Seminário de Aprendizagem Solidária discute educação voltada à sociedade

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Seminário de Aprendizagem Solidária discute educação voltada à sociedade

Evento abordou currículo, protagonismo juvenil, intervenção social e educação integral, entre outros temas, na Câmara Municipal de São Paulo. Assista ao vídeo e baixe os materiais

Por João Marinho

Aconteceu em 29/03 o I Seminário Internacional de Aprendizagem Solidária. Promovido pela Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária, o evento reuniu cerca de 200 participantes entre 9h e 17h no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo. Assista à reportagem em vídeo.

Aprendizagem solidária e articulação

Na abertura, o Seminário Internacional contou com as participações do assessor de relações institucionais do CENPEC e coordenador da Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária, Alexandre Isaac; do vereador paulistano José Police Neto (PSD); Miguel Thompson, diretor-executivo do Instituto Singularidades; Raphael Callou, diretor do escritório da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) no Brasil; e Mônica Gardelli Franco, diretora-executiva do CENPEC.

Police Neto destacou a importância desse encontro de educadores para o Brasil de modo geral. Para o vereador, a educação passou a ser objeto de estudo de técnicos, deixando a população afastada do tema. Um dos aspectos positivos da aprendizagem solidária, segundo o vereador, é justamente trazer para perto e ouvir a comunidade naquilo que é importante para ela.

Já Raphael Callou, da OEI, destacou a relevância do evento e da proposta da aprendizagem solidária de considerar a realidade dos territórios na educação e a importância de articulações nacionais e internacionais, como a Rede Brasileira: “A Rede é importante para a OEI, pois contribui para o reconhecimento da atuação da Organização na região ibero-americana e fortalece a articulação dos escritórios da OEI com os municípios brasileiros e em países (…) como a Argentina, Colômbia, entre outros”.

Mônica Gardelli Franco, por sua vez, fez menção ao legado de Paulo Freire e do mundo em construção, para pontuar a importância de um dos aspectos centrais da aprendizagem solidária: os projetos de intervenção na comunidade: “O tema solidariedade (…) às vezes é discutido numa perspectiva de assistencialismo, e o seminário o reposicionou como uma referência de ação dentro da escola e como uma forma de aprendizagem e desenvolvimento, em conjunto com a sociedade”.

Mesas de debate

O seminário contou com três mesas temáticas após a abertura: A intervenção social como teoria e prática pedagógicaEducação integral, currículo e aprendizagem solidária; e Juventudes, territórios e aprendizagem solidária. Durante todo o dia, os participantes trouxeram conceitos, metodologias  e experiências comprovadas de aprendizagem solidária na América Latina, além de currículo e protagonismo juvenil.

Fernando Almeida, da PUC-SP, destacou os pontos de contato entre aprendizagem solidária e educação integral, e Macaé Evaristo falou das potencialidades que a aprendizagem solidária traz à emancipação dos sujeitos, tanto no sentido de trabalhar o pertencimento ao território quanto à formação de redes de aprendizagem das quais as próprias comunidades participam: “O projeto pedagógico pode fazer o jovem responder a seus territórios (…). Não acredito que seja possível a emancipação individual a não ser no contexto de articulação de redes”.

Wagner Santos, do CENPEC, observou o impacto que a concepção de aprendizagem solidária pode trazer a um país como o Brasil, de 50 milhões de pessoas entre 15 a 29 anos, a maior população jovem de toda a sua história.

O Brasil social-democrata do período 1988 a 2018 foi o tema de Maria do Pilar Lacerda, da Fundação SM Brasil. Pilar defendeu uma escola mais dinâmica, que supere a simples transmissão do conhecimento por meio de práticas de decorar fórmulas e conceitos. “A escola não está à parte [da comunidade]: ela é parte”, afirmou a especialista.

Também participaram das mesas: Telma Teixeira da Silva, da OEI, que abordou projetos da instituição; e André Luis de Francesco, secretário Municipal de Educação de Limeira (SP), que ao fazer uma dinâmica corporal com a plateia, deixou um recado importante: quando todos se movimentam, conseguimos ir mais adiante.

Solidariedade na prática

Experiências continentais reais que se ligam às questões sociais comuns  foram apresentadas no I Seminário Internacional de Aprendizagem Solidária.

Chantal Jouannet, da Pontifícia Universidade Católica do Chile, contou sobre a realidade dos campamentos (favelas) chilenos ao trazer a história de Violeta, que, ao sair daquele contexto, recebeu uma casa com problemas no piso. A história serviu para mostrar a importância de pensar os diferentes saberes como meios para trazer melhoria de vida e atender a problemas de pessoas reais – uma proposta da aprendizagem solidária que, infelizmente, não havia sido empregada no caso de Violeta. “A aprendizagem solidária dá sentido ao que se ensina”, afirmou Jouannet.

Alcielle dos Santos relatou uma experiência de economia solidária em Santos (SP) entre estudantes e moradores de uma aldeia indígena no território e como ouvir as necessidades dos indígenas e considerá-los como sujeitos em um diálogo permitiu criar um projeto de turismo que respeitou as especificidades do local e da aldeia, além da troca cultural entre crianças e adolescentes da zona mais urbanizada e da própria aldeia.

O protagonismo juvenil foi apresentado aos participantes do seminário por meio das experiências dos estudantes Iris Isabele Alves da Silva, Vitor de Freitas Zelic, do Movimento Futuro, e de Kátia Campanile, do Colégio Elvira Brandão. Os projetos “Mais amor, menos guerra” e “Empatia”, respectivamente, trabalharam com a troca de experiências via relatos e a restauração de móveis entre jovens de territórios diferentes, reforçando as trocas culturais como impulsionadoras do processo de ensino-aprendizagem.

Desenvolvimento integral

A Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária, coordenada pelo CENPEC, articula organizações sociais e instituições públicas e privadas para fortalecer e consolidar os valores e pressupostos da aprendizagem solidária e de outros princípios que promovam o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

A aprendizagem solidária (aprendizaje y servicio solidario nos países de língua espanhola ou service learning, nos Estados Unidos) é uma concepção de educação que data do início do século XX e propõe o desenvolvimento integral dos sujeitos por meio de vínculos com suas cidades, territórios e comunidades, a partir de projetos de intervenção social propostos pelos estudantes e pautados pelas reais necessidades das comunidades.

Veja também a cobertura do evento em outros veículos:

► TV Câmara São Paulo
► Site da Câmara Municipal
► OEI Brasil

Confira quem participou das mesas temáticas:

Mesa 1: A intervenção social como teoria e prática pedagógica
► Baixe aqui as apresentações

Mesa 2: Educação integral, currículo e aprendizagem solidária
► Baixe aqui as apresentações

Mesa 3: Juventudes, territórios e aprendizagem solidária
► Baixe aqui as apresentações

Baixe o Guia de aprendizagem solidária