Iniciativas abertas e gratuitas proporcionam acolhimento, afeto e espaço para troca de saberes com mulheres de diferentes idades e perfis
Por Stephanie Kim Abe
Quando a pandemia começou, a professora e terapeuta holística Anita Presbitero se viu sem nenhuma vontade de ler. Não só ela, mas também outras mulheres que fazem parte do clube de leitura que administra há cinco anos em Recife (PE), o Floriterárias.
Foto: arquivo pessoal
A pandemia tem sido muito dura para todo mundo, mas em específico para as mulheres. A demanda de trabalho doméstico aumentou, o trabalho veio pra dentro de casa, o medo de perder entes queridos potencializou o adoecimento psicológico de muitas de nós, perdemos a vontade de ler.”
Anita Presbitero
Diante desse cenário delicado, a professora percebeu que era preciso que as mulheres se sentissem acolhidas para não se perderem nesse processo e voltarem a ter o prazer de ler.
Possibilidades do encontro remoto
Convite para encontro virtual/ Floriterárias
Além de recorrer à meditação e iniciar um grupo para essa prática, Anita manteve os encontros mensais do Floriterárias, que passaram a acontecer on-line. Apesar de não possibilitarem o contato físico, o toque e o abraço entre as participantes, com o novo formato, os encontros ganharam em escala e possibilidades – como a de trazer escritores(as) convidados(as) para falar sobre o seu processo criativo e contar com participantes de outras regiões e até de fora do Brasil.
O encontro deste sábado (dia 3/7), por exemplo, já tem a presença confirmada do escritor Lawrence Hill, para fechar as leituras de maio e junho que foram dedicadas à sua obra O livro dos negros. Na última roda presencial, ocorrido em um sábado de março de 2020, estiveram presentes cerca de 40 mulheres. Os encontros remotos têm chegado a contar com 50 pessoas.
Resenha de O livro dos negros
Convite Floriterárias
O clube é aberto para qualquer mulher maior de 18 anos que queira participar. As obras são escolhidas por Anita, levando em consideração as sugestões das participantes, o tamanho do livro (que deve ser lido em cerca de um mês) e o preço.
Com o cuidado de tornar as propostas o mais acessível possível, ela busca fazer parcerias com livrarias ou editoras, faz pesquisa em sebos e certifica-se de que há versão digital das obras a serem lidas. Amante dos livros desde pequena e frequentadora de espaços literários, Anita mantém o clube de leitura exclusivo para mulheres a fim de que elas se sintam confortáveis e livres para expressar suas opiniões:
Esse não é só um clube de leitura. É um clube de cura, de poder, de força, que proporciona um encontro literário onde nós nos alimentamos. É um lugar onde nos sentimos seguras e podemos falar sobre as nossas intimidades, ideias, fragilidades, dores, dúvidas. A pandemia veio reforçar essa ideia e mostrar que o clube de leitura serve como um abraço, que chega não de forma física, mas como um acolhimento, mesmo virtual.”
Assim como o Floriterárias permite um encontro de gerações de diferentes mulheres, o projeto Leitoras Literárias também. Organizado pelo Coletivo de Esquerda Força Ativa e a Biblioteca Comunitária Solano Trindade, esse clube de leitura foi primeiro idealizado para promover encontros presenciais com até 20 mulheres da Cidade Tiradentes, bairro paulistano onde está localizada a biblioteca. Com a pandemia, porém, os encontros têm ocorrido on-line.
Foto: arquivo pessoal
A diferença é que o foco do Leitoras Literárias é a leitura de obras de mulheres negras. Suilan de Sá, integrante do Coletivo de Esquerda Força Ativa, coordenadora e mediadora de leitura da Biblioteca Comunitária Solano Trindade, explica:
A ideia dessa atividade é permitir que as mulheres falem quais foram os impactos dessa leitura na vida delas, tragam os pontos que as sensibilizaram mais, compartilhem se tiveram alguma lembrança específica… é um diálogo mesmo.”
Suilan de Sá
A primeira edição aconteceu em março e foi fechada com um grupo de mulheres em situação de alta vulnerabilidade em parceria com o Coletivo Mulheres Búfalas. A obra escolhida foi Carta a minha filha, de Maya Angelou.
Resenha de Carta a minha filha
A segunda edição, que começou este mês, conta com 40 participantes, que estão lendo Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Em agosto, devem ser abertas as inscrições para o terceiro ciclo, que será dedicado à Deus ajude está criança, de Toni Morrison. Cada obra será discutida em dois encontros quinzenais.
Para Suilan, a diversidade de leitoras e experiências têm trazido trocas interessantes. O mais difícil, porém, é garantir o acolhimento a todas de forma on-line, sem tornar o encontro cansativo:
Não conseguimos ficar muito tempo em frente às telas. Três ou quatro horas costuma ser muito. As mulheres, às vezes, estão chegando do trabalho, algumas entram no meio do encontro, então a maior dificuldade tem sido ter tempo para poder escutar todas. Mas tivemos uma experiência muito legal nesses primeiros encontros, com relatos de participantes que se sentiram à vontade para compartilhar suas visões e tem visto ligação entre a obra e suas vidas.”
Ainda que clubes de leitura não seja uma novidade, os grupos voltados para a leitura exclusiva de obras escritas por mulheres se popularizaram após 2014, quando a escritora britânica Joanna Walsh começou o movimento #readwomen (#leiamulheres).
A iniciativa chegou no Brasil em 2015, por meio de um clube de leitura organizado em São Paulo por Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques.
Desde então, os clubes de leitura Leia Mulheres se expandiram e estão presentes em todos os estados brasileiros. Eles são gratuitos e abertos a todos e todas, e tem acontecido on-line durante a pandemia.
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Nossaaaaaaa!!!! Ouvindo esta moça dissertar sobre Maya Angelou fiquei prenhe de vontades de correr para cassa e a ler a poesia completa da autora.
Obrigado!!!
Bom dia, Carlos. como vai? Muito inspiradora, não? Que bom receber seu comentário igualmente motivador! Nós que agradecemos pela participação!