Oficina: Vamos reconstruir nossa relação com o planeta?

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Oficina: Vamos reconstruir nossa relação com o planeta?

Oficina para reflexão sobre a relação destrutiva do ser humano com o planeta e com os animais. Autoria: Educação&Participação

O que é?

Reflexão sobre a importância da biodiversidade e sobre a relação destrutiva do ser humano com o planeta e com as demais espécies.

Materiais

Computadores, notebooks ou celulares com acesso à internet, folhas de papel pardo, canetas hidrográficas, pincéis e tinta guache

Finalidade

Reconstruir a relação com o meio ambiente e com as outras espécies no dia a dia.

Expectativa

Assumir comportamentos que contribuam para diminuir o impacto negativo da ação humana sobre o meio ambiente; cuidar bem
dos animais e das plantas.

Público

Crianças e adolescentes.

Espaço

Sala de aula, sala de atividades, biblioteca, centro cultural, ou ambiente on-line.

Duração

1 encontro de 1h30 cada


Início de conversa

O patrimônio natural da Terra é composto por minerais (terra, água, rochas, metais…), a atmosfera e seus fazes, as diversas espécies de seres vivos, como vegetais e animais – entre estes os seres humanos. Juntos, formamos os ecossistemas do planeta. Ou seja, tudo na natureza está interligado.

A biodiversidade, ou diversidade biológica, é o elo entre todos os organismos existentes na terra. Ela conecta cada um deles – inclusive os seres humanos – a um ecossistema interdependente, em que cada espécie desempenha sua função. É a chamada teia da vida, da qual dependem todos os seres vivos.

Biodiversidade é a biblioteca das vidas.”

Thomas Lovejoy, biólogo e ambientalista estadunidense
Ilustração animada de Rafael Varona

Apesar de todos os alertas de cientistas e ambientalistas, a forma como grande parte das sociedades humanas se relaciona com a Terra e seus ecossistemas é devastadora. Estamos usando 25% a mais recursos naturais do que nosso planeta é capaz de fornecer. O resultado disso é que espécies, habitats e comunidades locais estão sofrendo pressões e ameaças diretas, inclusive de extinção.

Estima-se atualmente 8,7 milhões de espécies de animais e plantas espalhados pelo globo. Estudos apontam estimativas trágicas: entre 1 milhão e 2 bilhões de espécies de animais, vegetais, fungos e bactérias podem ter sido dizimados pelas atividades humanas. Ou seja, o ser humano acelera em até mil vezes o processo natural de extinção.

Dessa forma, o risco à biodiversidade afeta nossa saúde e nossos meios de subsistência, pois dela dependem pessoas, famílias, comunidades, nações e gerações futuras. Um exemplo é a perda de acesso à água doce, o que já atinge diversos países e comunidades. Outros exemplos de como a biodiversidade afeta nossa vida:

  • ⚕️na saúde: estima-se que colhemos entre 50 mil e 70 mil espécies vegetais para uso na medicina tradicional e moderna em todo o mundo;
  • 🦐 na alimentação: aproximadamente 100 milhões de toneladas de espécies aquáticas, como peixes, moluscos e crustáceos, são retiradas da natureza todo ano;
  • 🏘️ na construção civil: a preservação de áreas verdes e da vegetação nas margens de rios evita contaminações e acidentes, como enchentes e deslizamentos, que comprometem a vida de pessoas e causas enormes prejuízos;
  • 🌦️ no clima: a vegetação exerce papel fundamental no regime de chuvas e na temperatura entre a terra e a atmosfera; isso fica evidente quando observamos os desertos, onde faz muito calor de dia e muito frio à noite, ou na Amazônia, onde, nas áreas em que a floresta está preservada, a temperatura ambiente entre o dia e a noite varia muito pouco (1,5 a 2 graus Celsius), já nas áreas desmatadas, a temperatura pode variar bastante (cerca de 10 graus Celsius).
  • 🌴no lazer: os ambientes naturais proporcionam diversas formas de recreação e lazer, como caminhar por uma trilha, canoagem, rapel, escaladas, contemplar belas paisagens, observar animais em seu hábitat natural, fazer piqueniques à sombra das árvores, colher frutos, meditar…

Enfim, há muito a se falar quando o tema é biodiversidade, equilíbrio ambiental e sustentabilidade. Mas como abordá-los com crianças e adolescentes? Um caminho é refletir como essa problemática está presente no nosso dia a dia e como cada um pode contribuir para uma melhor relação com a natureza.


Na prática

Anuncie que o personagem a ser discutido na roda do dia será o planeta Terra. Investigue que imagens já viram dela, se já leram alguma coisa a seu respeito, o que foi e em que circunstâncias.

Você pode explorar com a turma a imagem do globo terrestre em 3D, pelo Google Earth. Leve também algumas imagens de revistas e livros para circular entre elas e eles.

Pergunte:

  • Quantos anos vocês têm?
  • Qual a idade de seus pais e de seus avós?
  • Quantos anos a Terra tem? E há quantos anos o ser humano a habita?

Estimule que lancem suas hipóteses. Então conte que a ciência estima que a Terra exista há 4,5 bilhões de anos e a humanidade, há 2,5 milhões. É muito tempo, não? E como tem sido a relação entre o ser humano e a Terra? Amigável? Cuidadosa? O que acham?

📽️Animação: MAN

Diga que vai apresentar uma animação em que o autor faz a crítica da relação desrespeitosa do ser humano para com o planeta, para com a coletividade e, consequentemente, para si próprio, em razão de sua arrogância e individualismo.

Animação MAN, de Steve Cutts

A animação de Steve Cutts usa o humor para criticar o comportamento humano, que desrespeita a
natureza e causa grave desequilíbrio em todo o planeta. Explique que se trata de uma criação artística para expressar a visão do autor a respeito do fenômeno, por isso pode não corresponder exatamente à
realidade.

Após assistirem ao vídeo, abra a discussão sobre o assunto tratado:

  • Que ideias o artista quis apresentar com a animação?
  • Que sentimentos nos passa o personagem?
  • Concordam com o autor ou não? Por quê?

Considere com a turma que nem todos os seres humanos são como o personagem retratado e que essa questão não é apenas individual, mas social, econômica e cultural. A sociedade em que vivemos é fruto de um projeto de grupos sociais que detêm as riquezas produzidas por todas e todos, visam o lucro acima de outros valores e, com isso, estimulam e produzem o consumo exagerado das pessoas, para além do que é necessário para viver bem. Essa é uma situação que pode mudar, mas exige esforços coletivos e individuais, pois implica uma mudança no sistema econômico, na participação social das pessoas e nos valores.

Se elas(es) acharem um exagero a abordagem da animação, reforce que se trata de uma maneira simbólica de tratar do assunto, própria da linguagem artística, que permite ao artista criar situações às vezes exageradas, para explicitar as ações humanas e suas consequências.

Em seguida, apresente MAN 2020, segundo Cutts, uma atualização da primeira animação, dialogando com o contexto da pandemia de Covid-19 e o distanciamento social que muitos países viveram:

Animação MAN 2020, de Steve Cutts

Você pode fomentar a reflexão perguntando:

  • O que terá levado o artista a fazer essa sequência de MAN?
  • Na visão de vocês, a forma como ele apresenta esse momento da nossa história recente corresponde ao que vivemos?
  • Comparando a primeira e a segunda animação, o que podemos pensar a respeito da ação humana sobre a natureza e as outras espécies?
  • Para vocês, qual é a mensagem final da animação?
  • Vocês fariam um final diferente? Como seria?

Talvez elas(es) desejem falar sobre o contexto da pandemia e o que viveram. Nesse caso, é importante abrir espaço de acolhimento e escuta.

Provoque a turma a pensar que comportamentos coletivos e individuais seriam importantes para um novo panorama planetário e social. Abra duas folhas de papel pardo e registre lado a lado os comportamentos indesejados e as mudanças sugeridas, conforme forem falando.

Depois, convide a turma a montar um grande painel, com outras folhas de papel pardo, dispostas no chão e coladas com fita adesiva, representando as mudanças sugeridas por elas e eles. Disponibilize as canetas hidrográficas e os pincéis com tinta guache. Quando terminarem o painel, exponham numa das paredes da sala ou da instituição.


Hora de avaliar 

Abra a roda para a avaliação da oficina e peça que cochichem entre si, em duplas, se gostaram ou não das atividades e por que, o que foi mais significativo.

Que recados levariam para amigas(os) e família sobre o que debateram?

Socialize as observações das duplas e registre num cartaz, que deve ficar afixado na sala.


Para ampliar 

Um amplo debate envolvendo a comunidade, as escolas do entorno, lideranças do local e famílias para discutirem como podem, em seu âmbito de governabilidade, diminuir os impactos negativos da ação humana sobre o ambiente. Também poderão propor encaminhamentos para autoridades responsáveis por outros níveis de governabilidade.



Quem é o autor da animação MAN?


Steve Cutts é um ilustrador inglês, especializado em animação, que produz trabalhos que denunciam a forma de viver do ser humano, na atual sociedade de consumo, desrespeitosa com si próprio, com os outros habitantes do planeta e com o meio ambiente.

Segundo o filósofo Vladimir Safatle, em artigo para a revista Cult, edição 168, a:

arte nunca é o reflexo da vida social. Ela é, antes, a figura avançada daquilo que a vida social ainda não é capaz de pensar, daquilo que ainda não tem forma no interior de nossas formas hegemônicas de vida.”

Vladimir Safatle

A arte é uma possibilidade de crítica aos modos de organização da vida social que, por se tornarem rotineiras, nos parecem naturais ou inevitáveis. Ao provocar o estranhamento, pela forma de apresentar o que é destrutivo e devastador, a animação nos faz parar para pensar sobre o nosso modo de vida e a projetar novas formas e novos modos de organizar a sociedade.

Ainda segundo o filósofo, quando a arte perde a força de fazer a crítica da sociedade vigente, para que se busque uma outra forma de viver, “a vida social não é mais capaz de enxergar a imagem de uma nova sociedade possível”.

Na animação MAN, Cutts faz a crítica à ocupação do planeta pelo Homo sapiens, que segundo as teorias evolucionistas, surgiu entre 400 mil e 100 mil anos atrás e do qual os seres humanos modernos (Homo sapiens sapiens) evoluíram.

O vídeo nos faz pensar: por que foi assim? Por que é assim? Precisa continuar sendo assim? Só a reflexão sobre os fenômenos sociais que causaram tanta destruição no planeta pode nos levar a tomar iniciativas que revertam tal situação.


Os povos indígenas e a biodiversidade

Como bem apontou a liderança Krenak, Ailton, os territórios indígenas são as últimas fronteiras de reservas que estão sob os olhos famintos de destruição do projeto de humanidade que deu errado. É hora de pararmos, nos juntarmos para buscar soluções, imediatamente! Não há romantismo não, está acontecendo, olha ali, olha aqui, no Maranhão, no Pará. É muita destruição, pesca e caça dizimatória, hidrelétricas matando os rios, calor e secura. Vão-se corpos e almas juntos quando se inunda um território sagrado!”

Defesa dos territórios e futuro do planeta Terra, Artigo do prof. dr. Fabio José Cardias-Gomes (UFMA)

Instituto Serrapilheira: Webinar: Por que a ciência precisa de diversidade


Para saber mais


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