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    Literatura afro-brasileira na escola

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    Em uma pesquisa realizada em 2005, a professora Regina Dalcastagnè identificou que 93,9% das personagens na literatura são brancas, sendo 62% homens e, destes, 81% heterossexuais. 

    Aos 7,9% de personagens negros, estão relegados papéis de criminosos ou contraventores (20,4%), empregados(as) domésticos(as) (12,2%) ou escravizados (9,2%). Destes, apenas 5,8% são protagonistas e 2,7% narradores. 

    Esses dados demonstram alguns dos grandes desafios da literatura para superar estigmas e estereótipos criados ao longo da história. São também um sintoma da invisibilização e desconhecimento das(os) autoras(es) negras(os) e mesmo do apagamento da produção literária negra no mercado editorial.

    Para a escritora e educadora Neide Almeida, trabalhar a literatura a partir de uma única perspectiva cria abismos e incide diretamente, por exemplo, na autoestima de crianças e adolescentes: “Como é que uma criança negra, uma criança indígena, que nunca se vê representada ou que se vê representada apenas de forma estereotipada nos textos literários na nossa literatura, pode construir uma autoestima elevada? Garantir que a literatura brasileira esteja presente nas escolas é condição para a gente falar de uma escola que seja realmente destinada a todas as crianças e todos os estudantes. Sem isso, a gente está oferecendo uma escola que exclui, que diz que determinadas crianças, determinados adolescentes estão fora do seu lugar”.

    Neide faz essa defesa no novo episódio do podcast Educação na ponta da língua. Ela debate sobre o trabalho da literatura afro-brasileira na escola com a professora Luciene Silva e a apresentadora Gina Vieira. 

    O bate-papo passa por qual abordagem seguir para o trabalho com as(os) escritoras(es) negras(os), por questionar os cânones e buscar a diversidade na literatura, por garantir que não apenas professoras(es), mas também coordenadoras(es) pedagógicas(os) e diretoras(es) escolares tenham contato, estudem e leiam autoras(es) negras(os) – como Luiz Gama, Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo etc.

    Ao garantir um trabalho sistêmico dessas vozes negras na sala de aula, a literatura negra se torna uma poderosa ferramenta de educação antirracista.

    A professora Luciene lembra que: “O trabalho com a literatura afro-brasileira se desdobra em duas frentes: conscientizar o aluno branco das consequências do racismo e empoderar o aluno negro. Empoderar significa trabalhar esse aluno para falar oralmente, apresentar um trabalho, e aumentar a potência desse aluno. Porque este aluno vem com um estigma de menos valia, de não querer fazer parte de uma cultura ancestral negra africana, porque tudo o que ele ouve e vê no currículo e no ambiente é depreciativo. Então a literatura afro-brasileira tem esse poder de aumentar a potência do aluno”.

     


    Confira o episódio em uma das plataformas:

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    Saiba mais sobre as participantes deste episódio:

    Luciane Silva é professora da educação básica, mestra em Literaturas portuguesa e africana e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Tem diversas pesquisas e artigos na área de literatura, currículo e educação antirracista.

    Neide Almeida é escritora, educadora e socióloga. Mestra em Linguística Aplicada e Especialista em Gestão Cultural Contemporânea, atua como docente, pesquisadora independente e consultora na área de leitura, literatura, e relações étnico-raciais. Tem uma iniciativa de produções culturais chamada  Fio.de.Contas, que promove ações e eventos, como os projetos Literatura à flor da pele e Gira de Leitura.