Escrevivência, Oralitura: conversa com Conceição Evaristo e Leda Martins
Entenda mais sobre esses dois conceitos e confira o evento on-line e gratuito promovido pelo Instituto de Arte Tear que reúne essas duas grandes mulheres negras
Ao usar os termos “escreviver” e “escrevivência” em sua dissertação de mestrado, em 1995, a escritora Conceição Evaristo criou, sem querer, um novo conceito. “Sem querer” porque ela nunca teve a intenção de criá-lo – como a escritora deixa claro em entrevista para o Portal Escrevendo o Futuro, em 2017.
Conceição Evaristo. Foto: reprodução
Nascida na capital mineira, Conceição Evaristo já escreveu romances, contos, poemas e ensaios. Com o seu livro de contos Olhos d´água, recebeu o Prêmio Jabuti em 2015. Graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalhou como professora da rede pública de ensino do Rio. Em 2017, foi a artista homenageada pelo Itaú Cultural com a Ocupação Conceição Evaristo, que além da mostra contou com conteúdo exclusivo disponibilizado em site especial.
Conceição já vinha experimentando com o termo “escrevivência” ao pensar nos seus escritos como fruto dos acontecimentos e das experiências pelas quais passou ao longo da sua vida, sempre marcados pela sua condição de mulher negra na sociedade brasileira.
No livro Escrevivência: a escrita de nós – reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo, a autora define o conceito como:
“Escrevivência, em sua concepção inicial, se realiza como um ato de escrita das mulheres negras, como uma ação que pretende borrar, desfazer uma imagem do passado, em que o corpo-voz de mulheres negras escravizadas tinha sua potência de emissão também sobre o controle dos escravocratas, homens, mulheres e até crianças. E se ontem nem a voz pertencia às mulheres escravizadas, hoje a letra, a escrita nos pertence também.”
Mas a escritora extrapola a sua ideia inicial, ao enxergar que toda pessoa que parte do seu cotidiano e das suas experiências de vida também podem estar “escrevivendo”. Como ela mesmo diz, na entrevista citada acima: “cada um traça a sua ‘escrevivência’”.
Oralitura, de Leda Martins
Leda Martins. Foto: reprodução
A ideia de resgate do passado e das memórias também está presente no conceito de “oralitura” de Leda Maria Martins. Uma das maiores pensadoras brasileiras no campo da dramaturgia e performance, ela usa o termo para designar as histórias e os saberes ancestrais passados não apenas através da literatura, mas também em manifestações performáticas culturais – como os congados.
É através do estudo desses festejos e dos reinados negros que ela trabalha a ideia de “oralitura”:
Aos atos de fala e de performance dos congadeiros denominei oralitura, matizando neste termo a singular inscrição do registro oral que, como littera, letra, grafa o sujeito no território narratário e enunciativo de uma nação, imprimindo, ainda, no neologismo, seu valor de litura, rasura da linguagem, alteração significante, constituinte da diferença e da alteridade dos sujeitos, da cultura e das suas representações simbólicas.”
Leda Martins. Afrografias da memória: o reinado do Rosário no Jatobá
Professora aposentada da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leda é poeta, dramaturga e ensaísta. Desde 2017, o Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte honra montagens de teatro, dança e performance da capital mineira e região metropolitana. A segunda edição do Prêmio, aliás, teve como tema a “escrevivência” de Conceição.
No sentido de explorar toda a potência desses dois conceitos, o Instituto de Arte Tear promove hoje (dia 3/9) o evento on-line “Escrevivência, oralitura – Conceição Evaristo, Leda Martins”. A organização, que trabalha há 40 anos com atividades para crianças e adolescentes e formação de docentes na área de arte, educação e cultura, convida as duas escritoras negras para uma roda de conversa. A transmissão será das 19h às 21h, pelo canal do YouTube do Tear. Clique no vídeo e ative o lembrete!
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