Documentário, pontos de vista e linguagens

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Documentário, pontos de vista e linguagens

Equipe da Olimpíada de Língua Portuguesa, do Programa Escrevendo o Futuro lança Especiais por Gêneros sobre documentário

Por Suzana Camargo

É fato que a linguagem audiovisual e a produção de vídeos em celulares e apps já faze parte do cotidiano das pessoas. A escola precisa buscar as melhores formas de incorporar ao cotidiano da sala de aula os conteúdos multimídias. Certamente, esta proposição chegará mais perto dos jovens e das crianças que parecem ter nascidos com esta habilidade  adquirida.

Levando em conta esta realidade, a inclusão do gênero Documentário é uma das novidades da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, em 2019. Uma página exclusiva sobre o gênero foi lançada pela equipe técnica do concurso, na série Especiais por Gênero.

Pensar em movimento

A ampliação do letramento escolar e o cumprimento de preceitos legais estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio são dois dos oito motivos pelos quais o gênero Documentário foi incluído nas categorias de inscrições da Olimpíada de Língua Portuguesa.  

A página estimula professores a desenvolver atividades em sala de aula com o gênero. Dois capítulos extraídos do caderno sobre Documentário, da própria Olimpíada trazem vasto conteúdo sobre o tema, ensinando os diversos processos, nomenclaturas.

Conheça a página

Documentário na sala de aula

Esdras Soares, da equipe técnica da Olimpíada e um dos responsáveis pela montagem da página sobre Documentário, destaca a importância da linguagem audiovisual em sala de aula.

Cotidiano digital

Na sociedade contemporânea o uso das imagens em movimento, desde o surgimento do cinema, foi acentuada com a produção e o compartilhamento de materiais audiovisuais na internet.

Hoje em dia, podemos dizer que os jovens são nativos digitais. Estão a todo o momento com o celular na mão registrando tudo que veem e postando nas redes sociais, ou seja, essa cultura das imagens já faz parte do cotidiano das pessoas.”

Ampliação do letramento escolar

Esdras chama a atenção para a necessidade de se ampliar e se aprofundar a linguagem  audiovisual no ambiente escolar.

Cabe à escola e, principalmente, às aulas de língua portuguesa, capacitar os alunos para trabalhar a linguagem nas mais variadas vertentes. Verbais, não verbais e multimodais. Desta forma, trabalhar o documentário em sala de aula cumpre o papel de ampliar o letramento dos estudantes.”

A integração de múltiplas semioses, argumentação, progressão temática, coesão e coerência, são aspectos que o trabalho com o Documentário propicia, por sua abrangência social e cultural. Além disso, conforme indica o caderno sobre o gênero, “pode ser utilizado pedagogicamente em proveito da formação de um posicionamento ético e político diante das imagens”, orienta Esdras

Instrumento de transformação social

As atuais tecnologias de informação e comunicação transformaram o eixo da produção e disseminação de produtos culturais/midiáticos. Com a mudança, negros, índios e outras chamadas minorias, passaram a produzir vídeos e com isso ganharam visibilidade. É este o contexto em que se insere a produção de documentários, que muitas vezes, tem em sua raiz o desejo de mudar realidades.

“O trabalho pedagógico com documentário pode estimular os estudantes a terem um novo olhar para a região em que residem e por exigir uma postura mais ética e crítica, pode também ser um instrumento de transformação social”, acrescenta Esdras.

Multigramática

Autora do caderno da Olimpíada sobre documentário, a especialista Cristina Teixeira Vieira de Melo destaca que o audiovisual possui uma gramática própria, fruto não apenas do desenvolvimento tecnológico dos equipamentos de captação e edição de imagens, mas do uso que se faz dos recursos existentes.

“Essa gramática serve tanto para os filmes de ficção quanto para os documentários, a prática do uso dessas linguagens faz com que os jovens trabalhem valores morais, sentimentos, opiniões críticas, ética e outros conceitos”, comenta.

As oficinas propostas nessa publicação são reproduzidas da página sobre Documentário. Na Oficina 1, por exemplo, Cristina explica que o documentário está associado ao campo do jornalismo, porque ambos, jornalismo e documentarismo, são tomados como discursos que buscam oferecer acesso ao real, à verdade.

No entanto, tal objetivo é inalcançável, pois a representação do mundo é sempre determinada por um ponto de vista, nunca é a coisa em si mesma.”

O documentário Pescaria de Merda (de Santa Madeira, 2009) foi incluído no especial e mostra crítica social a partir da multilinguagem do audiovisual.

O olhar do documentarista

No livro O que é documentário? (Editora Sulina, 2001), Fernão Pessoa Ramos define o gênero como “uma narrativa produzida com imagens feitas a partir de uma câmera de filmagem, que estabelece asserções sobre o mundo, na medida em que haja um espectador que  receba   essa   narrativa   como   asserção   sobre   o   mundo”.

Fernão, docente do Departamento de Cinema do Instituto de Artes da Unicamp, comenta  ainda que “na ampla maioria dos casos, efetivamente, sabemos o que significa uma narrativa documental, que tipo de imagens contém, e reagimos, enquanto espectadores, a este saber. Socialmente, uma série de procedimentos nos informam o tipo de narrativa a que estamos tendo acesso”, explica.

Autor de outras obras sobre cinema e audiovisual, o escritor aponta que a natureza das imagens e, principalmente, a dimensão da tomada (posicionamento da câmera) através da qual elas são constituídas é o que determina a “singularidade da narrativa documentária em meio a outros enunciados assertivos, escritos ou falados”.

Documentário, curta-metragem e outros materiais

O conteúdo deste Especial por Gênero ainda relaciona documentário, filme de ficção e jornalismo e traz exemplos de tipos de documentário, incluindo uma relação de curta-metragem.

Entre eles, Huni Kuin, de Danilo Arenas Ireijo, que mostra a luta de lideranças dessa tribo indígena milenar, localizada no rio Envira (Acre) em defesa de seus direitos e cultura. E O Vermelho Selarón (foto), de Rafael Bacelar e Rodolfo Gomes, que retrata a história do artista chileno Jorge Selarón e seus trabalhos de pintura e azulejaria na escadaria da rua Manoel Carneiro, no bairro da Lapa, Rio de Janeiro.

Orientações sobre como produzir um projeto de documentário, escrever sinopses e sugestões de sequências didáticas e leituras estão à disposição do público que acessa o especial. Há também uma entrevista com a cineasta e sócia fundadora da produtora Maria Farinha Filmes, Estela Renner.

A Olimpíada é uma iniciativa do Ministério da Educação e integra as ações desenvolvidas pelo Programa Escrevendo o Futuro, realizado pelo Itaú Social, com coordenação técnica do CENPEC Educação. É um concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas de todo o País.

Você sabia?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio incluem o cinema como uma das formas artísticas que podem ser lecionadas nas aulas obrigatórias de arte.

A Lei nº 13.006, de 26 de junho de 2014, por seu turno, obriga a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica de, no mínimo, duas horas mensais.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça a importância do trabalho com as práticas de linguagem contemporâneas.