E se fosse verdade?

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E se fosse verdade?

Autora da oficina: Paula Baracat De Grande, doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente, é Professora da Universidade Estadual do Paraná (Unespar - Apucarana). Conteúdo publicado originalmente na Plataforma do Letramento
O que é?

Oficina de criação, em rede social, de perfis de personagens de contos tradicionais, lendas, fábulas ou de outros gêneros literários previamente trabalhados em sala de aula.

Materiais

• Livros de literatura já lidos pela turma. 
• Computadores conectados à internet. 
• Cartolinas e canetinhas coloridas.

Finalidade

• Retomar contos tradicionais e fábulas já trabalhadas com a turma. 
• Selecionar e descrever algumas personagens desses textos. 
• Produzir perfil em rede social das personagens escolhidas. 
• Criar interações das personagens com base no enredo dos contos de origem.
• Trabalhar leitura e produção de texto na hipermídia. 

Expectativa

Desenvolver a leitura, a criação textual multimídia e a interação em rede social, explorando características do gênero escolhido. A escolha do enredo, das personagens e das tarefas a serem executadas na rede social deve ser adequada à faixa etária da turma.

Público

Alunos do Ensino Fundamental I

Espaço

Sala com acesso à internet

Duração

3 a 5 encontros
1h a 1h30

Início de conversa

Que tal aliar as leituras literárias da turma ao uso das redes sociais digitais? A proposta desta atividade é que os alunos criem, em rede social, perfis de personagens de contos tradicionais, lendas, fábulas ou de outros gêneros literários previamente trabalhados. 

Como perfis criados, façam com que essas personagens interajam digitalmente com base nas características das personagens e nos enredos das histórias escolhidas.

Para isso, é necessário estudar o funcionamento da rede social, do texto da hipermídia e das histórias e personagens. As redes sociais têm políticas de uso, com indicação de idade mínima de seus usuários, por exemplo, além de outras regras e recomendações. Informe-se sobre essas políticas de uso antes de propor a atividade. 

Hipermídia
A internet é um espaço propício ao surgimento de gêneros textuais híbridos, com base na junção entre hipertexto e multimídia.   
O hipertexto caracteriza-se pelo acesso à informação de maneira não linear, propiciando a articulação entre diferentes textos e a interatividade com o usuário/leitor. Este, por sua vez, não pode usá-lo de maneira passiva, pois, “ao final de cada página ou tela, é preciso escolher para onde seguir” (SANTAELLA, 2007, p. 310).

“A multimídia é formada pela justaposição de textos, sons e imagens. Ao se juntar com o hipertexto, configura a hipermídia. As unidades conectadas pela hipermídia podem aparecer na forma de diferentes modalidades e sistemas semióticos, como textos escritos, imagens, fotos, desenhos, gráficos, vídeos e sons de várias espécies” (LIMA; DE GRANDE, 2013).

Na prática

Sugestão de encaminhamento

Retomando as histórias já conhecidas pela turma 
A atividade pode iniciar com uma conversa com toda a turma sobre as histórias já lidas na escola ou outras conhecidas pelos alunos. Questione: que histórias já lemos na escola? Quais vocês lembram? Quais são as preferidas? Vá fazendo uma lista na lousa com os títulos das histórias. Com a lista pronta, proponha aos alunos: e se as personagens dessas histórias fossem reais e tivessem perfil em rede social? Que tal criarmos perfis para as personagens preferidas da turma?

Converse com a turma sobre as redes sociais disponíveis e sobre aquelas mais utilizadas pelos alunos. Assim, a turma em conjunto escolhe em que rede social os perfis serão criados. Não é necessário ler novas histórias. É interessante retomar as já lidas pela turma, pertencentes a gêneros conhecidos e trabalhados. Assim, pode-se aprofundar o estudo das selecionadas, para que o perfil seja coerente com a construção da personagem no enredo original. Divida a turma em pequenos grupos. Cada grupo ficará responsável por uma personagem. As escolhidas podem vir de uma mesma história ou de histórias diversas. 

Construindo os perfis das personagens 
Peça que os alunos releiam as histórias escolhidas pelos grupos. Eles devem fazer um estudo cuidadoso da personagem. Você pode orientar os estudantes a elaborarem uma tabela com as características físicas e a personalidade de cada personagem e um registro dos fatos mais importantes de sua vida. Eles podem dispor essas informações em um cartaz e expô-lo à turma. Ressalte que as características da personagem, principalmente as de personalidade, não são sempre explícitas na história. Os fatos do enredo e ações da personagem dão dicas de sua personalidade. Veja um exemplo:

Franz Juttner

Branca de Neve
Características físicas: a mais bela do reino, pele clara,
cabelos negros, lábios vermelhos.
Personalidade: bondosa, gentil, ingênua, frágil.

Fatos importantes (segundo uma das muitas versões do conto)
Muito amada pelos pais, perdeu a mãe quando era criança. Seu pai, o rei, casa-se com outra mulher, gananciosa, vaidosa e má.
A rainha inveja a beleza e a juventude de Branca de Neve e planeja matá-la, ambicionando ser a mais bela do reino. A madrasta ordena que um caçador a leve à floresta e arranque seu coração. Ele, com medo da rainha. obedece. Mas, com piedade da princesa, conta a ela o plano da madrasta e a manda fugir.
Branca de Neve, muito assustada, corre para a floresta e encontra uma casinha habitada por anões. Ela passa a viver com eles, mas a rainha descobre que a princesa está viva.
Determinada a assassinar sua rival, a madrasta vai diversas vezes disfarçada até a casa dos anões. Por fim, consegue que Branca de Neve morda uma maçã envenenada.
Quando os anões chegam, colocam a princesa em uma carruagem para levá-la ao castelo. No caminho, o corpo de Branca de Neve cai, um pedaço da maçã preso na garganta é expelido e ela acorda. A rainha má é desmascarada e punida com a morte.

Na apresentação do cartaz, é interessante que o grupo explique como as características estão presentes no enredo. Você pode ajudá-los fazendo perguntas, por exemplo: por que vocês acham que Branca de Neve é ingênua? Que fato confirma essa característica? Após o debate sobre cada personagem, os grupos podem refazer e completar o cartaz. Ressalte que, com base neste cartaz, cada grupo vai construir o perfil na rede social e interagir com as outras personagens. O cartaz também é uma ótima oportunidade para trabalhar a caracterização de personagens ao longo do enredo, não só pela descrição direta, como também pela exploração de aspectos gramaticais, como a classe dos adjetivos e a concordância nominal, de acordo com a idade e o estágio de aprendizagem da turma.

Caso haja interesse dos estudantes, os grupos podem fazer sátiras das personagens, já planejando como elas serão apresentadas na rede social. Por exemplo, as princesas dos contos de fadas poderiam ser mais independentes, não esperariam um príncipe encantado; a Bela Adormecida poderia “desmentir” o fato de que teria sido acordada pelo beijo do príncipe, e dizer que foi devido ao seu cheiro desagradável por não ter tomado banho há dias, andando pela mata a sua procura. As sátiras podem ser produzidas em sala de aula, compartilhadas e comentadas entre os grupos antes da criação dos perfis virtuais.

Criando perfis em rede social 
Geralmente, é necessário ter um e-mail para cadastrar um novo perfil em rede social, além de nome, sobrenome e data de nascimento. Então, os grupos devem criar uma conta de e-mail para cada grupo antes de fazer o cadastramento na rede social. Os integrantes também devem decidir o sobrenome e a data de nascimento da personagem, caso tais informações não constem nas histórias. O grupo precisa ainda selecionar uma imagem para colocar como a foto do perfil. Eles podem criar a imagem ou buscar alguma na internet.

Ao preencher o perfil na rede social, o grupo deve se basear no cartaz com características e fatos importantes da personagem. Outros dados, como idade, local de nascimento e profissão, devem ser escolhidos pelo grupo de maneira coerente com a história de que a personagem participa. Após criar os perfis, um grupo deve adicionar como “amigos” as personagens dos outros grupos. Inicialmente, é interessante restringir a rede de amigos aos grupos dos alunos.

Você pode escolher uma personagem e criar um perfil na mesma rede social para interagir com os grupos. Suas postagens e comentários você podem ajudar os grupos a compreender a brincadeira e encarnar a personagem. Nunca poste como professora ou professor no perfil da personagem. 

Interagindo na rede social 
Combine com a turma a frequência de postagens. Por exemplo, cada personagem deve fazer uma postagem por dia e comentar as postagens de pelo menos outras duas personagens. Cada dia, um membro do grupo é responsável pelo perfil.

Incentive que os grupos postem links para sites relacionados à personagem escolhida, registrem fatos da rotina da personagem que tenham relação com a história. Os alunos podem brincar com fatos da história. Os comentários às postagens dos outros grupos sempre devem estar associados com as características da personagem, nunca com a relação entre os alunos.

Para retomar o exemplo da Branca de Neve, os alunos poderiam criar postagens como “Cansei de brincar de casinha na floresta. Chega de ter medo da rainha má. Tô indo passear com as amigas Cinderela e Bela Adormecida #prontofalei”. A linguagem é informal e pode explorar o internetês à vontade, como também o hibridismo de linguagens (usando vídeos, áudios, imagens etc.). Contudo, os usos da linguagem também dependem do perfil da personagem escolhida. Estimule-os a imaginar como escreveria um rei ou uma criança, ou uma fada madrinha etc. Procure dar exemplos distintos com base nas falas das personagens nas histórias lidas.

Os alunos também podem fazer montagens, postando imagens das personagens juntas, brincando com a relação entre as histórias e fatos da atualidade. Caso haja personagens da mesma história, os grupos podem recontá-la pelas postagens e comentários. 

Referências bibliográficas:
ROJO, R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.
ROJO, R. Escol@ conectada: os multiletramentos e as TICs. São Paulo: Parábola, 2013.
SANTAELLA, L. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

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