Um cineclube na comunidade

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Um cineclube na comunidade

Autoria: Educação&Participação
O que é?

Elaboração e execução de projeto comunitário de um cineclube.

Material
  • DVDs dos filmes indicados.
  • Projetor, telão ou TV.
Finalidade

Exercitar o potencial de criação para intervir no território, ampliando as suas possibilidades culturais.

Expectativa

Aprender a elaborar projetos comunitários e trabalhar em equipe; aprender a analisar e debater um filme.

Público

Adolescentes e jovens

Espaço

Sala de atividades e território

Duração

3 encontros de aproximadamente 1h30

Início de conversa

Cineclube é uma  associação sem fins lucrativos que estimula os seus membros a ver, discutir e refletir sobre o cinema. O cineclubismo surgiu nos  anos 20 do século XX, na França. No Brasil, ele surge em 1929 com o Cineclube Chaplin Club, no Rio de Janeiro.

Os cineclubes surgiram em resposta a necessidades que o cinema comercial não atendia. Assumiram diferentes práticas conforme o desenvolvimento das sociedades em que se instalaram. Mas, o trabalho realizado por todos os cineclubes diz respeito a exibir cinematografias que não estariam disponíveis ao público de outra maneira.

Além disso, promovem a discussão, o intercâmbio de idéias, de filmes e abrem espaços para novos profissionais. Os cineclubes foram responsáveis pela formação cinematográfica de grandes  cineastas como  os brasileiros Glauber RochaCacá Diegues, o francês Jean-Luc Godard e o alemão Wim Wenders.

Os cineclubes se vinculam a uma concepção revolucionária e democrática de organizar a relação do público com a obra cinematográfica – agora chamada de audiovisual. Por isso, sempre foram perseguidos pelo autoritarismo, marginalizados pelo poder econômico, ignorados pela maior parte das esferas institucionais.

Hoje, vivemos um momento muito particular na História, em que a tecnologia digital abre uma oportunidade única de democratização de meios de produção e distribuição do audiovisual. E a proposta cineclubista talvez seja a que melhor se adapte a uma perspectiva de renovação democrática no campo do audiovisual.

Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros é uma entidade sem fins lucrativos, organizada para debater e lutar pelo movimento cineclubista no Brasil. Nasceu na  década de 60, tendo uma atuação importante até a década de 70, reunindo diversas entidades como associações, igrejas, sindicatos, escolas e universidades, nas quais exibia seus filmes.

Durante a ditadura militar (64 a 84),  teve suas atividades perseguidas e, em 1968, as práticas dos encontros nacionais, interrompidas. Em 1974, um grupo de cineclubistas se reuniu em Curitiba, retomando as atividades do conselho. Neste encontro, foi realizada  a defesa do cinema nacional na produção, distribuição e exibição de filmes. Para sanar o problema da distribuição, pois nem todos os cineclubes possuem estabilidade financeira para alugar filmes periodicamente e os acordos com as empresas distribuidoras os tornam reféns do sistema, foi criada a DINAFILMES – Distribuidora Nacional de Filmes Brasileiros.

No ano de 1976, a Federação Paulista de Cineclubes recebeu da Fundação Cinemateca Brasileira parte de seu acervo em 16mm e no mesmo ano iniciou as atividades da distribuidora, primeiro em São Paulo e depois no resto do país. Os principais objetivos da DINAFILMES seriam garantir o acesso dos cineclubes aos filmes nacionais, inclusive os curtas-metragens.

O movimento cineclubista conseguiu de fato rearticular-se, em 2003, com a posse do ministro da cultura Gilberto Gil e do secretario do audiovisual, Leopoldo Nunes. Nesse ano, foi realizada a 24ª Jornada Nacional de Cineclubes Brasileiros, durante o Festival de Cinema de Brasília. Depois disso, muito já aconteceu e agora a entidade se encaminha para a 29º Jornada Nacional.

Na prática

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Marcos Santos/USP Imagens

Como desenvolver?

1º encontro: Organizando um ciclo de filmes

O objetivo da oficina é despertar os adolescentes e jovens para participar de uma atividade cultural importante e simples e que pode trazer benefícios culturais para eles e para a comunidade. Trata-se da organização de um cineclube – que pode ser realizada com alguns recursos, geralmente disponíveis nas escolas e ONGs, como data show e telão e o aluguel de alguns DVDs, o que é bastante acessível para as instituições.

Para introduzi-los no clima do cinema e motivá-los a cultivar o contato com essa linguagem artística, propomos iniciar a oficina com a organização de um ciclo de filmes, que serão vistos, contextualizados e debatidos com eles, no decorrer de um certo período de tempo.

Assim, comece a conversa na roda, perguntando sobre os últimos filmes que viram e de que tipo de filmes mais gostam: drama, comédia aventura? Peça para contarem um pouco do último filme de que gostaram muito e que identifiquem a época da vida em que o assistiram. Por acaso já assistiram o mesmo filme em dois diferentes momentos da vida? Como foi a experiência? Foi igual?

Explique que o cinema é uma linguagem e que há vários gêneros de filmes, assim como temos vários gêneros de textos. Há o drama, o filme de aventura ou de terror, a tragédia, o filme épico, a comédia, o documentário, o filme de época.

Pergunte como escolhem os filmes que assistem, se têm alguns critérios que utilizam, se recorrem a guias específicos, a indicações de jornais, revistas ou sites. Aproveite para comentar sobre os cuidados que se deve ter com as fontes de informação e como verificar se são confiáveis. Uma sugestão é observar onde essas informações estão hospedadas: se estverem na mídia impressa, de circulação ampla e reconhecida, ou em sites bem conhecidos, certamente são confiáveis.

Discuta, então, com eles, a proposta de realizarem um ciclo com três sessões de exibição de filmes, dentre uma relação que você oferecerá. Após a projeção de cada um deles, haverá um debate sobre os assuntos abordados, a fim de ampliar a compreensão que se teve, para além das primeiras impressões. Proponha que cada filme seja de um gênero.

O Portal Porvir e a Carta Educação trazem boas indicações de filmes sobre a infância e a adolescência.

E se?
Se eles quiserem sugerir algum título, poderão, mas combine com eles, que só entrará na relação após você verificar
limite de idade e consultar a resenha.

Organize-os em grupos de quatro ou cinco para consultarem as resenhas virtuais dos filmes e relacionarem três títulos para serem exibidos. Em seguida, abra para os grupos socializarem suas escolhas, relacione os títulos na lousa ou em um cartaz e computem as preferências para planejarem a sequência de exibições. Marquem três oficinas que não precisam ser sequenciadas, para projetarem os filmes e debaterem os assuntos em questão.

Antes da projeção de cada filme, fale um pouco sobre o elenco: o diretor, os atores, o autor da trilha sonora, o fotógrafo; anuncie a trama a ser desenrolada; fale sobre os personagens e o contexto socioeconômico em que se movimentam. Oriente que procurem na internet outras referências e críticas sobre o filme em questão, para se preparem para o que irão assistir. Chame a atenção para alguns elementos do filme que deverão observar, como a época em que se passa, a representação dos personagens, a música utilizada, se as fotografias  são em branco e preto ou coloridas, se a sequencia das cenas é contínua ou se a história vai e volta. Essas orientações são importantes para dirigir o olhar.

Encerrada a projeção, abra o debate, deixando que façam livremente os seus comentários, a partir de suas impressões iniciais. A partir daí, problematize com eles as idéias veiculadas no filme, a verossimilhança dos acontecimentos e as interpretações que cada um deles faz a respeito. Será que concordam ou não com a mensagem passada pelo diretor? Que argumentos têm para justificar sua concordância ou discordância?

Coloque na roda também os aspectos estéticos da película, como as fotos, a música, o posicionamento da câmara e se tais recursos ajudaram a transmitir boas ou más sensações. Teria o diretor sido bem sucedido nesse aspecto?

Importante frisar que não deve haver conclusões ou fechamentos no debate. Cada um assimilará os argumentos apresentados na discussão, do seu jeito, e de acordo com o repertório cultural com que conta naquele momento.

2º encontro: Apresentação da proposta da formação de um cineclube
Depois da realização do ciclo de filmes, é hora de fazer a proposta de formação de um cineclube que pode funcionar na própria instituição e ser aberto para a  comunidade.

Pergunte se sabem o que é um cineclube. Se não souberem, explique que um cineclube é uma associação de pessoas, sem fins lucrativos, que estimula os seus membros a ver, discutir e refletir sobre o cinema.

Projete para eles o documentário “O que é um cineclube?” , disponível abaixo (11min35s):

Nesse documentário, vários cineclubistas falam sobre o conceito de cineclube, seus objetivos e a importância de se preservar essa prática. Referem-se às pessoas que se reúnem para apreciar filmes e debater seus temas, de forma a desenvolver a inteligência, a sensibilidade e a consciência humana, pois os filmes de qualidade  ajudam a refletir sobre a condição humana e compreendê-la melhor. Há alguns deles que dão depoimento em espanhol e em italiano, mas isso não compromete o entendimento das mensagens que transmitem.

Após a projeção do documentário, discuta o assunto: o que entenderam dele? O que pensam sobre essa iniciativa cultural? Concordam com os depoimentos dos cineclubistas? O que eles tentam preservar? O que chamam de cultura de massa?

E eles, gostariam de levar essa ideia adiante? Não é nada difícil montar um cineclube.  Convide-os a acompanhar um tutorial de montagem, por meio do vídeo abaixo (4min51s):

Discuta o tutorial, que é muito simples, e diga que além de sua ajuda, eles poderão buscar também ajuda do professor de Português, de Artes ou de quem gosta de cinema.

Forme uma comissão organizadora com um grupo de adolescentes e jovens para entrar em contato com os professores/educadores e outra para procurar a gestão da escola, a fim de verificarem onde poderá funcionar o cineclube. Este não precisa ser fixo, pode ser montado a cada dia de apresentação dos filmes, pois os equipamentos são móveis. O importante é fazer do ambiente um lugar aconchegante e os equipamentos funcionarem. Você pode conseguir alguns filmes gratuitamente no Curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina.

3º encontro: Bem vindo ao cineclube!
O cineclube está organizado. Agora, como vimos no tutorial, é preciso pensar na sua divulgação e na de seus eventos.

Para iniciar a ideia, é interessante pensar num primeiro ciclo de filmes e de debates, datas e horários e organizar um folder com essas informações para ser distribuído nas outras turmas e em outras escolas ou ONGs próximas.

Seria interessante também organizar um folheto contando sinteticamente a história da criação do cineclube e como ele funcionará: se uma vez por mês, em que dia da semana, em que horário, para ser distribuído ao público. O folheto poderá ser acompanhado de uma enquete sobre assuntos, diretores, atores ou atrizes que os espectadores gostariam de ver contemplados nos próximos ciclos, assim como debatedores.

Oriente-os a sempre convidar algumas pessoas da instituição ou da comunidade para fazerem alguma análise da película e esquentar o debate.

Hora de avaliar
A avaliação da oficina deverá ocorrer após a montagem do cineclube e de sua primeira atividade. Será importante por em pauta as aprendizagens realizadas no processo, desde o começo até a inauguração do cineclube, desde as aprendizagens de conteúdo específico até as habilidades e valores envolvidos.

Para ampliar

O que mais pode ser feito?

A comissão organizadora poderá pesquisar a existência de outros cineclubes na cidade ou em cidades próximas para organizarem juntos algum evento de maior porte, promovendo trocas e contribuições mútuas.

Referências

Sites:
Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC)
Curso de Graduação em Cinema – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)