Nos 25 anos do Instituto Rodrigo Mendes, confira a entrevista com o fundador, Rodrigo Hübner Mendes, sobre educação inclusiva e diversidade
Por João Marinho
O ano de 2019 representa um marco para o Instituto Rodrigo Mendes. São 25 anos de história em defesa da educação inclusiva, e os números impressionam: nos últimos anos, foram mais 3 mil educadores formados em 19 estados, que impactaram diretamente mais de 265 mil estudantes.
Em 2019, esse impacto cresceu substancialmente, com o lançamento do primeiro curso no formato de educação a distância (EAD), desenvolvido em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) – e que recebeu, até o momento, mais de 36 mil inscrições de todo o Brasil.
Todas essas ações se confundem com a história pessoal do fundador, Rodrigo Hübner Mendes, que se tornou tetraplégico após um episódio de violência e passou a assumir para si – e para o Instituto que leva seu nome – a missão de colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum.
O Diversa, com 2,4 milhões de usuários, é um dos destaques entre as ações do Instituto Rodrigo Mendes e traz uma série de experiências em boas práticas de educação inclusiva, compartilhada por pessoas de mais de 100 países.
Confira mais detalhes sobre a atuação do Instituto Rodrigo Mendes na entrevista de Rodrigo Hübner Mendes ao Portal CENPEC Educação.
Portal CENPEC Educação: Ao longo da história do Instituto Rodrigo Mendes, ele passou por diferentes fases: nasceu com a proposta de oferecer oportunidades de desenvolvimento a pessoas com deficiência por meio da arte, passou a produzir conhecimento em educação inclusiva – o que continua a fazer – e, atualmente, tem-se destacado por colocar a educação pública como foco de suas ações. Por que ocorreram essas mudanças?
Rodrigo Hübner Mendes: As mudanças foram uma consequência natural da busca por ampliar nosso impacto. A partir de 2005, observamos que existia uma enorme demanda de educadores e instituições de ensino em busca de formação sobre a temática da educação inclusiva – e de sua assimilação na educação formal.
Percebemos isso como uma grande oportunidade e fizemos uma primeira experiência, no próprio ano de 2005, com três escolas públicas do Butantã, em São Paulo (SP), usando muito do nosso conhecimento de arte contemporânea e arte-educação.
Começamos, então, um processo de expansão dessa frente de trabalho até que, cerca de cinco anos depois, percebemos que o custo-benefício do programa de arte-educação não se justificava mais – e o Conselho do Instituto decide direcionar todos os nossos esforços para apoiar as redes públicas de ensino.
Portal CENPEC Educação: Em 25 anos de história, qual a avaliação que o Instituto faz sobre a temática da educação inclusiva no Brasil?
Rodrigo Hübner Mendes: Houve enormes avanços nas últimas duas décadas. Em 2018, por exemplo, pela primeira vez, 90% dos estudantes que são público-alvo da educação especial e cursavam a educação básica estavam frequentando escolas inclusivas. Esse é um dado extraordinário, mesmo quando comparado com a realidade internacional.
Portal CENPEC Educação: Realmente impressionante… e, a partir disso, quais ainda seriam, então, os principais desafios?
Rodrigo Hübner
Mendes: Há ainda grandes desafios, na verdade. Em primeiro lugar,
precisamos trazer para a escola e garantir o acesso à parcela desse
público-alvo que ainda está fora desse processo: ainda não conseguimos universalizar
o acesso à escola para esse público.
Um segundo desafio é aprimorar a qualidade da educação,
tanto das pessoas com deficiência que estão chegando à escola quanto de quem já
está nela, e isso demanda uma série de investimentos.
Os investimentos passam, por exemplo, pela necessidade de formação dos educadores. Uma pesquisa recente do Datafolha e do Instituto Alana atestou que quase 70% dos entrevistados apontam que falta conhecimento, ou repertório, aos professores para atender crianças e adolescentes com deficiência. É necessário, portanto, investir na formação dos professores.
Nesse sentido, o Brasil conta com um serviço regulamentado,
que é o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que tem um papel muito
importante no sentido de estar junto às equipes pedagógicas para identificar barreiras
de aprendizagem na escola e eliminá-las, promovendo a acessibilidade – mas que também
precisa ser ampliado, com mais investimento, para que esses profissionais
continuem sendo formados.
Finalmente, um outro terceiro desafio importante é um trabalho mais intersetorial. Aqui, falamos de criar um modelo de gestão pública em que as várias pastas trabalhem buscando sinergias, de modo que educação trabalhe em parceria com a saúde, com a área do transporte, da assistência social, etc.
Com isso, torna-se possível pensar num conjunto de serviços que vão transformando as redes de ensino e criando, de fato, possibilidades de acesso e permanência para crianças e adolescentes com deficiência.”
Esses são alguns exemplos de investimentos, de uma visão de
gestão pública que entende que o resultado final é a promoção da igualdade e a
oportunidade de melhorar a qualidade da educação.
Portal CENPEC
Educação: E já há planos do Instituto para um futuro breve?
Rodrigo Hübner Mendes: Já é uma tradição nossa fazer um planejamento estratégico num horizonte de três a cinco anos – e na festa em comemoração aos nossos 25 anos, realizada no último dia 23 de outubro, lançamos a meta, para os próximos 25 anos, de garantir que 100% do público-alvo da educação especial esteja na escola comum, ou seja, uma escola em que convivam crianças e adolescentes com e sem deficiência.
Rodrigo Hübner Mendes (à esq.), na festa em comemoração aos 25 anos do Instituto. Foto: Simon Plestenjak.
Portal CENPEC Educação: Essa é uma informação relevante, pois as ações do Instituto Rodrigo Mendes têm a opção de que crianças com e sem deficiência estudem juntas…
Rodrigo Hübner Mendes: Mais do que uma opção, esse é um princípio nosso. Tudo que comentei até agora parte dessa convicção de que não faz sentido a criança ser encaminhada para um ambiente segregado. Por isso, falamos de escolas comuns, e não regulares – mesmo porque existem escolas especiais que podem ser consideradas regulares.
Falamos, portanto de escolas comuns no sentido de que o convívio e o contato existem e não há segregação, pois acreditamos que o ambiente da troca, do estímulo, somente acontece na intensidade necessária se as crianças, os adolescentes, estiverem juntos, expostos à diversidade que existe na escola – e desfrutando dela.”
Portal CENPEC
Educação: Para finalizar, quem é Rodrigo Hübner Mendes hoje, por Rodrigo Hübner
Mendes, depois dessa trajetória de 25 anos à frente do Instituto como seu
fundador?
Rodrigo Hübner
Mendes: Sou alguém que sonha e tem, ao mesmo tempo, pé no chão – e alguém
que busca fazer o seu melhor para que tudo que recebi de positivo ao longo de
minha jornada possa ser retribuído.
Assista ao vídeo do encontro entre Rodrigo Hübner Mendes e Maria Alice Setubal, da Fundação Tide Setubal e conselheira do CENPEC Educação, na série Encontros & Fronteiras.
Confira as fotos da festa em comemoração aos 25 anos do Instituto Rodrigo Mendes. Clique nas imagens para ampliá-las.
Foto: Mariana Pekin.
Foto: Simon Plestenjak.
Foto: Simon Plestenjak.
Foto: Simon Plestenjak.
Foto: Simon Plestenjak.
Um pensamento em “Educação inclusiva e de qualidade”
PARABENS AO SONHO REALIZADO NA BUSCA DE IGUALDADE BASEADO NA REALIDADE QUE EU TAMBEM ACREDITO QUE ACONTEÇA ASSIM, NA TROCA DE INTENSIDADE DE ESTÍMULO, AS CRIANÇAS ESTANDO JUNTOS E EXPOSTOS ÀS DIVERSIDADES NA ESCOLA COMUM!
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