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Cenpec,

São Paulo,

Setembro, 2018

Fotos: Binho Marques

Política educacional
e equidade:
o caso do Acre

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Pesquisa identifica características de políticas públicas que levaram o estado a se destacar na inclusão de populações que estavam fora da escola.

Mapa do Brasil - Acre
Acre
Área 164.123,040 km2
(88% com cobertura florestal)
População 790.101 habitantes
Densidade demográfica 4,47 habitantes por km2
População urbana 71,2%
População rural 28,8%
População indígena 14.451 habitantes
(6,6% da população rural)
Fonte: IBGE 2015

Antigo território federal que virou estado em 1962, o Acre despontou na educação nacional nos últimos anos, com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) crescendo acima das médias nacional e regional e o atendimento a populações antes excluídas, o que promoveu a equidade por meio do acesso à educação.

Esse cenário chamou a atenção dos pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), que entre 2014 e 2017 estudaram as políticas públicas acreanas e suas características, concluindo que elas podem dar pistas sobre como melhorar os indicadores educacionais de regiões com características socioeconômicas menos favorecidas.

Dados sobre o Acre

A pesquisa Equidade e políticas de melhoria da qualidade da educação: o caso do Acre, realizada com o apoio da Fundação Tide Setubal, focou o período entre 1999 e 2011. Entre 2005 (primeiro ano do Ideb) e 2001, o índice do estado cresceu 52% – contra os 48% registrados na Região Norte e os 36% no Brasil. Para contextualizar: o rendimento real da população acreana cresceu bem menos do que nas demais unidades federativas da Região Norte e do país – 27%, contra 41% e 54%, respectivamente (veja Gráfico 1).

Gráfico 1 - Rendimento médio mensal (R$)

Fonte: Sidra/IBGE - Pnad e SNIPC.

As literaturas nacional e internacional indicam que há significativa relação entre os indicadores educacionais e os socioeconômicos: se o rendimento médio da população aumenta, os índices educacionais também apresentam melhora. Seria de esperar, portanto, que o desempenho dos alunos acreanos estivesse abaixo do dos estudantes da região e do país. No entanto, não foi o que aconteceu.

Em 2011, levando em consideração somente as redes públicas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o Ideb do estado foi 4,5%, acima do nortista apenas 0,3 ponto e ainda abaixo do nacional 0,2 ponto. Porém, em 2013, houve novo avanço, ficando o índice acreano 0,7 ponto acima do nortista e evoluindo também 0,1 ponto em relação ao nacional (veja Gráfico 2). As diferenças para cima se repetiram nos anos finais: no Acre, o Ideb foi 4,3, mantendo-se 0,7 ponto acima do da região (3,6) e 0,3 do brasileiro (4,0), como mostra o Gráfico 3.

Gráfico 2 - Ideb dos anos iniciais do EF (rede pública)

Fonte: Inep.

Gráfico 3 - Ideb dos anos finais do EF (rede pública)

Fonte: Inep.

O estudo teve abordagens quantitativa e qualitativa, sendo essa última feita por meio de 12 entrevistas, em Rio Branco e Brasília, com gestores, técnicos e professores da Secretaria Estadual de Educação e de duas escolas da rede.

Contextualização política

Em 1982, após a ditadura militar, foram eleitos candidatos de oposição para o governo do estado, Assembleia Legislativa e prefeituras do Acre. Quatro anos depois, forças vinculadas à ditadura militar voltaram ao poder, o que motivou a formação da Frente Popular, com 16 partidos (PT, PP, PRB, PDT, PTN, PR, PSDC, PHS, PTC, PSB, PV, PRP, PCB, PTB, PSTU e PCdoB), que ganhou as eleições por cinco vezes seguidas. O Acre teve, desde então, os seguintes governadores e secretários de Educação:

Governador Secretário(a) de Educação
Jorge Viana (1999-2002) – PT Binho Marques – PT
Jorge Viana (2003-2006) – PT Binho Marques – PT
Binho Marques (2007-2010) – PT Maria Corrêa – sem informação sobre partido
Tião Viana (2011-2014) – PT

Daniel Zen (janeiro 2011 a março 2014) – PT

Marco A. Brandão Lopes (abril a dezembro 2014) – sem informação sobre partido
Tião Viana (2014-2018) – PT Marco Antônio Brandão Lopes (janeiro de 2014-)– sem informação sobre partido

 

Características da política acreana

Diante da evolução do estado no Ideb, ficou a pergunta: quais políticas educacionais estavam em curso no Acre? Seguindo Arretche (1998), os pesquisadores reconstituíram as características dessas políticas a fim de apreendê-las em um todo. Foram identificadas cinco. Clique em cada uma das características para conhecê-la em detalhes.

Uma das medidas que denotam a racionalização da gestão foi o fato de o Estado ter um projeto claro de educação. Os entrevistados apontaram que a secretaria estadual trabalhou com planejamento estratégico, com metas objetivas que eram reformuladas com base nas avaliações permanentes de ações e resultados. A Secretaria Estadual de Educação usou a necessidade de o estado apresentar melhor performance no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) como elemento de mobilização (o estado ocupava um dos últimos lugares do país na avaliação realizada em 1999) e definiu prioridades: investir na formação de professores em nível superior, fazer a revisão do plano de cargos e salários e melhorar a infraestrutura das escolas.

Uma equipe da secretaria visitou todas as unidades para georreferenciar, fotografar e elaborar um perfil básico de funcionamento, investindo, primeiro, nas que estavam em piores condições. Padrões mínimos de infraestrutura, recursos, equipamentos, quantidade de professores e sua formação foram estabelecidos de acordo com os segmentos atendidos.

O número de matrículas aumentou. Juntas, secretarias estadual e municipais fizeram um estudo sobre a demanda e disponibilidade das vagas em cada localidade, planejando e distribuindo a oferta pelas escolas de ambas as redes.

A autonomia administrativo-financeira das unidades deu-se, principalmente, com o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola), do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE, do Ministério da Educação) e da revisão das regras relativas à gestão de recursos financeiros.

Em 2009, a Secretaria de Educação instituiu o Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape), realizado em parceria com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Diagnósticos periódicos em língua portuguesa e matemática subsidiaram o desenho e a implementação de outras políticas públicas. De periodicidade anual, participaram alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio, das redes estadual e municipais. Os resultados eram divulgados por estado, município, escola e aluno, tendo os descritores de aprendizagem como unidades de análise.

Diante do diagnóstico de que as condições de funcionamento da escola eram péssimas e, portanto, não favoráveis à aprendizagem, o Estado investiu em infraestrutura e recursos humanos. Estabeleceu-se um padrão mínimo para as escolas, por etapa e modalidade, que contou com projetos arquitetônicos, mobiliário e equipamentos simples e menos custosos, facilitando a construção e a manutenção.

A revisão do plano de carreira diminuiu a distância entre o menor e o maior salário – a diferença caiu de 140% para 50%, com um aumento substancial no vencimento inicial. As gratificações foram incorporadas e o contrato dos professores foi reduzido para 30 horas. Segundo os entrevistados, professores em início de carreira tiveram os salários equiparados aos de engenheiros nessa mesma condição. O salário docente do Acre passou a ser, na época, um dos melhores do país.

Os depoimentos indicam que, quando a primeira gestão de Jorge Viana assumiu, apenas 26,4% dos professores tinham ensino superior. O governo do estado tomou a formação docente como prioridade e estabeleceu parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac), investindo recursos para que ela recebesse professores das redes estadual e municipais. As matrículas passaram de 1.500 para 4.500. Os currículos de Pedagogia e licenciaturas foram redesenhados com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e no Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa), do governo federal, de 2001, para que tivessem mais relação com os problemas que os futuros docentes enfrentariam em sala de aula.

A parceria do governo do estado com a universidade beneficiou também as redes municipais. No acordo celebrado com os prefeitos, os municípios arcavam com os custos de deslocamento e alimentação dos professores e o estado, com os demais. As ações formativas começaram nos centros urbanos e se expandiram para a zona rural. Conforme mostram os dados a seguir, devido à formação inicial desenvolvida, quase 100% dos professores passaram a ter formação superior. Veja os gráficos abaixo:

Gráfico 4 – Formação dos Professores da Rede Estadual do Acre - 1999

[ clique nas fatias do gráfico para destacá-las das demais ]

Fonte: Inep. Tabulação própria.

Gráfico 5 – Formação dos Professores da Rede Estadual do Acre - 2011

[ clique nas fatias do gráfico para destacá-las das demais ]

Fonte: Inep. Tabulação própria.

O Ensino Fundamental ganhou um currículo. Segundo os entrevistados, o documento para os anos iniciais foi elaborado paralelamente às ações de formação de professores, com base nos PCN, em parceria com o município de Rio Branco e com a participação de professores e coordenadores pedagógicos.

O uso da avaliação externa como instrumento para gestão pedagógica foi mencionado como ferramenta de reforço das ações. No acompanhamento periódico das escolas feito pelos técnicos da secretaria, fazia-se a análise dos resultados da avaliação externa com os coordenadores pedagógicos das unidades, estratégias de trabalho eram propostas e discutidas e havia o acompanhamento da repercussão das intervenções nos processos de ensino e aprendizagem.

Os técnicos das secretarias foram formados para melhor observar cada unidade sob sua responsabilidade, principalmente o que acontece na sala de aula. Nas visitas periódicas, eles analisavam “[...] a relação professor-aluno e coordenador-professor, se as formações estão chegando à sala de aula, o que o professor está fazendo com os alunos que apresentam mais dificuldade, se o planejamento está ajudando, se as formações internas da escola estão acontecendo”, afirma um dos depoimentos.

Houve também o fortalecimento da função do coordenador pedagógico, orientado a realizar observações em sala de aula, dar devolutivas aos professores e apoiar a equipe docente nas ações de acompanhamento da aprendizagem dos alunos. Uma equipe composta por ex-diretores bem avaliados ajudou a solucionar dificuldades e levar às escolas as orientações da secretaria. A ideia era ter uma pessoa que acompanhasse cada unidade em sua totalidade.

A Secretaria Estadual de Educação firmou parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco para realizar o Programa de Avaliação da Aprendizagem – avaliação externa censitária de responsabilidade do município junto aos alunos de 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. O programa tinha duas edições: no início do ano para o diagnóstico inicial e no fim, para avaliar a evolução dos resultados.

As escolas tinham autonomia para realizar o planejamento e definir metas, sempre com a orientação e o apoio da secretaria, que acompanhava principalmente as unidades que não tinham resultados satisfatórios. Era preparado um documento orientador com base nos indicadores da avaliação externa e nas observações feitas pelos técnicos. Nos encontros de formação de diretores e coordenadores pedagógicos, discutiam-se as diretrizes do planejamento.

Ações de formação continuada ocorriam dentro e fora das escolas. Internamente, eram desenvolvidas e pautadas pelos coordenadores pedagógicos e voltadas aos professores. Externamente, a secretaria cuidava da organização e definição da pauta e os encontros eram destinados tanto a professores como a coordenadores pedagógicos e diretores. Os conteúdos formativos eram os objetos de ensino, a didática e os repertórios de atividades e sequências didáticas. Nas ações direcionadas aos coordenadores pedagógicos, trabalhava-se especialmente a formação que esses profissionais desenvolviam nas escolas e o apoio que deveriam dar aos professores.

Em relação à educação rural, os depoimentos indicaram duas políticas que contemplaram a diversidade e valorizaram as culturas locais: em escolas maiores, o formato e as ações eram similares aos das escolas urbanas. Para as escolas rurais menores e mais distantes dos centros urbanos, os programas Asas da Florestania Infantil (ou Asinhas da Florestania) e Asas da Florestania levaram à inclusão de crianças que estavam fora da escola.

No Asinhas da Florestania, para a Educação Infantil, educadores contratados pelas prefeituras iam, duas vezes por semana, à residência de famílias com crianças de 4 e 5 anos. Cada visita durava duas horas e meia e nela eram desenvolvidas atividades e sequências didáticas relacionadas à leitura, sistema de medidas e brincadeiras de roda, com material fornecido pelo Estado.

Já o Asas da Florestania, direcionado ao Ensino Fundamental, era para classes multisseriadas. Os anos iniciais continuaram com um professor polivalente, como ocorre nas escolas. Para os anos finais, o programa selecionava professores licenciados e oferecia formação para que atuassem como unidocentes no conjunto de disciplinas ofertadas. Havia material didático próprio e os docentes recebiam um adicional de 12 horas semanais nos vencimentos para lecionar na zona rural.

No Ensino Médio, o Asas da Florestania trabalhava com as quatro grandes áreas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): Matemática, Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Os professores licenciados eram selecionados em edital específico e se revezavam pelas comunidades ministrando as aulas, permanecendo nelas até concluírem os componentes curriculares previstos.

A educação indígena virou política pública no Acre. A Comissão Pró-Índio do Acre, uma organização da sociedade civil que antes cuidava do ensino dos indígenas, foi contratada para capacitar a equipe da secretaria e produzir material didático. Ao mesmo tempo, foi criado um programa de formação dos professores indígenas. Os projetos pedagógicos eram definidos em conjunto com as comunidades, que os elaboravam considerando a gestão territorial.

A secretaria ofereceu o Ensino Médio em polos, com alguns professores não índios, devido aos poucos indígenas com nível superior no estado. Os materiais didáticos foram elaborados em cursos de formação continuada. A produção de textos e ilustrações ficava a cargo dos professores, que usavam como fonte os idosos e as pessoas das comunidades com conhecimento da língua e da cultura locais. A equipe da Coordenação de Educação Indígena conferia o material produzido, avaliava a adequação ao nível de ensino, fazia o projeto gráfico e publicava.

Ao viabilizar que as comunidades selecionassem seus docentes, apoiar a produção de material didático para cada comunidade e promover a elaboração dos projetos pedagógicos pelas comunidades, o Estado criou uma estrutura que permitiu, segundo os depoentes, contemplar a diversidade das comunidades indígenas.

Outro ponto identificado é a consideração das identidades locais nos projetos arquitetônicos das escolas: as indígenas trazem o padrão das pinturas já cultivadas pelos variados povos e as rurais são inspiradas nos antigos casarões de madeira, construídos com madeira, em detrimento da alvenaria. Veja as fotos a seguir.

Escola indígena
Escola rural

Todas as políticas e ações citadas anteriormente foram implementadas com diálogo, participação, negociação e pactuação. Os depoimentos atestam que essas ações colaboraram para que as iniciativas ganhassem legitimidade. Porém, o processo não foi fácil. Um dos entrevistados afirma que a construção de espaços de conversação e decisão foi uma das principais dificuldades: “Existia uma desconfiança muito grande. E essa desconfiança tornava os profissionais bastante reticentes a participar, a ficarem mais envolvidos com isso”. A capacidade de negociar – grande parte orquestrada pela subsecretaria de gestão, mostrou-se evidente com os seguintes atores:

Municípios
A Secretaria Estadual de Educação negociou com cada um dos 22 municípios acreanos, fortalecendo o regime de colaboração entre eles para realizar:

  • a parceria para a formação inicial de professores na universidade;
  • a parceria para a formação continuada de professores, convidando os das redes municipais para a formação oferecida pela rede estadual;
  • o repasse de recursos financeiros para incentivar a municipalização da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental;
  • a participação das redes municipais no Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape);
  • a definição e o alcance das metas e a execução do planejamento para atingi-las;
  • a permuta de servidores; e
  • o planejamento integrado de matrículas.

Universidade
Houve negociação com acadêmicos e representantes do ensino superior para viabilizar:

  • a reformulação do currículo de Pedagogia e licenciaturas; e
  • o aumento do número de vagas em áreas de interesse da formação docente.

Sindicatos e movimentos sociais
As conversas com essas entidades envolveram, basicamente, discussões sobre:

  • a revisão do plano de cargo e salários; e
  • a qualidade e o período de oferta dos cursos de formação permanente (fazer nas férias e em blocos intensivos foi uma das maneiras encontradas para viabilizá-los).

Diretores de escola
Os depoimentos destacaram que o diálogo constante com os gestores escolares quebrou a resistência de muitos deles às mudanças, o que levou à maior autonomia das unidades.

Avanço e equidade

Outra pergunta que orientou a pesquisa foi se o avanço dos indicadores educacionais do estado foi acompanhado de equidade. Equidade, aqui, é entendida como uma noção de justiça com base na necessidade de corrigir processos de distribuição de recursos e conhecimento para diminuir as carências das populações socialmente menos favorecidas.

Equidade e proficiência

A pesquisa também avaliou a equidade por meio da análise da proficiência dos alunos no Saeb entre grupos sociais distintos (sexo, raça e escolaridade da mãe). Os dados não foram conclusivos. Em breve, novos artigos trarão essas informações.

No Brasil, os indicadores educacionais mostram a diferença de desempenho nas escolas das populações negra, rural, indígena, habitante de zonas periféricas de grandes cidades e das regiões Norte e Nordeste. Alunos que têm alguma dessas características costumam ter desempenho pior nos testes educacionais. Embora o acesso à educação não garanta a justa distribuição do conhecimento, promover políticas que garantam o acesso de populações historicamente excluídas e o atendimento delas em suas especificidades é um caminho para buscar mais justiça na escola em um país no qual a universalização completa da Educação Básica ainda está em curso. Nesse sentido, adotou-se como estratégia de averiguação da promoção da equidade a implementação de iniciativas que visavam a inclusão de populações tradicionalmente excluídas dos bancos escolares.

Enquanto no Brasil o Ministério da Educação (MEC) apontou queda de matrículas na área rural entre 2003 e 2013, no Acre, entre 1999 e 2010, esse número aumentou 158%, passando de 46.025 para 72.594, mostrando uma demanda não atendida e, principalmente, o esforço para atendê-la. Nas áreas urbanas, o movimento foi semelhante: as matrículas na Educação Básica cresceram 153%, indo de 122.490 para 187.485.

A Tabela 1 dá uma dimensão do esforço do governo do Acre para incluir a população indígena no sistema educacional, tanto na rede estadual quanto nas redes municipais. O Censo Escolar Indígena de 1999 mostra que o número de escolas no estado era de 75 nesse ano. Já a Sinopse Estatística da Educação Básica do Inep de 2011 notificou 182 escolas indígenas. Segundo essas mesmas fontes, o número de matrículas indígenas era de 2.541 em 1999 e passou a 7.192 em 2011, da Educação Infantil ao Ensino Médio.

Tabela 1 - Escolas e matrículas indígenas no Acre

1999* 2011**
Estadual Municipal Total Estadual Municipal Total
Número
de escolas
44 31 75 120 62 182
Número
de matrículas
1.349 1.192 2.541 4.568 2.624 7.192
* Dados do Censo Escolar Indígena. ** Dados da Sinopse Estatística da Educação Básica do Inep.

As estratégias que contemplaram a equidade pelo acesso às oportunidades educacionais estão, quase todas, relacionadas às políticas específicas. Aqui, a explicação sobre como cada uma delas contribuiu com a inclusão:

  • as visitas semanais às famílias moradoras de zonas rurais levaram à inclusão de crianças de 4 e 5 anos que estavam fora da escola por não ter acesso fácil aos centros urbanos, onde se concentram as escolas públicas de Educação Infantil;
  • um único professor para todas as disciplinas até o final do Ensino Fundamental garantiu aos estudantes das classes multisseriadas das áreas rurais o contato com o conteúdo curricular de todas as disciplinas, pois, em regiões isoladas, é difícil ter professor com formação adequada nas diversas áreas do conhecimento;
  • o rodízio de professores no Ensino Médio, com calendário adaptado e incentivo salarial, garantiu a execução do currículo, com a presença de profissionais especialistas, em regiões de difícil acesso;
  • a elaboração de material didático específico nas diversas línguas indígenas atendeu à diversidade das comunidades indígenas, contextualizando o ensino e a aprendizagem e valorizando a cultura local;
  • a seleção de professores com o aval da comunidade fortaleceu a identidade e a cultura locais;
  • a garantia de condições básicas de funcionamento de escolas rurais e indígenas, respeitando a identidade local, criou ambientes favoráveis à aprendizagem de todos.

 

Caminhos a seguir

Segundo os pesquisadores, as estratégias de reorganização institucional do órgão dirigente, das escolas e de suas relações; a melhoria das condições de funcionamento das escolas; a revisão dos planos de carreira e de formação dos profissionais da educação, com foco nas necessidades de sala de aula; o fortalecimento dos processos pedagógicos e o uso de estratégias de negociação para envolver todos os atores dos processo educacionais podem ter levado o Acre a se destacar no cenário nacional, mesmo em condições geográficas e socioeconômica adversas. Talvez esses sejam caminhos que ajudem na implementação de políticas públicas em outras regiões que, igualmente, necessitam melhorar a aprendizagem dos estudantes, com equidade.

  

 

Referências

ARRETCHE, M. T. S. Tendências no estudo sobre avaliação. In: RICO, Elizabeth Melo (org.). Avaliação de Políticas Sociais: Uma Questão em Debate. São Paulo: Cortez, 1998. p. 29-39.

RIBEIRO, Vanda; GUSMÃO, Joana; REZENDE, Wagner; VIEIRA, Sofia. A política educacional e o desafio da equidade: características e avanços no Acre (1999-2010). No prelo.

 

 

 

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Edição

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Projeto gráfico

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Editoração eletrônica

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Os "boletins Educação & Equidade”  comunicam resultados de estudos e pesquisas desenvolvidas pelo Cenpec com o objetivo de incidir no debate público, em práticas pedagógicas e políticas educacionais que reduzam as desigualdades e promovam equidade.