Como e por que trabalhar as manifestações da cultura popular na escola?
Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.”
Albert Camus
O dia 22 de agosto, no Brasil, é dedicado ao folclore. A data, criada em 1965, por meio do Decreto n. 56.747, tem como objetivo valorizar as manifestações da cultura popular.
Graças à diversidade de culturas que formam o povo brasileiro, nosso folclore é um dos mais ricos do mundo. No entanto, a extensão territorial do nosso país dificulta o conhecimento de tantas expressões culturais, que muitas vezes ficam restritas às regiões onde nasceram.
A palavra folclore (do inglês antigo) é formada pelos termos “folk” (povo) e “lore” (conhecimento, cultura). Assim, folclore se refere ao conjunto de conhecimentos e tradições de um povo, expressas na forma de costumes, crenças, contos, mitos, lendas, adivinhas, parlendas, trava-línguas, canções, danças e festas. Folclore também diz respeito aos estudos das tradições, dos costumes e das expressões artísticas de um povo.
A graça da mistura
Deus me faça brasileiro, criador e criatura Um documento da raça pela graça da mistura Do meu corpo em movimento, as três graças do Brasil Têm a cor da formosura”
Moraes Moreira, “Meninas do Brasil”
Marujada em Alvorada de Minas (MG)
Uma das finalidades de comemorar o Dia do Folclore é compartilhar nacionalmente um pouco dessa riqueza e diversidade. A mescla das três matrizes culturais brasileiras – indígena, africana e europeia – dão um tom único às nossas manifestações populares.
Expressões oriundas da África ou da Europa, por exemplo, ganharam outras influências aqui e se transformaram. É o caso da marujada, festejo que surgiu em Portugal, em celebração às navegações ultramarinas dos séculos XVI e XVII, e aqui ganhou novos ritmos e cores, principalmente com a influência dos afrodescendentes.
Brasil… Mastigado na gostosura quente do amendoim… Falado numa língua curumim De palavras incertas num remeleixo melado melancólico… Saem lentas frescas trituradas Pelos meus dentes bons… Molham meus beiços que dão beijos Alastrados”
Mário de Andrade, “O poeta come amendoim”
Capa de A pedra do reino (Ariano Suassuna)
A oralidade do nosso povo dá frutos ricos em cores e sabores, vindos “da boca do povo na língua errada do povo / Língua certa do povo”, nas palavras do poeta Manuel Bandeira, um dos grandes entusiastas do nosso folclore. O poeta pernambucano se situa ao lado de nomes como Mário de Andrade, Cecília Meireles, Ariano Suassuna, Cora Coralina, Patativa do Assaré e tantos outros que tiveram na lírica popular terreno fértil explorado em suas obras, tanto pela temática, como pela sonoridade.
As brincadeiras orais presentes em trava-línguas e parlendas, a sabedoria do senso comum nos provérbios, a musicalidade das quadrinhas de ciranda, as metáforas presentes nas charadas, as rimas de cordel revelam a capacidade criativa do povo e são, até hoje, inspiração para quem tem na palavra seu objeto de trabalho, lazer e amor.
Veja a atriz Edi Fonseca interpretando “A seca e o inverno”, cordel do poeta cearense Patativa do Assaré (1909-2002):
Edi Fonseca lê poema de Patativa do Assaré
E por falar em cordel, que tal conhecer um cordelista contemporâneo? O compositor, poeta e educador social pernambucano Cacá Lopes conta como trabalha a literatura de cordel nas escolas.
O folclore não é apenas o que ficou no passado. É pelas mãos de quem cria a cultura todos os dias, revisitando e reinventando a tradição, que esta ganha vida, atualidade e novos significados.
Um bom exemplo disso é o trabalho desenvolvido pelo rapper e arte-educador P.MC. O mineiro de Juiz de Fora, também conhecido como Mestre Pê, explora o repertório de brincadeiras orais, como as quadrinhas e os trava-línguas, para criar rimas ao ritmo de rap junto com crianças e adolescentes.
Explorar as manifestações da cultura a que pertencem os estudantes é fundamental para a valorização de suas raízes, a autoestima, o autoconhecimento e a construção de sua identidade. O diálogo com o território e com a cultura local possibilita a identificação dos alunos com o espaço e o conhecimento escolar. Essa aproximação é necessária para se promover uma educação baseada no diálogo e no respeito à diversidade que caracteriza a sociedade brasileira.
Na Carta do Folclore Brasileiro, de 1951, em seu capítulo III, que trata de ensino e educação, estão presentes estas orientações:
2. Considerar a cultura trazida do meio familiar e comunitário pelo aluno no planejamento curricular, com vistas a aproximar o aprendizado formal e não formal, em razão da importância de seus valores na formação do indivíduo.
3. Envolver os educadores de diferentes matérias em torno do folclore, considerando-o um amplo campo de ação para os estudos e a prática da multidisciplinaridade.
[…]
11. Enfatizar a importância da participação de portadores de folclore nas atividades de ensino/aprendizagem em todos os níveis.”
Já na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre as 10 competências gerais estabelecidas está a de trabalhar o repertório cultural dos estudantes: “Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural” (MEC, BNCC, 2017).
Qual a importância as manifestações da cultura popular na formação integral de crianças, adolescentes, jovens e adultos?
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