Inovar é o desafio: destaques regionais

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Inovar é o desafio: destaques regionais

Especialistas refletem sobre o conceito de inovação educacional com base nos 25 Destaques Regionais

No dia 25/10, a coordenação do Desafio Inova Escola, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo em  parceria com o CENPEC Educação, se reuniu à equipe de avaliadores para selecionar os 25 planos de inovação finalistas na categoria regional. Entre os 335 planos de inovação semifinalistas enviados por professores de escolas públicas e privadas de todo o Brasil, destacaram-se 5 iniciativas de cada uma das regiões do país. 

Durante o encontro, que aconteceu das 8 às 17h em São Paulo, capital, os 15 avaliadores, especialistas em diversas áreas do conhecimento, discutiram as propostas apresentadas nos planos semifinalistas segundo os critérios pré-definidos com a equipe coordenadora do Desafio.

Os planos de inovação avaliados são resultado da formação gratuita e colaborativa desenvolvida ao longo de uma trilha formativa oferecida pelo Desafio. A proposta foi guiar os educadores e suas equipes a planejar soluções inovadoras para questões vividas no dia a dia das escolas.

Mas, afinal, o que significa inovar na educação? Como avaliar planos de inovação vindos de realidades tão diversas? Quais foram os principais temas e questões identificados pelos professores como problemas a serem solucionados? Quais são os objetivos e os possíveis impactos dessas propostas no cotidiano escolar?

Essas foram algumas das questões discutidas pelo grupo. A seguir, compartilhamos algumas das reflexões desenvolvidas nesse encontro.


O que é inovar em educação?

Inovação é um conceito em construção na educação. Há muitos debates teóricos sobre o tema, em geral relacionando inovação ao contexto digital. No Desafio Inova Escola, buscou-se materializar o conceito com base em cinco eixos: relações, práticas, metodologias, tempo e espaço. Segundo  Beatriz Lomonaco, doutora em Educação e coordenadora do Desafio pela Fundação Telefônica Vivo, esses são elementos encontrados em escolas inovadoras. “Os projetos selecionados versam sobre um ou mais desses eixos”, afirma.

Mas qual é a importância da inovação no processo educativo? 

Beatriz Lomonaco.
Beatriz Lomonaco. Foto: Reprodução

Já se tornou um jargão dizer que a escola precisa inovar. Vivemos um  momento marcado por mudanças muito rápidas, amplas e profundas.

O papel das famílias, questões ligadas a gênero, costumes estão em debate. Mas penso que, em meio a tantas transformações a escola precisa descobrir sua nova identidade.”

Para os educadores, é importante entender que, para inovar, não é necessário mudar tudo, suas ideias e posicionamentos sobre a educação, sua forma de atuar em sala de aula. A inovação deve estar a serviço de um objetivo, reflete Beatriz.

Uma das avaliadoras dos planos semifinalistas regionais, Patrícia Behling Schäfer, que é consultora em projetos de inovação educacional, diretora da B&S Educação e Tecnologia e doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esclarece:

Patrícia Behling Schäfer
Patrícia Schäfer. Foto: Arquivo pessoal

Do ponto de vista da aprendizagem, duas frentes são fundamentais. Do lado do educador, deve haver intencionalidade na transformação. As mudanças pedagógicas devem ter claros os desafios que se deseja superar e os impactos buscados sobre o desenvolvimento dos estudantes.

Do lado dos estudantes, as transformações devem promover uma nova relação com a construção do conhecimento para que avancem na constituição da sua autonomia. Isso lhes permitirá, por exemplo, resolver problemas, lidar com demandas complexas, agir de maneira consciente sobre o mundo, conceber e concretizar seus projetos de vida.”

Começar por pequenas ações, ligadas ao cotidiano escolar e local, é um primeiro passo nesse sentido. Alguns dos projetos selecionados propõem mudanças bem modestas, uma alteração do ambiente, uma nova prática que tenha potencial para melhorar a aprendizagem e na qualidade da educação, revela Beatriz Lomonaco. 

Mas como avaliar iniciativas que buscam inovação em contextos tão diversos? Marcio Rafael Pantoja Ferreira, professor de sociologia e jornalista que também compôs a equipe de avaliadores, pondera: 

Marcio Pantoja com grupo de avaliadores.
Marcio Pantoja com grupo de avaliadores.
Foto: Acervo CENPEC

Quando falamos em educação, especialmente nas redes públicas pelo Brasil afora, temos de considerar as dificuldades e precariedades estruturais que fazem parte do cotidiano pedagógico.

Nesse contexto, inovar pode significar mudar atitudes, hábitos dentro da sala de aula, tanto em relação aos estudantes como ao próprio professor, ou novas formas metodológicas de trabalhar um conteúdo curricular.”

Marcio Pantoja
Diane Boda
Diane Boda. Foto: Reprodução

A avaliadora Diane Boda, que é formada em história pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e desenvolve trabalhos nas áreas de cultura, educação e juventudes, destaca a diversidade de propostas apresentadas, que revela a complexidade do conceito de inovação.

Fiquei muito feliz em ver iniciativas que entendem inovação não apenas nas novas tecnologias digitais, mas também em outras questões, como a valorização da cultura e da memória local. Assim, foi possível perceber que a inovação está relacionada a novas formas de resolver problemas. Projetos que se propõem a resgatar o passado, recolhem histórias, se reinventam no cotidiano despertam a necessidade de pensar coletivamente o que é inovação em um país tão extenso e diverso como no nosso.”

Diane Boda

Diálogo com o território

Renata Altman, Fundação Telefônica Vivo
Renata Altman. Foto: Reprodução

O contexto em que a escola se encontra é um fator essencial a ser considerado quando se pensa inovação educacional. Isso ficou evidente para os avaliadores e a equipe do Desafio na análise dos projetos, revela Renata Altman, coordenadora de Programas Sociais da Fundação Telefônica Vivo.

Os planos de inovação devem partir de desafios do contexto, do território, da escola e da comunidade. Esse é um dos fatores que consideramos mais importantes quando se trata de inovação educacional.”

Renata Altman

Segundo Diane Boda, um dos pontos fortes de vários projetos selecionados é a construção coletiva, envolvendo outros agentes do território: “Algumas iniciativas deixam clara a preocupação de manter uma escuta ampla da comunidade, inclusive para além dos muros da escola”.

Já Patrícia Schäfer destaca a importância de se partir do contexto para reconectar os alunos a seu meio:

Muitos dos projetos trouxeram alternativas para que os estudantes agissem, efetivamente, sobre as suas localidades, usufruindo e potencializando características de suas regiões ou, ainda, contribuindo na solução de desafios vivenciados por suas famílias e comunidades.”

Patrícia Schäfer

Temas diversos e recorrentes

Por ser uma iniciativa de abrangência nacional, os planos de inovação retratam contextos escolares e regionais bastante distintos. No entanto, algumas questões surgiram com mais frequência, girando em torno dos seguintes temas: evasão; indisciplina; espaços mais acolhedores e criativos; interdisciplinaridade; linguagem (alfabetização, leitura e escrita); avaliação; metodologia; currículo; comunidade escolar.

“Em alguns planos, pude observar questões como: a incidência do clima sobre o aprendizado, formas diversas de dividir o ano ou a influência de culturas indígenas na forma de ver o mundo daquela comunidade escolar. Fazer uma leitura comparativa de projetos vindos de realidades diversas me levou a pensar como a inovação pode ser entendida de diferentes formas”, reflete a historiadora Diane Boda.

Segundo o sociólogo Marcio Pantoja, os problemas mais recorrentes relatados pelos professores nos planos foram a falta de estímulo dos estudantes pelo conteúdo e pelo processo pedagógico como um todo, assim como questões relacionadas às condições físicas das instituições.

“As iniciativas apresentadas demonstram a atitude de professores que percebem um problema na sua realidade escolar e buscam implantar um germe de oportunidade para eles mesmos e para oferecer mais estímulos aos estudantes”, afirma o avaliador.


Trilha formativa 

Uma característica importante do Desafio Inova Escola é o fato de se constituir não apenas como uma premiação de projetos educacionais, mas principalmente por  promover a reflexão sobre o processo pedagógico a fim de potencializar mudanças na realidade escolar. Essa reflexão foi alimentada por ferramentas pedagógicas encontradas na trilha formativa presente no site do projeto. 

Para a especialista em inovação educacional Marcia Padilha, que participou da concepção da trilha formativa, a ideia é nortear os educadores “para a inovação, inclusive, por meio de práticas.”

A influência das ferramentas pedagógicas oferecidas na trilha é perceptível em muitos planos de inovação, ressalta o avaliador Marcio Pantoja: “Foi muito interessante perceber como alguns projetos se desenvolveram ao longo das trilhas. Isso revela comprometimento e amadurecimento das equipes, buscando mais objetividade, nitidez da proposta”, analisa. 

Já Patrícia Schäfer considera que os diferentes instrumentos adotados na trilha que favorecem a construção de projetos de inovação educacional. Como exemplos, ela cita:

O levantamento de hipóteses sobre os problemas identificados, a investigação de causas e consequências, a pactuação coletiva quanto aos desafios (envolvendo, além de professores, estudantes, familiares e demais componentes da comunidade escolar) e uma estruturação lógica para que se proponham ações.”

Patrícia Schäfer

Desafios aos educadores 

O trabalho colaborativo é uma premissa do Desafio Inova Escola. Organizados em equipes de dois a oito participantes, os educadores são desafiados a trabalhar de forma cooperativa para a elaboração de seus planos de inovação.

Ana Cecília Chaves Arruda
Ana Cecília Arruda.
Foto: Acervo CENPEC

Ana Cecília Chaves Arruda, coordenadora do projeto no CENPEC Educação, reflete:

Para inovar é preciso estar aberto para a construção coletiva, para a escuta e para a tomada de decisão compartilhada. Este é um exercício importante para o cotidiano da escola, um desafio para todos nós.”

Segundo Patrícia Schäfer, outro desafio diz respeito à prototipagem, que prevê a experimentação de parte da proposta: “Além do desenho, da representação, é necessário colocar à prova as hipóteses e teorias apresentadas no plano. Esse é um processo fundamental. É, a propósito, um dos propulsores da aprendizagem.”


Dicas dos avaliadores

Por fim, perguntamos: por que inovar na escola? Confira as dicas que os avaliadores dão aos educadores que desejem participar da próxima edição do Desafio:

“Uma dica é que participem do Desafio pensando que a trilha formativa é também um excelente meio de pactuação da escola sobre seus sonhos”, afirma Patrícia Schäfer. “A trilha propõe formas de transformar esses sonhos em um compromisso coletivo e de levantar possibilidades para concretizá-los”.

Diane Boda destaca a capacidade em articular parcerias como um aspecto a ser observado pelos educadores. “Apontar possíveis parcerias com a comunidade, com outras instituições e serviços, como universidades do entorno, centros culturais etc., indica que a escola busca ampliar suas ações para além dos muros, fortalecendo-se e estabelecendo uma relação de cuidado recíproco com o entorno”, reflete Diane.

“Diante de tantas dificuldades para se concretizar o direito à educação de qualidade para todos, os professores têm buscado mudar seu cotidiano e dos educandos”, observa Marcio Pantoja. “Nesse sentido, é fundamental refletir sobre a realidade escolar, mas principalmente transformar essa reflexão em luta por mudanças no sentido de construir uma educação democrática, de qualidade e para todos”. 


Muito a celebrar

Abrangência do Desafio
Abrangência do Desafio. Arquivo Inova Escola

Segundo a equipe organizadora, esta primeira edição do Desafio Inova Escola foi um sucesso. Na primeira fase, inscreveram-se 1.180 escolas, 90% da rede pública.

A trilha formativa teve a participação de 1,2 mil equipes de educadores, que envolveram 4,4 mil profissionais. Todos os estados brasileiros, mais o Distrito Federal, estiveram representados, totalizando 763 municípios. 

Beatriz Lomonaco comemora:

A iniciativa superou todas as nossas expectativas em termos: de engajamento de educadores e de equipes, da perseverança e do interesse em trilhar os caminhos propostos, fazer as atividades.

Esse é um prêmio que nasce para celebrar as inovações na educação e, a cada etapa, uma nova surpresa traz motivos para mais celebrações.

Agora, vamos à etapa final!”