Jogar: uma estratégia de letramento cartográfico

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Jogar: uma estratégia de letramento cartográfico

Autoras da oficina: Renata de Medeiros, professora e coordenadora de Geografia, e Renata Del Monaco, professora de Geografia e formadora de professores. Conteúdo publicado originalmente na Plataforma do Letramento
O que é?

Apresentação de elementos da linguagem cartográfica, com destaque para a representação em visão vertical.

Materiais

• Computadores/tablets com acesso à internet.
• Materiais escolares diversos: tubo de cola, tesoura, fita adesiva etc,
• Sulfite. 
• Monobloco. 
• Rolinhos de papel higiênico ou papel toalha. 
• Cópias de imagem de satélite do entorno da escola. 
• Acetato ou plástico transparente. 
• Canetas para acetato ou marcadores permanentes. 
• Caixas de sapatos ou outras.
• Objetos diversos para observação vertical (brinquedos, utensílios domésticos, decorativos etc.).

Finalidade

• Compreender que um objeto, elemento ou espaço podem ser observados de diferentes pontos de vista.
• Identificar objetos em diferentes pontos de vista e construir as noções de visão frontal, oblíqua/lateral e vertical. 
• Perceber que os mapas são representações da realidade em visão vertical. 

Expectativa

Compreender o mapa é uma representação da realidade vista de cima e familiarizar-se com a imagem de objetos e lugares do ponto de vista vertical. 

Público

Alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental

Espaço

Sala de aula, sala de leitura, biblioteca ou ateliê de artes

Duração

1 a 3 aulas de 45 a 50 minutos

Início de conversa

A representação espacial da informação sobre os lugares (a cartografia) está invariavelmente vinculada à aula de Geografia. Ela é a linguagem, por excelência, da síntese das informações espaciais: expressa conhecimentos e estuda situações, sempre enfatizando a ideia de organização do espaço. Por tal razão, a leitura cartográfica surge, desde o início da escolaridade, como instrumento básico em Geografia para compreender a espacialização dos fenômenos e para representá-los, também, espacialmente.”
Neiva Otero Schäffer

Os mapas estão presentes no cotidiano de quase todas as pessoas. Algumas trabalham com eles diariamente, como os taxistas, que precisam de mapas para encontrar ruas e endereços, os marinheiros e pescadores, que usam mapas de navegação, as aeronaves, que se orientam com mapas indicando as direções. Nós precisamos de mapas para encontrar o endereço de um amigo ou de consultório, por exemplo. Muitos desses mapas não estão nos atlas nem são de papel, mas se encontram em aparelhos sofisticados, como GPSsmartphonestablets etc. 

Dominar a linguagem dos mapas não é tarefa simples e depende de um longo letramento cartográfico. Este deve acontecer desde os primeiros anos de vida, com a introdução de conceitos básicos, como lateralidade, escala, símbolos e pontos de vista, entre muitos outros, que devem ser trabalhados dentro e fora da escola. Os professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental I fazem uma infinidade de trabalhos que contribuem, e muito, para esse letramento. Abordar todos eles aqui seria impossível, por isso escolhemos trabalhar com a visão vertical

Os mapas têm uma linguagem própria que deve ser compreendida por leitores em qualquer parte do mundo. Entre as características dos mapas, destacamos a representação em visão vertical. Entender que um mapa é uma representação da realidade vista de cima é, sem dúvida, um grande desafio. Para isso, é preciso se familiarizar com a imagem dos objetos e dos lugares do ponto de vista vertical para fazer uma boa leitura dos mapas. Por exemplo, uma árvore vista de frente tem tronco, caule, galhos, folhas, frutos, flores, chão coberto de folhas secas. Mas vista de cima é outra história, não é? É preciso treinar o olhar, exercitar, ver e fazer muitas vezes, brincar com as imagens. Vamos lá? 

Crianças pequenas precisam ter acesso livre a materiais cartográficos para explorar essa linguagem. Você pode deixar na sala um globo terrestre, atlas entre os livros e mapas expostos na lousa ou nas paredes para que elas manuseiem e se familiarizem com essa linguagem.
As análises mais complexas serão trabalhadas em anos posteriores.

Na prática

Sugestão de encaminhamento

Atividades de aquecimento
Professor, você pode iniciar a aula lendo para os alunos “Os sábios e o elefante”, conto do folclore hindu. Essa narrativa pode ser encontrada no livro Lá vem história, de Heloísa Pietro (São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997). Ou assista com eles a esta animação: 

Animação baseada em conto da tradição oral hindu.

Converse com os alunos sobre o conto, destacando os diferentes pontos de vista apresentados pelos sábios. Esta é uma boa oportunidade de se discutir a importância de reconhecer e valorizar os diferentes pontos de vista sobre um tema ou uma situação. Para abrir o debate, você pode ouvir com a turma o samba “Ponto de vista” (João Cavalcanti e Edu Krieger), gravado pelo grupo Casuarina. (Clique aqui para ler a letra e ouvir a canção.)

Em seguida proponha esta atividade. 
• Escolha um objeto (por exemplo, um urso de pelúcia) e mostre-o em várias posições aos alunos.
• Coloque o objeto em cima de uma mesa e disponha os alunos em volta dele. 
• Peça que eles desenhem esse objeto – mas só podem desenhar o que estão vendo! Uma maneira interessante de focar o olhar do aluno: entregue um rolinho do papel higiênico, ou de papel toalha, para ser usado como um monóculo. Assim, ele focará uma parte do objeto e desenhará somente essa parte, como os sábios no conto hindu. 
• Exponha os desenhos e converse sobre a questão do ponto de vista: peça que exponham as sensações, se foi fácil desenhar somente uma parte, se gostaram da experiência.
Agora é a sua vez, professor, de desenhar para a segunda proposta. 
• Escolha alguns objetos da sala (por exemplo, o cesto de lixo, a mesa dos alunos, um tubo de cola). Desenhe esses objetos na visão vertical sem que os alunos vejam. O ideal é fazer isso sem a presença deles. 
• Organize a sala em círculo, coloque os desenhos no chão para que sejam observados de cima e proponha que os alunos descubram quais objetos foram desenhados. 
• Assim que eles descobrirem, pergunte se sabem como os desenhos foram realizados. Puxe novamente a conversa sobre ponto de vista, resgatando o conto e os desenhos de observação que eles fizeram.

Jogo de observação
A criança muitas vezes aprende brincando. A ludicidade deve fazer parte da rotina escolar nos primeiros anos do Ensino Fundamental e, se possível, estar presente até o fim da vida! A próxima proposta é um jogo, a que demos o nome de “Que objeto é esse? Descubra se for capaz!”. 
Objetivo: descobrir qual objeto foi desenhado. 
Cada grupo receberá: 
•  caixa de sapato com um objeto dentro;
•  folha de sulfite;
•  lápis ou caneta preta;
•  folha de monobloco.
Preparação
Professor, será preciso providenciar os materiais com antecedência. É importante que os objetos selecionados sejam bem conhecidos de todos os alunos para que eles tenham uma referência. Imagens feitas de cima são muito diferentes e difíceis de ser identificadas. 
Organize a classe em pequenos grupos. A atividade deverá ser realizada em um espaço amplo, onde cada grupo fique afastado do outro − uma quadra seria a opção mais adequada para a dinâmica. É importante os alunos compreenderem que o ambiente de aprendizagem não se restringe à sala de aula. 
Regras do jogo:
•  Cada grupo receberá uma caixa fechada com um objeto dentro.
•  Também receberá uma folha sulfite. 
•  Os alunos deverão ficar em pé e a caixa no chão. 
•  O grupo desenhará o objeto do ponto de vista de cima (visão vertical). 
Como jogar:
Os grupos não poderão estar próximos um dos outros. É necessário desenhar o objeto visto de cima de forma que os outros não vejam. Assim que todos acabarem, façam um grande círculo. 
Cada grupo apresentará o seu desenho, um de cada vez, para que os outros vejam e anotem no monobloco o nome do objeto. 
Quando todos apresentarem seus desenhos e registrarem as opiniões, será o momento de mostrar os objetos e verificar os acertos. 
Vence o grupo que identificar o maior número de objetos.
Compartilhamento das descobertas:
Quando terminarem, é o momento de conversar sobre a atividade. Leve os alunos a refletir sobre como os objetos ficam diferentes de acordo com a nossa posição e o modo como os enxergamos. Peça que desenhem o mesmo objeto, agora visto de frente, para que notem como a percepção se modifica. 
Exponha os desenhos em um mural da classe.

Visão aérea da escola
Em outra aula, mostre uma imagem de satélite do entorno da escola. Pergunte se alguém sabe o que é aquela imagem. Leve os alunos a reconhecerem que é uma imagem de satélite. Explique que ela também é uma visão de uma superfície feita de cima para baixo. 

Divida a classe em pequenos grupos e distribua reproduções da imagem de satélite da região onde a escola se encontra. Peça aos alunos que identifiquem o que a imagem está representando, se reconhecem algum lugar, onde está a rua da escola, o prédio da escola e outros pontos de referência. Entregue uma folha de acetato ou plástico transparente e canetas específicas (para acetato, ou marcador permanente). Os alunos deverão desenhar a rua, a escola e os pontos de referência que reconhecem. Depois, peça que desenhem a rua vista de frente. 
Coletivamente, retome a atividade com os alunos: eles deverão socializar o que identificaram e mostrar seus desenhos. Oriente-os a observar e comentar as diferenças entre as duas representações: a vista de cima e a vista de frente. 
Novamente, exponha os desenhos no mural da classe. Como síntese, peça que os alunos criem legendas para fixar no mural, próximo à produção deles.

Para adquirir uma imagem de satélite, navegue no site do Google Maps. É uma ferramenta gratuita e possibilita copiar as imagens (basta usar a tecla PrtScn, na parte superior do teclado) e imprimir. Se a escola tem computador com acesso à internet programe uma aula para navegarem nesse site, explorando seus recursos. Oriente-os a procurar o endereço da casa deles, de parentes e de outros locais conhecidos. Acesse o Google Maps.

Para avaliar:
Ao longo das aulas, é importante perceber se os alunos compreendem que, de acordo com a posição que observamos um objeto, elemento ou lugar, há diferentes pontos de vista: horizontal, vertical, lateral ou oblíquo. Atente para ver se entendem que a imagem de satélite é uma visão feita de cima para baixo. Note a participação oral, as colocações, o vocabulário e, principalmente, a criação da legenda. 
Lembre-se que estas são ações didáticas para motivar o aluno a pensar as noções e os conceitos relacionados à cartografia. 

Expectativas de aprendizagem:
Espera-se que os estudantes: 
• percebam que um objeto, elemento, espaço podem ser observados de diferentes pontos de vista;
• identifiquem a maneira como se observa um objeto de cima para baixo; 
• compreendam uma das noções da cartografia, a visão vertical
• reconheçam que a imagem de satélite é uma visão feita de cima.

Para saber mais sobre o letramento cartográfico:
ALMEIDA, Rosangela Doin. Cartografia escolar. São Paulo: Contexto, 2007.
PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e a aprendizagem de Geografia. São Paulo: Cortez, 2012.