primeira pessoa, no seu próprio fluxo de pensamento. Ao lidar com perdas, vamos identificando na sua fala o tom revoltado e chateado, uma certa desilusão, um desejo de se emancipar, ao mesmo tempo que deseja a infância ainda. Conforme vamos lendo, vamos nos identificando com esse personagem, e ele fala muito com os adolescentes”.
Priscilla Joaquim
✏️ Veja aqui os relatos de estudantes no Novo Ensino Médio
Protagonismo juvenil
Não à toa, essa é uma das seis obras literárias da Editora Todavia escolhidas e aprovadas no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) 2021 para o ensino médio.
Os títulos podem ser encontrados na página Todavia para educadores – ensino médio, criada pela editora para publicizar essas obras e ajudá-las(os) no processo de escolha de quais livros literários deverão ser adquiridos pelo Governo Federal para serem enviados e trabalhados na escola com as(os) estudantes.
Além de O apanhador no campo de centeio, fazem parte dessa lista:
📕 Torto Arado, de Itamar Vieira Junior;
📗 A mercadoria mais preciosa, de Jean-Claude Grumberg;
📘 Incidentes na vida de uma menina escrava, de Harriet Ann Jacobs;
📙 Cartas a uma negra, de Françoise Ega;
📔 Um outro Brooklyn, de Jacqueline Woodson.
Priscilla conta um pouco dos requisitos que fizeram com que cada uma dessas obras estivessem nessa lista:
Norteados pelos próprios temas que o edital do PNLD 2021 indicava, escolhemos obras que consideramos transformadoras para o público do ensino médio, seja pela fruição em si ou por trazer algum tema social que acreditamos ser importante que o jovem atual tenha contato e reflita sobre, com a ajuda dos professores. São, no geral, autores também pouco publicados no Brasil, cuja obra dialoga muito com a ideia de protagonismo juvenil que está posta na BNCC”.
Priscilla Joaquim, da Editora Todavia
Material de apoio às(aos) docentes
O site traz informações sobre cada uma das obras, no que diz respeito ao seu gênero, número de páginas e temas presentes. Há um resumo sobre a história e o(a) autor(a) e o código da obra no edital do PNLD Literário 2021.
Entre os materiais disponíveis para as(os) professoras(es), estão um vídeo para a(o) docente e um para a(o) estudante, além do Manual do professor e um trecho do livro à disposição. Os materiais didáticos foram produzidos em parceria com o Cenpec.
Giselle Rocha, técnica de projetos no Cenpec à frente da produção desses materiais, conta como foi esse processo:
O edital do PNLD segue a BNCC — o que é um princípio nosso também. Então produzimos o material olhando para as competências e habilidades que estão previstas para essa faixa etária, e produzimos atividades nas quais os professores possam pensar em questões históricas, sociológicas, de análise literária ou linguística a partir dessas obras”.
Giselle Rocha
No caso d’O Apanhador no campo de centeio, por exemplo, os temas tratados envolvem projetos de vida e inquietações e vulnerabilidade das juventudes, e a obra dialoga com componentes como história, sociologia e antropologia.
Veja o vídeo para as(os) professoras(es) abaixo:
Para Giselle, a seleção das obras da editora foi muito rica e dialoga com diversos valores importantes para a organização:
A Todavia é uma editora que tem um acervo muito interessante e gigante, com autores bem legais. As obras escolhidas trazem tanto uma inovação quanto uma qualidade literária, que vai dar repertório aos estudantes. Além disso, elas refletem temáticas muito caras ao Cenpec, como as questões raciais, de diversidade e de equidade”.
Giselle Rocha, técnica de projetos no Cenpec
O livro Torto Arado, do baiano Itamar Vieira Junior, foi considerado o romance nacional mais lido em 2021, tendo ganhado o Prêmio Jabuti. A trama dialoga com a questão do passado escravista brasileiro, assim como Incidentes na vida de uma menina escrava, de Harriet Ann Jacobs também trata da temática, do ponto de vista dos Estados Unidos. “Essa última é uma obra que se chama narrativa de escravizados, bastante comum nos Estados Unidos, mas que aqui no Brasil ainda não se tem”, diz Giselle.
🔖 Veja a obra que resgata autobiografias de pessoas escravizadas
Para Priscilla, a parceria com o Cenpec deu muito certo:
Além da expertise do Cenpec na produção de materiais didáticos, confirmamos que o modo como a organização entende a função social e transformadora da literatura na educação é muito próxima à visão que nós, da Todavia, também compartilhamos. Ficamos muito satisfeitos com o material produzido”.
Priscilla Joaquim, da Editora Todavia
