CENPEC debate inovações na educação integral para o Ensino Médio

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CENPEC debate inovações na educação integral para o Ensino Médio

Livro que apresenta metodologias de gestão democrática, currículo e mudanças para a última etapa da educação básica foi lançado em evento, com transmissão ao vivo. Baixe o PDF gratuitamente e assista aos vídeos formativos

Por João Marinho

Cerca de 2 milhões de estudantes matriculados, dos quais aproximadamente 1 milhão são jovens. Mais de 200 mil educadores e mais de 100 mil profissionais de outras áreas nas escolas. Histórico anterior de decréscimo de matrículas no Ensino Médio da ordem de 200 mil, tornando Minas Gerais mais distante da meta 3 do Plano Nacional de Educação (PNE).

Como enfrentar essa situação e propor, ainda, a oferta de educação integral para o Ensino Médio do estado? Confira no debate de lançamento do livro Itinerário para as juventudes e a educação integral em Minas Gerais: Parte 2 – Gestão democrática, currículo e mudança educacional, ocorrido nesta terça-feira (11), entre 14h30 e 17h.

Parceria pela educação

A oferta de educação integral para jovens do Ensino Médio em Minas Gerais é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação, o CENPEC e o Itaú Social desde 2015, visando a implantar o Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. 

Nesses quatro anos, as tecnologias educacionais desenvolvidas pelo trabalho do CENPEC com juventudes – em especial, por meio do Programa Jovens Urbanos – foram utilizadas para promover ações pedagógicas inovadoras na rede de ensino pública mineira.

O histórico dessa parceria e a sistematização das ações desenvolvidas foram condensados em dois livros: Itinerário para as juventudes e a educação integral em Minas Gerais: Parte 1 – Concepções e metodologias, publicado em 2017; e Parte 2 – Gestão democrática, currículo e mudança educacional, cujo lançamento ocorreu no auditório do CENPEC, em São Paulo/SP, com a presença de mais de 40 pessoas e transmissão on-line pelas redes sociais e aqui, no Portal, com participação dos internautas.

Clique para baixar o livro e assistir aos vídeos formativos

Participaram do debate Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do CENPEC; Macaé Evaristo, ex-secretária de Educação de Minas Gerais; Cecília Resende, coordernadora de Educação Integral e Integrada da Secretaria de Educação de Minas; e Lilian Kelian, técnica de projetos do CENPEC. A mediação foi do gerente de Tecnologias Educacionais em Desenvolvimento do CENPEC, Wagner Santos.

► Conheça as debatedoras. Clique para ampliar:

Desafios, protagonismo e escuta

Mônica Gardelli Franco, diretora-executiva do CENPEC, na abertura do debate.
Mônica Gardelli Franco, diretora-executiva do CENPEC, na abertura do debate.

O evento foi estruturado em três partes. Na primeira mesa, “Ensino Médio e juventudes: desafios e proposições”, Anna Helena Altenfelder e Macaé Evaristo falaram sobre as desigualdades presentes na oferta e acesso ao Ensino Médio no Brasil, o atraso no cumprimento das metas do PNE voltadas para essa etapa e as características da rede pública estadual de Minas Gerais – e contaram como a Secretaria buscou apoio técnico do CENPEC para estruturar sua política pública de educação integral para as juventudes.

Após a abertura de Mônica Gardelli Franco, diretora-executiva do CENPEC, Anna Helena iniciou a conversa fazendo um diagnóstico sobre a situação do Ensino Médio no País: “Temos 1,5 milhão de jovens fora da escola, e 82% dos jovens que compõem o Ensino Médio não acessam a universidade e saem sem preparação para o mundo do trabalho”.

Minas Gerais, estado com o maior número de municípios – 853, no total – e uma rede de ensino com 47 superintendências regionais e mais de 3,6 mil unidades escolares, é reflexo do tamanho desse desafio. “Falamos muito de boas práticas, mas quando olhamos para uma imensidão, como garantir visibilidade?”, questionou Macaé Evaristo. A resposta foi o processo de escuta com os jovens, professores e comunidades trazido pelo CENPEC dentro de uma perspectiva de gestão democrática.

O objetivo da metodologia é chamar as pessoas diretamente atingidas pelas políticas educacionais para opinar sobre que currículo as escolas devem oferecer. Além de garantir o protagonismo juvenil, as escutas em Minas Gerais deram voz às diferenças regionais e permitiram que os estudantes fossem atendidos nas diversidades de suas formações e interesses.

Anna Helena Altenfelder fala sobre as desigualdades no Ensino Médio e a necessidade de garantia do direito à educação às juventudes.
Macaé Evaristo comenta a realidade do Ensino Médio na rede estadual de Minas Gerais, o apoio técnico do CENPEC e o início do processo de escutas democráticas com os jovens.
Debatedoras e mediador reuniram-se para os comentários finais e interação com as mensagens recebidas pelas redes sociais e WhatsApp.

Escola integral, currículo integrado

A mesa 2, “A experiência de Minas Gerais: da escuta dos jovens à formação de professores”, contou como tudo funcionou na prática. Cecília Resende e Lilian Kelian abordaram a realização de encontros estaduais de juventudes; como se deu a formação dos técnicos de educação para multiplicar e disseminar a experiência de 10 escolas iniciais da Região Metropolitana de Belo Horizonte que primeiro receberam as metodologias do CENPEC; e como os professores, além de contribuírem com o Programa, foram parceiros na busca de soluções para trazer as experiências de vida dos jovens e as especificidades dos diferentes territórios para um currículo que dialogasse com as realidades no entorno das escolas, o que impactou diretamente o desempenho dos jovens e a formação dos docentes.

“Na semana passada, entregamos ao nosso estado 127 artigos de iniciação científica produzidos pelos nossos estudantes (…) e foi a escuta e o objeto de desejo deles que construíram os objetos de pesquisa (…). Criamos uma horizontalidade, que é a marca maior do que estamos deixando (…), e assim foi construída uma política de formação para professores na perspectiva do currículo integrado”, disse Cecília Resende.

“Fizemos uma coisa nova (…): formar técnicos da Secretaria para disseminar as metodologias em toda rede, o que é um princípio muito interessante de trabalho (…). Essas proposições, com o tempo, sendo organizadas no livro e em outros documentos, podem extrapolar a escola de tempo integral. As concepções que desenvolvemos juntos qualquer escola pode desenvolver: integral é a escola que traz para dentro de si os desejos dos alunos e os desejos dos professores”, comentou Lilian Kelian.

Cecília Resende comenta os encontros de jovens, as mudanças no currículo a partir das tecnologias do CENPEC e o impacto na produção científica dos estudantes e na formação dos professores.
Lilian Kelian aborda a formação de professores e gestores públicos, estratégias de disseminação e laboratório de ações pedagógicas: história de vida, pedagogia dos projetos e ambiências criativas.

Visão crítica

Macaé Evaristo criticou o congelamento de gastos públicos e do investimento na Educação. Foto: Mayara Simeão.
Macaé Evaristo criticou o congelamento de gastos públicos e do investimento na Educação. Foto: Mayara Simeão.

O debate, que contou com um terceiro momento em que as debatedoras responderam aos internautas, trouxe um tom crítico às tendências das mais recentes políticas educacionais envolvendo o Ensino Médio, como a reforma aprovada em 2017 e a Base Nacional Comum Curricular.

Para Macaé Evaristo, há mudanças que, inclusive, se constituem em contrarreformas: “A Reforma do Ensino Médio é aprovada concomitante a uma emenda constitucional que congela investimentos por 20 anos, o que corresponde a rasgar o PNE (…). É preciso pensar numa mudança no Ensino Médio, mas não numa mudança a toque de caixa, ou, na minha visão, uma contrarreforma em que, ‘se o sapato está apertado, corta-se o pé'”, comentou, a respeito do financiamento e das propostas de extensa ampliação da educação à distância (EaD).

No que diz respeito aos dados das próprias juventudes, Macaé também argumentou que é preciso analisar criticamente as declarações que caracterizam os jovens atuais como pertencentes à geração “nem-nem” (nem escola, nem trabalho): “O nem-nem é desfocar o olhar da juventude, sobretudo da juventude pobre, que é majoritariamente negra”. “Não existe jovem que não quer nada: existe jovem que precisa sobreviver”, concordou Cecília Resende, avaliando que muitos abandonam a escola por questões socioeconômicas e efetivamente trabalham – mas no mercado informal.

“É preciso que a sociedade permaneça bastante atenta aos currículos escolares dos estados com os novos marcos do Ensino Médio”, disse Anna Helena Altenfelder, alertando para a necessidade de um acompanhamento sistemático das políticas educacionais que têm sido propostas pelo poder público.

O conteúdo do debate foi traduzido em um mural realizado em tempo real pelo ilustrador Edson Pelicer. Clique para ampliar.

Fotos internas: Mayara Simeão
Foto de destaque/slide: João Marinho
Áudio e streaming: Thiago Luis de Jesus e Helder Lima
Captação de imagens (streaming): Vanessa Nicolav e Marco Antonio Vieira
Edição de vídeos: Alba Cerdeira
Arte: João Marinho e Marco Antonio Vieira
Redes sociais: Fernanda Ribeiro, Mayara Simeão e João Marinho
Coordenação: Gabriel Priolli e Marcia Coutinho
Realização: CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária