Oficina: Futebol letrado

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Oficina: Futebol letrado

Como explorar o gosto pelo futebol por diferentes linguagens e mídias? Conheça a experiência do Núcleo de Comunicação Comunitária São Miguel no Ar. Proposta de oficina: Marcia Coutinho e Tamara Castro. Roteiro de vídeo: José Luiz Adeve, Marcia Coutinho e Tamara Castro. Vídeo: Mova Filmes. Conteúdo publicado originalmente na Plataforma do Letramento

O que é?

Projeto de educomunicação relacionado a esportes, explorando gostos, atividades e conhecimentos prévios dos jovens, e envolvendo-os em práticas sociais de leitura, escrita e oralidade.

Materiais

• Notícias, reportagens, crônicas esportivas publicadas em jornais, revistas, livros, sites. 
• Computador/tablet com acesso à internet, máquina fotográfica/celular, gravador (opcionais). 

Finalidade

• Promover rodas de debate sobre práticas esportivas dos jovens, suas preferências, valores, crenças e aspirações a respeito do esporte, bem como os problemas que vivenciam e percebem em seu cotidiano e por meio da mídia.
• Identificar as principais fontes de informação dos estudantes sobre o tema, perceber e problematizar os enfoques, os posicionamentos e as diferentes linguagens (verbais, imagéticas, sonoras…) utilizadas. 
• Pesquisar a linguagem corrente entre os grupos desportivos da comunidade, observando suas formas de comunicação, as variantes e as expressões locais. 
• Promover rodas de leitura sobre esportes para ampliar o repertório da turma.
• Produzir, individual e coletivamente, textos de vários gêneros e em diferentes suportes, com base nas discussões e nas pesquisas desenvolvidas. 

Expectativa

Promover a participação na cultura letrada e o protagonismo juvenil por meio de atividades educomunicativas relacionadas a esportes.

Público

Jovens do Ensino Fundamental e Médio

Local

Quadra/sala na escola ou centro esportivo

Duração

Encontros semanais de 1h30 a 2h

Início de conversa

Como ampliar o letramento de crianças, adolescentes e jovens por meio dos esportes, explorando diferentes linguagens e mídias? O Projeto Sintonia Cidadã mostra como! A inspiração vem de São Miguel Paulista, distrito da zona leste do município de São Paulo.

A iniciativa da Fundação Tide Setubal, em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Trabalho (SMDET), nasceu em 2011, como um embrião de ações de letramento desenvolvidas no Núcleo de Comunicação Comunitária São Miguel no Ar (NCC). Os encontros ocorriam três vezes por semana, com a participação de 15 jovens, a fim de promover o letramento por meio da educomunicação, estimular práticas esportivas da localidade e preparar os estudantes para trabalhos em eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

No vídeo a seguir, produzido pelo Cenpec em 2014, o educomunicador José Luiz Adeve (Cometa) e a estudante Heloísa Cardoso e o estudante Rodrigo Sousa Silva relatam como foi participar desta iniciativa transformadora:

O sucesso do Sintonia Cidadã entusiasmou as(os) participantes, que em 2012 criaram como desdobramento o Intermídia Cidadã. Além de trabalhar as linguagens de comunicação, o Intermídias discute temas como: novas formas comunicativas do habitar; participação comunitária e conexão escola; território e TV Digital, buscando promover a consciência crítica, a cidadania e a percepção de novos caminhos de vida pessoal e coletiva. Conheça o Núcleo de Comunicação Comunitária São Miguel no Ar!


Na prática

Esta oficina relaciona esporte e práticas de letramento, dialogando com as reflexões e práticas apresentadas no vídeo sobre o Projeto Sintonia Cidadã.

1. Levantamento de conhecimentos prévios 

Promova uma roda de conversa estimulando os estudantes a falar de suas práticas, preferências, valores, ideias, dificuldades acerca do esporte etc. Você pode incentivar a participação com perguntas:

  • De quais esportes vocês mais gostam?
  • Quais praticam?
  • Do que gostam e do que não gostam nessas práticas? Por quê? 

2. Identificação e ampliação de repertório cultural 

Questione onde elas e eles costumam assistir a eventos e jogos esportivos e se informar a respeito: programas de TV, rádio, jornais, revistas, sites… Peça que tragam notícias, reportagens, crônicas esportivas, imagens etc. Você também pode sugerir que façam anotações sobre programas esportivos de rádio ou TV a que costumam assistir.

Estimule-os a observar as linguagens utilizadas nos diferentes veículos:

  • a articulação entre as várias modalidades (som, imagem, escrita);
  • os níveis da linguagem (mais ou menos formal);
  • as expressões utilizadas (termos técnicos do futebol, gírias, jargões esportivos, expressões que caracterizam determinado comentarista ou locutor) etc. 

Matemática no futebol

Imagem: Reprodução / Twitter

O segundo gol de Richarlison de Andrade, jogador da seleção brasileira de 2022, na partida contra a Sérvia, encantou o mundo e promete ficar para a história do esporte. A beleza do chute de voleio inspirou diversos memes, entre eles, o que explica o movimento de corpo do jogador pela sequência de Fibonacci.
Trata-se de uma espiral presente em formas da natureza, como caracóis, conchas, vegetais, e criações humanas, como obras arquitetônicas e pinturas. A descoberta feita matemático italiano Leonardo Fibonacci (1170-1250) revela uma sequência de números que formam a proporção áurea, conceito visual muito difundido nas artes visuais por ser harmônico aos olhos humanos.

3. Rodas de debate

Com base nesse levantamento, escolha coletivamente alguns temas a ser discutidos nas rodas de debate. Como referência, você pode assistir com eles a algumas mesas-redondas veiculadas na TV ou em rádios, observando as principais características desses programas. 

Problematize questões relacionadas aos temas escolhidos. Por exemplo:

  • erigos dos esportes de alto rendimento;
  • exploração de algumas modalidades pela mídia e pela publicidade;
  • investimentos públicos para a realização de eventos esportivos como a Copa do Mundo e a Olimpíada;
  • preconceito, discriminação e racismo no cotidiano dos esportes etc. 
Preconceito, discriminação, racismo: é tudo a mesma coisa? Confira no vídeo.

Estabeleça alguns combinados para organizar o debate:
• definir um tema orientador;
• ouvir e respeitar a vez de falar dos colegas;
• respeitar as diferentes opiniões e argumentações (é importante ressaltar que um debate só é possível se houver posicionamentos distintos e até mesmo divergentes sobre determinado tema);
• compreender que a oposição deve se manter no nível das ideias, sem extrapolar para a vida pessoal dos participantes;
• entender que se pode mudar de opinião ao longo do debate, em razão de um participante ser convencido (total ou parcialmente) pelos argumentos de outra parte (ressalte que essa é uma das grandes riquezas da discussão democrática: possibilitar que cada um conheça diferentes pontos de vista sobre determinado tema e repense suas crenças, ideias e posturas).

4. Divulgação dos textos

Após as discussões e as leituras promovidas, proponha às(aos) participantes que elaborem, individualmente ou em grupo, textos escritos e orais. É interessante atrelar a escrita a uma finalidade comunicativa (pode ser um texto que ficará exposto no mural da escola; uma crônica publicada num blog, um post compartilhado via Facebook ou uma notícia que circulará em papel na comunidade).

Um aspecto fundamental é a definição do público-alvo:

  • quem serão as(os) possíveis leitoras(es) ou espectadoras(es): colegas da escola, a comunidade escolar, o bairro?

Com base nessa definição, você pode propor que pesquisem o perfil de seu público:

  • práticas e preferências esportivas;
  • veículos comunicativos que costumam acessar;
  • linguagem corrente etc.

Defina com elas e eles as características e as possíveis formas de divulgação dos textos:

  • gênero (notícia, reportagem, crônica, narração);
  • linguagens articuladas à escrita (áudios, vídeos, fotos, ilustrações);
  • suporte (impresso: jornal, revista; digital: blog, rede social; epigráfico: cartaz, mural; rádio, TV comunitária…).


Mais sobre o Sintonia Cidadã

O sucesso do Sintonia Cidadã entusiasmou os participantes, que em 2012 criaram como desdobramento o Intermídia Cidadã. Além de trabalhar as linguagens de comunicação, o Intermídias discute temas como: novas formas comunicativas do habitar; participação comunitária e conexão escola; território e TV Digital, buscando promover a consciência crítica, a cidadania e a percepção de novos caminhos de vida pessoal e coletiva. 

O Núcleo de Comunicação Comunitária São Miguel no Ar (NCC) desenvolve ações educomunicativas para atuar no espaço público, como a rádio e a TV de rua São Miguel no Ar e o jornal A Voz do Lapenna. Também realiza atividades em escolas locais, sempre por meio da construção coletiva. Acesse o blog para saber mais.

O jornal A Voz do Lapenna foi criado e organizado e escrito por jovens do NCC. Confira a notícia.

Os jovens do Projeto Intermídia Cidadã, lá do Jd Lapenna, seguiram seus caminhos, porém deixaram um legado e uma experiência de que educar é mais do que aprender e ensinar é saber intervir. Como disse o geógrafo Milton Santos: “O homem não vê o universo a partir do universo, o homem vê o universo desde um lugar”. Olhando para o território em que vive sob a perspectiva dos direitos, desejamos, sempre, que a comunidade torne-se protagonista da sua luta por direitos, verdadeiros agentes transformadores da própria história.”

José Luiz Adeve (Cometa)

Leia na íntegra o artigo de Cometa, um dos educadores envolvidos no Projeto Intermídia Cidadã.


Para ampliar a discussão

O site Portacurtas tem vários curta-metragens que tratam de esportes, como os documentários Metamorfose (sobre a pernambucana Roseane Ferreira dos Santos, madrinha do atletismo paradesportivo brasileiro), Uma história de futebol (sobre a infância de Pelé), e os ficcionais Maré Capoeira (sobre o menino que sonha ser mestre de capoeira para dar continuidade a uma tradição familiar), Cartão vermelho (apresentando o cotidiano de Fernanda, que gosta de jogar futebol com os meninos) e Ernesto no país do futebol (garoto argentino residente no Brasil em ano de Copa do Mundo). Acesse o Portacurtas

O paraibano José Lins do Rego, autor de obras clássicas como Menino de engenhoDoidinho e Fogo morto, escreveu mais de 1.500 crônicas esportivas entre 1945 e 1957. Saiba mais na matéria do jornal Tribuna do Norte.

Leia o artigo “Crônica esportiva brasileira: histórico, construção e cronista”, de Felipe R. da Costa, Amarílio Ferreira Neto e Antonio J. G. Soares, publicado na Revista Pensar a Prática, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Acesse.


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