Podcast: história e cultura afro-brasileira nas escolas já!

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Podcast: história e cultura afro-brasileira nas escolas já!

No sétimo episódio do "Educação na ponta da língua", entenda os avanços e os desafios para a abordagem da cultura e história afro-brasileira na escola e a implementação efetiva da Lei 10.639

Por Stephanie Kim Abe

Em 2023, a Lei 10.639 completou 20 anos. Fruto da luta dos movimentos negros, essa lei tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Fruto de uma luta dos movimentos negros, a lei alterou um dos mais importantes documentos da educação nacional: a Lei de Diretrizes e Bases.

Desde que foi criada, muitos avanços ocorreram e devem ser celebrados – ainda que ela não esteja totalmente implementada, como explica a professora Ellen Cintra:

Foto: acervo pessoal

A gente não só tem uma lei, mas temos diretrizes curriculares, orientações nacionais, centenas de materiais para formação individual e coletiva de professores, uma série de estudos publicados, de experiências de sucesso… há muito o que celebrar. Mas também é importante reconhecer que essa caminhada longa não foi tranquila, e a gente ainda precisa refletir porque em um país majoritariamente negro, a gente ainda assim tem uma constância na violência e vitimação desse estudantes a partir das dinâmicas escolares”.

Ellen Cintra, professora

Sua fala faz parte do sétimo episódio do podcast  Educação na ponta da língua, e que tem como tema a abordagem da história e cultura afro-brasileira nas escolas. 

Ellen fala ainda sobre os principais empecilhos encontrados para a aplicação da Lei 10.639 na escola e como a comunidade escolar tem se organizado para superá-los. 

Uma dessas maneiras são projetos como o da professora Rosimeire Aparecida de Sousa, que coordena a disciplina eletiva CRE – Coletivo Resistindo e Existindo na Escola Estadual Alberto Torres em São Paulo (SP). O coletivo partiu dos estudantes, após vivenciarem na pele ou presenciarem situações de racismo no seu cotidiano – inclusive escolar.

Veja o documentário sobre o coletivo abaixo: 

Durante o bate-papo, Rosimeire conta a transformação pela qual ela viu passar as(os) suas(seus) estudantes após a eletiva:

Foto: acervo pessoal

A dor que eu vi na fala deles, no período junto a eles, nessa eletiva, foi transformadora. Eu vi pretos e pretas de 17 e 18 anos andarem dentro da comunidade escolar de cabeça erguida. Eu vi meninas que tinham vergonha de usar suas coroas de cabelos eriçados, soltos, com uma delicadeza e uma alegria muito grande. Eu vi meninos declamar poesia, slams com uma força tão grande porque a manifestação que eu vi dentro dessa unidade escolar, desses jovens, e como eu disse, a dor e o sangue no olho que eu via neles era uma vontade de falar, de gritar, de se fazer ouvir“.

Rosimeire Aparecida de Sousa, professora

As educadoras ainda trataram sobre a forma como as relações sociais foram criadas no Brasil, renegando a humanidade das pessoas pretas; o racismo religioso; e a necessidade de combater o mito da democracia racial e de professoras(es) se reconhecerem como parte da estrutura racista brasileira:

“Enquanto a gente acreditar que o racismo não é um problema no Brasil, a gente não vai conseguir avançar nas políticas públicas de cumprimento da Lei 10.639”, diz a apresentadora do podcast Gina Vieira.

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Saiba mais sobre as educadoras participantes deste episódio

Ellen Cintra é professora há quase 20 anos, atuando na educação básica na rede estadual do Distrito Federal e na formação de professoras(es) em educação das relações étnico-raciais. É doutoranda e mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Ndumbe no Kilombo Kalabasa e angoleira, foi bolsista para o doutorado sanduíche na Universidade da Califórnia Riverside e professora assistente na Loyola University Chicago. Cria da periferia, Ellen pesquisa como as experiências de professoras e professores negros no Brasil e nos Estados Unidos colaboram para a construção de sentidos na educação da população negra na diáspora.

Rosimeire Aparecida de Sousa é formada em Química pela Universidade Oswaldo Cruz, em São Paulo. Leciona para turmas do ensino médio na rede estadual paulista há mais de 25 anos. Desde 2022 coordena, junto a estudantes, a disciplina eletiva CRE – Coletivo Resistindo e Existindo na Escola Estadual Alberto Torres, que faz parte do Programa Ensino Integral em São Paulo.

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Ouça nas demais plataformas de streaming:

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Ouça todos os episódios do podcast Educação na ponta da língua

O podcast Educação na ponta da língua  é um bate-papo de educadora(or) para educadora(or) sobre temas relevantes da educação brasileira. As(Os) convidadas(os) são professoras(es) e especialistas engajadas(os) com o dia a dia da escola pública. Além de refletir e informar, o programa apresenta experiências inspiradoras que comprovam o potencial transformador das escolas por todo o país.

O primeiro episódio do podcast tratou sobre educação escolar indígena; o segundo, sobre os desafios de letramento e alfabetização; e o terceiro sobre relações e convivência na escola. O quarto episódio gira em torno das línguas e literatura indígena no ambiente escolar, e o quinto sobre recomposição de aprendizagem nos anos finais do ensino fundamental. O sexto episódio, lançado em outubro, traz uma conversa sobre valorização docente.

Apresentado pela professora Gina Vieira, o podcast é uma iniciativa do Cenpec, em parceria com o programa Escrevendo o Futuro, apoiado pelo Itaú Social.

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