-
Podcast: um papo sobre convivência e relações na escola
Por Stephanie Kim Abe
No começo deste ano, os ataques violentos, alguns letais, à instituições de ensino alarmaram toda a comunidade escolar e colocaram a pauta da violência contra as escolas no centro das discussões do Ministério da Educação (MEC).
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, divulgado no dia 20/07, também trouxe o tema da violência contra e nas escolas por meio dos dados da Prova Brasil 2021, mostrando que são diversas as violências que ocorrem no ambiente escolar.
Em 2021, 669 escolas públicas (0,9%) tiveram que interromper suas aulas por episódios de violência, como tiroteios, bala perdida ou roubos. Ainda de acordo com o Anuário, no Rio de Janeiro, em relação aos demais estados do Brasil, a escola é quase 8 vezes mais perigosa de se frequentar por causa do fogo cruzado entre polícia e criminosos. Além disso, 37,6% das escolas públicas brasileiras relatam casos de bullying, 15,5% de discriminação e 2,3% de assédio sexual.
Diante desse cenário, como as escolas devem agir? Que medidas de segurança são mais efetivas ou que práticas pedagógicas podem ajudar na prevenção de ataques violentos?
O terceiro episódio do podcast Educação na ponta da língua se debruça sobre esse tema, focando em uma premissa particular e importante: um clima escolar positivo pode incidir tanto no enfrentamento da violência escolar, como também na melhoria das aprendizagens. Como afirma a professora e apresentadora Gina Vieira, na abertura do episódio:
Já existem diversos estudos que comprovam isso. Quando se trabalha um clima escolar positivo, há mais motivação para aprender, aumenta o bem-estar de estudantes e docentes, além de se ver que o desempenho da turma melhora e muito.”
O bate-papo sobre o que é necessário para um bom clima escolar na prática tem a participação de dois especialistas: Flávia Vivaldi e Adriano Caetano Rolindo. Há ainda o relato da coordenadora pedagógica Ana Amélia Ferreira da Silva, da rede municipal de Guaramiranga (CE), sobre a dinâmica de convivência e clima escolar na rede de ensino em que atua.
Sobre esses conceitos distintos porém complementares, Flávia Vivaldi explica:
Flávia Vivaldi
Quando a gente fala em clima, estamos falando em um ambiente, ou na criação de um ambiente que promove o bem-estar, que promove confiança nas pessoas, na instituição e na aprendizagem. Então esse clima é criado de percepções, de todas as pessoas que compõem a comunidade escolar. Agora quando eu falo em convivência escolar, eu estou me referindo à capacidade ou até à disposição que as pessoas da comunidade educativa têm para se relacionar. Então ao falar em convivência escolar estamos nos referindo a uma formação cidadã, ao desenvolvimento social e moral de forma que a convivência seja também um aprendizado contínuo. Por isso ela precisa ser intencionalmente planejada.”
Já Adriano Rolindo traz à tona a questão da afetividade:
Nenhuma ação vai ter efeito se ela não for resultado de um trabalho coletivo. É preciso pensar, depois, que esse trabalho coletivo tem que ser feito na base do afeto, de relações afetivas.”
Adriano Rolindo
“Muitas vezes, eu como professora me senti constrangida a investir menos tempos nos afetos. E com o passar do tempo eu fui percebendo que é um equívoco. Porque para que o estudante aprenda melhor a matemática, a língua portuguesa, a geografia, ele precisa se perceber afetado positivamente pelo ambiente escolar, pelo professor, pela professora“, diz Gina.
🎙️Para escutar o episódio em outras plataformas:
Saiba mais sobre as participantes deste episódio
Flávia Vivaldi é doutora e mestra em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em relações interpessoais e desenvolvimento da autonomia moral na escola. Atuou como Secretária Municipal de Educação de Poços de Caldas (MG). Sua pesquisa mais recente teve como foco investigar a relação entre a função social da escola e a melhoria da convivência nesse ambiente.
Adriano Caetano Rolindo é doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde apresentou a tese Afetos que movem o coletivo: o trabalho da diretora de escola na construção da qualidade social (2021). É diretor titular de cargo na educação infantil da Secretaria da Educação no município de Campinas (SP).
Ouça outros episódios do podcast Educação na ponta da língua
O podcast Educação na ponta da língua é um bate-papo de educadora(or) para educadora(or) sobre temas relevantes da educação brasileira. As(Os) convidadas(os) são professoras(es) e especialistas engajadas(os) com o dia a dia da escola pública. Além de refletir e informar, o programa apresenta experiências inspiradoras que comprovam o potencial transformador das escolas por todo o país.
O primeiro episódio do podcast tratou sobre educação escolar indígena. Já o segundo abordou os desafios de letramento e alfabetização.
Apresentado pela professora Gina Vieira, o podcast é uma iniciativa do Cenpec, em parceria com o programa Escrevendo o Futuro, apoiado pelo Itaú Social.
🎧 Confira todos os episódios
Veja também
- Por que a melhor arma da escola contra a violência é a cultura de paz
- Como garantir um bom clima escolar?
- Clima escolar: da indisciplina e violência às relações e regras de convivência
- Como agir responsavelmente diante de episódios violentos nas escolas
- Ataques às escolas: a influência do ultraconservadorismo e como combatê-lo
Um pensamento em “Podcast: um papo sobre convivência e relações na escola”
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Tema muito bom e contribuir para o aprendizado .