Autora da oficina: Jacqueline Peixoto Barbosa, professora do Departamento de Linguística Aplicada da Unicamp. Publicada originalmente na Plataforma do Letramento
Criação de sequência de músicas com comentários escritos (relatos, apreciações) de forma semelhante a um programa musical de rádio.
Material
Computador, tablet ou celular com programa de edição de áudio, como o Audacity.
Finalidade
Exercitar a curadoria, elegendo um critério para seleção e organização de canções e operando escolhas de forma adequada.
Desenvolver habilidades de leitura, como localizar informações explícitas, realizar inferências, tecer intertextualidade, fazer relações entre o verbal e o não verbal, entre outras, na compreensão das canções, seja para decidir se pode ou não ser incluída em uma playlist, seja para refletir sobre que comentários sobre ela são pertinentes.
Pesquisar diferentes fontes e tratar (parafrasear) informações sobre as canções para construir um texto articulado (evitando o “copiar e colar”).
Descrever, explicar e apreciar/comentar/argumentar.
Promover situações em que os alunos sejam mais protagonistas e lidem com a diversidade, com as diferenças de forma respeitosa.
Ampliar os multiletramento, contemplando diferentes culturas, linguagens e mídias.
Apropriar-se de critérios de apreciação estética.
Desenvolver habilidades ligadas ao uso da linguagem oral pública, mais especificamente relacionadas à locução de programas de rádio.
Expectativa
Possibilitar a formação de sujeitos competentes e críticos no uso de ferramentas tecnológicas, que compreendem implícitos e escolhas, e que explorem de forma transformadora as informações, os conhecimentos e as ferramentas disponíveis para seus projetos comunicativos.
Público
Alunos do ensino fundamental e médio
Espaço
Sala de aula, computação, ou outro espaço com computador e acesso à internet
Duração
2 a 3 encontros de 1 a 1h30
Início de conversa
“Dedico esta música para Guilhermina Viana, do Largo do Rosário.” Quem nunca recebeu ou dedicou uma música a alguém, gravou uma fita ou lembrou algo (ou alguém) ouvindo alguma canção? É praticamente impossível dizer não a todas essas perguntas.
As tecnologias digitais de comunicação e informação (TDIC) facilitaram muito essas práticas. Podemos, por exemplo, enviar a qualquer momento uma canção para alguém, que pode ouvi-la instantaneamente (ou quando quiser). Com o celular, também podemos ouvir música em quase todos os lugares.
As TDIC permitem que qualquer um faça coisas que antes só iniciados (ou profissionais) faziam ou que nós mesmos fazíamos mas dispendendo muito mais esforço e tempo. Conhecer um CD de um compositor tal e qual ele o concebeu − a ordem das canções planejada, o encarte, as imagens, o design da capa (e da contracapa), entre outros − permite entender melhor a proposta apresentada pelo artista, ampliando os sentidos de suas composições. Mas isso não nos impede de ouvir só algumas das canções de um CD, na ordem em que escolhermos, misturadas ou não às de outros CDs e compositores/cantores.
Ícones tecnológicos dos anos 1980
Antigamente, tínhamos que gravar fitas para isso. Gravávamos faixas de LPs ou músicas que tocavam em rádio. Quase sempre traziam o jingle da rádio ao final, que tínhamos que cortar, muitas vezes de forma abrupta. Tínhamos que ouvir a música inteira e apertar as teclas REC no início de cada gravação e STOP ao final. Gastávamos muitas horas para gravar uma fita com cerca de 20 músicas. Hoje, gastamos apenas alguns minutos para selecionar músicas e montar uma playlist com uma infinidade delas.
As playlists podem vir acompanhadas de apresentações, relatos, apreciações e comentários, de forma semelhante a um programa musical de rádio, podendo então ser chamada de playlist comentada. Ela pode intercalar texto escrito e os links das canções, ou contar com uma locução − nesse caso, o texto é oral, o que supõe a utilização de algum editor de áudio.
Playlist: ao pé da letra, significa “lista de reprodução” – de músicas, vídeos, entre outros. Pode incluir sites, imagens, artigos, games etc.
Aqui será proposto o segundo tipo de playlist (comentada com textos escritos), mas nada impede que as atividades sejam adaptadas para contemplar o primeiro tipo (com locução). Para alunos em alfabetização, essa última pode ser uma alternativa interessante. Outra ideia é a produção coletiva de uma playlist da turma em que o professor é escriba de parte dos textos.
Na prática
Sugestão de encaminhamento
Converse com os alunos sobre:
Quais são as suas preferências musicais, costume (ou não) de ouvir músicas?
Em que circunstâncias o fazem?
Que gêneros musicais e compositores/intérpretes costumam ouvir?
Produzem ou ouvem playlists, como e onde fazem? etc.
Proponha a exploração de playlists simples e comentadas.
Desmontando uma playlist
Proponha que escutem uma playlist (sugerimos Denúncia de versos), procurando analisar os comentários que antecedem e sucedem as canções:
Qual o critério para seleção das músicas?
Que tipo de informação é oferecida?
O que é comentado sobre cada canção?
Denúncia de versos: que pessoas e fatos são retratados na música da playlist? O que é denunciado? Na primeira canção – “Miséria S.A.” −, o que está em foco são os pedintes (anônimos) que vivem à margem da sociedade de consumo, sendo a miséria o objeto da denúncia. Na segunda canção, as promessas políticas vazias (veiculadas por um discurso político que aparece ao fundo no início da canção) é um dos alvos da crítica, bem como a fome, a miséria e a violência. Finalmente, a canção de Noel Rosa – “Onde está a honestidade?” − deixa claro no título que o alvo da crítica é a desonestidade, a corrupção etc. A que se deve o nome do grupo Farofa Carioca? O que pode sugerir esse nome? Por quê? (O nome “Farofa” faz menção à mistura de diferentes ritmos e estilos − funk, rap, samba, até discurso político − para criar uma canção.)
Releituras musicais: critério para seleção das músicas − versões de canções conhecidas para o público infantil. São oferecidas informações sobre autoria das canções, ano de produção, álbum a que pertence, sucesso obtido etc. Os comentários sobre as canções incluem considerações sobre ritmos e instrumentos utilizados.
Periferia em destaque: critério para seleção das canções − compositores da periferia que tiveram destaque fora do Brasil. Tipo de informação oferecida: origem dos compositores/banda (que nesse caso é importante, dado o mote da playlist − o sucesso dentro e fora do país), participação do grupo em ações sociais, sucesso da canção, outros intérpretes etc. Os comentários incluem considerações sobre o fato de que a origem dos compositores é perceptível nas canções (vozes da periferia se fazem presentes), comparações com outras versões, gênero, ritmo, tema das letras das canções, entre outros.
Você pode propor que os alunos leiam o roteiro utilizado para produzir essas playlists. Destaque falas e informações que a playlist apresenta, cada uma das canções e comentários sobre aspectos variados das canções Explore os sentidos das canções e/ou trabalhe a compreensão do texto das playlists.
Indique canções e peça que digam com qual combinam aqui ou simplesmente se determinada canção poderia integrar a playlist de um determinado tema. Por exemplo: “Mosca na sopa”, de Raul Seixas, poderia compor uma playlist de canções de protesto? “Apesar de você”, de Chico Buarque, poderia integrar essa playlist?
Curadoria: produzindo uma playlist
Curadoria: conceito oriundo do mundo das artes. O termo vem sendo cada vez mais usado para designar ações e processos próprios das redes: conteúdos e informações abundantes, dispersos, difusos, complementares e/ou contraditórios e passíveis de múltiplas interpretações, que precisam ser reorganizados para se tornarem inteligíveis ou ganhar outros sentidos. A curadoria sempre implica escolhas, seleção, forma de apresentar, ordenar, hierarquizar conteúdos/informações (ROJO e BARBOSA, 2015).
Uma atividade interessante é sugerir ou indicar uma temática, algumas canções e pedir que selecionem três músicas e montem uma playlist. Por exemplo: levando em conta os acontecimentos recentes no Brasil, solicite que produzam uma playlist comentada com três canções, dentre uma lista dada, que possam captar o clima do país, acrescida ou não de outras escolhidas. Sugestões:
“Brasil” (Cazuza, Nilo Romero e George Israel)
“Aquarela do Brasil” (Ari Barroso)
“É” (Gonzaguinha)
“País tropical” (Jorge Ben Jor)
“Aquarela brasileira” (Silas de Oliveira)
“Aos olhos de uma criança” (Emicida)
“Chega” (Gabriel, O Pensador)
“Polícia” (Titãs)
“Que país é esse” (Legião Urbana)
“Índios” (Legião Urbana)
“Nenhum motivo explica a guerra” (Afroreggae)
Muitas canções podem ilustrar o clima do país, dependendo do texto que apresenta e comenta a playlist. Assim, as mais diretamente relacionadas à crise política e ao debate sobre corrupção que tomou conta do país seriam “Brasil”, “É”, “Que país é esse?”, “Chega”. Mas também seria possível escolher a canção “Polícia”, se a playlist focar a atuação das forças policiais nas manifestações de rua, por exemplo.
Outras, como “Nenhum motivo explica a guerra”, “Milagres/Misérias” e “Aos olhos de uma criança”, denunciam mais a violência e a miséria e, eventualmente, por meio de alguma conexão estabelecida, como os efeitos da corrupção para o restante do país, poderiam também ser escolhidas.
Difícil seria justificar a escolha, diante da situação dada, de “Aquarela do Brasil”, “Aquarela brasileira” ou “País tropical”, salvo se os comentários se pautarem pela ironia ou tratarem da alienação diante do quadro em discussão.
Na montagem de uma playlist como essa, é interessante orientar os alunos a pesquisar determinada canção ou grupo musical em diferentes fontes e trabalhar com eles a produção de um texto que parafraseie as informações de forma concatenada e adequada à apresentação da playlist, em geral caracterizada por linguagem bastante informal.
Proponha a produção, em grupo, de uma playlist comentada de três canções (uma lista maior dificulta depois a escuta e a troca entre todos. Além disso, uma playlist menor obriga ao exercício da escolha).
Para isso, é necessário: • definir o critério/tema da playlist comentada; • escolher as canções; • buscar informação sobre as canções; • fazer a roteirização da playlist (acesse aqui o modelo de roteiro); • treinar a leitura do roteiro; • gravar e editar a playlist, usando um editor de áudio, como o Audacity.
Antes de gravar a playlist comentada, é adequado prever a entrada das falas de forma alternada com as canções.
Referências:
COPE, B.; KALANTZIS, M. (Org.). Multiliteracies: literacy learning and the design of social futures. New York: Routledge, 2005.
ROJO, R.; BARBOSA, J. P. Multiletramentos e currículo no Ensino Integral – Anos iniciais do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2015. (Circulação restrita.)
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