Pequeno dicionário de termos polêmicos no debate político
Ideologia de gênero, feminismo, patriotismo são alguns dos termos abordados na publicação, que também é voltada para jovens; saiba como utilizá-lo em sala de aula
Por Stephanie Kim Abe
Devemos ao Movimento Escola sem Partido a disseminação nacional das acusações de “doutrinação ideológica” nas escolas, que passaram a ocorrer com mais frequência a partir de 2014. Foi esse movimento conservador que buscou a aprovação, no Congresso Nacional, da Lei da Mordaça, que exigia uma certa neutralidade de educadoras e educadores em sala de aula, e que tentou tirar as menções à igualdade de gênero e sexualidade nos planos municipais e estaduais de educação.
A tirinha abaixo retrata como esses grupos conservadores enxergam o que eles chamam de “ideologia de gênero”:
O material traz expressões polêmicas, que têm sido frequentemente usadas no debate político brasileiro como acusações, e faz um resgate da sua história, do seu significado e de como elas passaram a ser instrumentalizadas por grupos conservadores de direita para desqualificar pautas que não se alinham a seus interesses.
Como explica Rodrigo Borba, linguista professor do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ):
Foto: acervo pessoal
Quando você acusa alguém e essa pessoa não tem como mostrar que essa acusação não tem nenhum embasamento, a acusação acaba se transformando em verdade. Então uma das nossas vontades era justamente dialogar com professores e professoras, que têm sido perseguidos por ‘ideologia de gênero’ ou linguagem neutra, para dar algum tipo de subsídio para se defenderem. A ideia foi trazer esse conhecimento científico de forma acessível, por meio de textos curtos, em linguagem informativa e mais jornalística, que não vão exaurir o assunto, mas dão um bom material, não só para poder desviar das acusações, ou contra-argumentar mas também ser usado em sala de aula”.
Rodrigo Borba
Diferentes recursos e edição para trabalhar com os jovens
Além de “ideologia de gênero”, aparecem no Pequeno dicionário “politicamente correto”, “marxismo cultural”, “ideologia”, “feminismo”, “racismo reverso”, “cristofobia” e “patriotismo”.
Por serem polêmicos, pode ser difícil trabalhar com eles em sala de aula. Por isso, as pessoas organizadoras do material tiveram o cuidado de garantir uma linguagem objetiva e não planfletária, para também conversar com o público que pode ser mais alinhado a esse discurso.
“Não buscamos desqualificar os termos, mas manter uma linguagem acadêmica acessível e objetiva, mas de uma objetividade crítica. O nosso sonho é que pessoas que acreditam em ‘ideologia de gênero’ ou ‘racismo reverso’, por exemplo, leiam o texto e comecem a pensar, ter dúvidas sobre o seu real uso”, explica Rodrigo.
O “Pequeno dicionário”, na verdade, é composto de dois e-books: um voltado para o público geral e outro voltado especialmente para estudantes do ensino médio. Neste último, os textos são ainda mais curtos e com uma linguagem mais descomplicada. Para isso, foi utilizada uma ferramenta que avalia o nível de dificuldade do texto, que ajudou nesse processo chamado pela área de estudos da Linguagem de “tradução intralinguística” – ou seja, a tradução de um texto dentro de uma mesma língua, mas com foco em público e metas diferentes.
Rodrigo sugere que as(os) professoras(es) trabalhem os termos a partir das perguntas que são levantadas nos próprios verbetes, que podem dar bastante espaço para discussões.
Também é possível trabalhar a partir das tirinhas que acompanham cada um dos termos, como a retratada acima, ou dos vídeos que foram disponibilizados no YouTube com os pontos principais de cada termo.
Para aquelas(es) que ainda se sentirem inseguros em trabalhar diretamente com os termos, Rodrigo dá outra dica:
O dicionário pode ser um material de suporte para uma aula de português que trabalha como fazer resumo, por exemplo. O docente pode pegar os dois dicionários, o que tem os textos mais longos e o que tem os textos mais curtos, e utilizá-los para mostrar como identificar os pontos centrais dos textos, qual a ideia principal etc. É possível utilizar ainda as tirinhas e os vídeos como outros exemplos de resumos”.
Rodrigo Borba
Trabalho em progresso
Até setembro, a organização da iniciativa deve ainda incluir mais cinco verbetes que têm estado em alta e não entraram nesta primeira versão do material. “Devemos colocar ‘linguagem neutra’ e ‘liberdade’, por exemplo, que esteve em bastante discussão com a questão da vacina e a ideia de ter liberdade sobre o que ‘colocar’ no corpo’”, explica Rodrigo.
Ele espera que os e-books circulem não apenas nas escolas, entre movimentos da sociedade civil e políticos, mas também cheguem às famílias. “Essas palavras aparecem nas conversas na mesa do jantar e as pessoas brigam muito por causa delas, principalmente os jovens. Então este é um bom material para educação política de todos e todas”, diz.
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