A violência simbólica de atacar uma faixa

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A violência simbólica de atacar uma faixa

Manifestantes pró-governo censuram a frase "Em Defesa da Educação", em prédio da UFPR, em Curitiba

Os atos de rua ocorridos neste domingo, 26, em dezenas de cidades brasileiras, em apoio ao governo Bolsonaro e crítica ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, que estariam obstruindo os projetos do presidente da República, tiveram um momento surpreendente em Curitiba.

Manifestantes arrancaram uma faixa estendida em prédio da Universidade Federal do Paraná, com os dizeres “Em defesa da educação”. A faixa foi colocada no último dia 15 de maio, durante ato de protesto também de alcance nacional, contra os cortes anunciados pelo Ministério da Educação, que atingem da educação infantil à superior.

Os cortes são considerados excessivos e deverão inviabilizar muitas instituições federais de ensino, em especial seus centros de ciência e pesquisa, e os diversos serviços que prestam às comunidades onde se localizam.

A faixa retirada, de cor preta com letras brancas, não continha nome ou marca de nenhuma organização política. Apenas as hashtags #OrgulhoDeSerUFPR, #UniversidadePública e #EuDefendo.

Ela manifestava de forma neutra, portanto, a vontade majoritária do setor educacional brasileiro, de defender o sistema federal de ensino e pesquisa. No entanto, foi julgada “ideológica” pelos manifestantes de ontem e retirada sob aplausos.

Até o momento, nenhum dos grupos organizadores dos atos governistas censurou o episódio. O presidente Jair Bolsonaro, seus ministros e parlamentares de sua agremiação, o Partido Social Liberal (PSL), mantêm silêncio sobre o assunto. Veja o momento em que a faixa foi retirada.

Pelo forte simbolismo da retirada de uma faixa que defende a educação, o episódio vem causando repúdio nos meios educacionais e uma intensa polêmica nas redes sociais.

O cartunista Alberto Bennett resumiu numa charge o inconformismo com a violência simbólica praticada pelos manifestantes.

Na manhã desta segunda-feira, 27, a presidente-executiva do movimento suprapartidário Todos Pela Educação, que milita pela qualificação da educação brasileira e tem o apoio do CENPEC Educação, publicou no Facebook um comentário que resume o sentimento do campo educativo.

“Ser pela educação não é ser direita, nem esquerda; não é ser pró ou contra um partido ou governo”, escreveu Priscila Cruz. “Ser pela educação é acreditar que todas as crianças e jovens devem ter a oportunidade de uma vida melhor. O Brasil será muito maior e mais justo se seguirmos juntos pela educação”.