Texto de Isabela Alves sobre a animação Hair Love e o papel da representatividade positiva da população negra na educação
por Isabela Alves
Pensar a representatividade negra está para além de fotos, marcas, propagandas, roupas. Consumo. É fomentar, premiar e olhar-observar novas construções de narrativas que buscam ilustrar como pessoas pretas, em suas diferentes formas, traços, tons, cabelos, realidades, existem para além do espectro da sobrevivência e violência.
Hair Love. Foto: reprodução
Condicionadas ao confinamento da solidão, dó, pobreza e exaustão, pessoas negras passaram agora, 130 anos após nossa abolição, a se ver como seres humano que, por exemplo: têm um pai – presente – que arruma o cabelo da filha – crespa, preta, menina.
O curta Hair Love (“Cabelo amor”, tradução poética livre) vem como um recado da inversão de narrativa e de lugar: nós podemos, sim, aparecer nas telas, nos prêmios, nas animações como pessoas que se amam, que se aquilombam construindo famílias pretas – invertendo a lógica do embranquecimento.
No campo pedagógico, a importância da narrativa negra positiva, longe dos estereótipos de escravização e violência, é de extrema necessidade. Carecemos do crescimento saudável das nossas crianças-erês negras, que se vejam como seres humanos em suas diversas formas.
A professora, ou professor, pode usar esse filme, esse exemplo, como ponto de partida para repensar a estrutura daquilo que ensina: em que lugar reside a imagem preta, quando falamos de história? Quando falamos de filosofia? Quando falamos de escrita?
A crítica à forma de colocar o negro no mundo é um dos mecanismos fundamentais para, então, se ter atitudes antirrascistas. Como diz Davis, é preciso ser antirrascista, o que, no país Brasil, é uma urgência.
Angela Davis. Foto: Reprodução.
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.”
Angela Davis é uma filósofa estadunidense e ativista do feminismo negro. Nos anos 1960 e 1970, integrou o Partido dos Panteras Negras, destacando-se por sua luta pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos. Entre seus livros, estão: Mulheres: raça e classe (2016), Mulheres, cultura e política (2017) e A liberdade é uma luta constante (2018).
Para pessoas negras, vejam e se emocionem com Hair Love. São alguns minutos de momentos que vivemos vida inteira – e não pudemos assistir. É lindo, simples e atravessador.
Para pessoas não negra, brancas, vejam Hair Love atentos, é tempo de mudar certo olhar aprisionador sobre nossos corpos. Nós nos amamos. Reside aqui a liberdade que lutamos para ter.
Isabela Alves. Foto: Filipe Ramos.
*Jovem mulher, de 21 anos, que atualmente cursa Letras na Universidade de São Paulo (USP). Estagiou na Diretoria de Difusão e Mídias (DDM) do CENPEC Educação.
Para além de estudante e estagiária na área de curadoria em publicidade, faz-produz-vive arte. Atravessando as linguagens, produz colagens digitais, desenhos, telas, bordados e poesias.
Lançou recentemente a zine Ebó de Pele, com a necessidade de ver sua narrativa circulando. Hoje, existe no mundo enquanto uma mulher preta lésbica em diáspora. Rede: @afrobela__
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