Confira artigo de Maria Alice Setubal, presidente do conselho de administração do Cenpec, na Folha de S.Paulo de 04/09/2015.
Sem adentrar no julgamento das posições em jogo no atual debate sobre a crise política e econômica, que atinge todos os Poderes, não podemos deixar de destacar, de um lado, a superficialidade das discussões e o imediatismo das soluções propostas e, de outro, os radicalismos e manifestações de ódio expressas nos cartazes das ruas e, especialmente, nas postagens veiculadas nas redes sociais.
Ilustração de Daniel Bueno
A busca por entender o momento e o processo que está em construção nos leva a refletir sobre quais valores estão em movimento nesse cenário, em que prevalece a intolerância, o preconceito e a ignorância sobre o funcionamento de nosso sistema político e jurídico, assim como a falta de diálogo e de respeito ao outro e a uma visão de vida comum do espaço público.
Como educadora, não posso deixar de questionar sobre a educação que queremos para o país. Priorizamos a educação no discurso. Temos, porém, pouca efetividade e continuidade de políticas que impactem a qualidade e que garantam o direito de todas as crianças e jovens.
A precariedade da qualidade da educação expressa pelos resultados das avaliações nacionais e internacionais, entre outros indicadores, e a demanda por uma mão de obra qualificada, como reflexo dos baixos índices de produtividade, têm levado diferentes grupos, organizações e empresas a intervir no debate e na proposição de soluções.
Em um país da dimensão do Brasil e com dívidas históricas, as soluções não são fáceis. Não há uma saída única que atinja todas as regiões e modalidades de ensino.
Ao analisarmos o modelo de desenvolvimento brasileiro, no entanto, valorizamos em demasia o consumo em detrimento do conhecimento, pensamos mais em alcançar melhores resultados nas avaliações do que oferecer um conhecimento humanístico e científico capaz de formar as novas gerações para os desafios do século 21.
Pensamos mais no diploma como um passaporte para o trabalho do que na importância desse saber como emancipação e aquisição de capacidades que possam significar maior autonomia e liberdade.
Somos uma democracia muito jovem, estamos aprendendo e experimentando formas de agir. Crises podem abrir novas oportunidades se refletirmos mais profundamente sobre que país queremos. Para isso, a conclusão das investigações ora em curso da Operação Lava Jato, com a punição dos culpados, é oportunidade de uma mudança cultural de fundo, como disse Marina Silva.
Precisamos abrir espaço para uma nova atitude de governos, Parlamentos, empresas, instituições e cidadãos e cidadãs de modo a recuperarmos a confiança nas instituições e nas pessoas públicas e, portanto, em nós mesmos.
Nesse sentido, construir uma Agenda Brasil deveria, ao contrário do que está posto, ter como um dos eixos centrais a educação e os valores da democracia, mas não de uma forma pontual e marginal. Precisamos de amplo diálogo entre setores representativos da sociedade e governo, Legislativo e Judiciário.
A saída da crise em que estamos imersos não será simples e nem rápida. No caso da educação, já temos uma lei em vigor, o Plano Nacional de Educação, que fornece um mapa das ações prioritárias. A partir daí há muito a aprofundar e debater, sobre o foco das políticas, e como formulá-las e implementá-las.
Nosso atraso na educação é latente e não podemos, mais uma vez, abrir mão de inserir a educação no centro de uma agenda que pense o país no médio e no longo prazo.
Precisamos pensar em como formar cidadãos que contribuam, por meio de seus conhecimentos, para a construção de um país mais justo, respeitem a nossa diversidade cultural e ambiental, alcancem melhores índices de produtividade e construam uma participação qualificada no espaço público.
Maria Alice Setubal, doutora em psicologia da educação pela PUC-SP, é presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – Cenpec e da Fundação Tide Setubal. Foi assessora de Marina Silva, candidata à presidência em 2014.
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