Paulo Freire, legítimo patrono da educação brasileira
O CENPEC Educação resgata e reverencia as contribuições do grande pedagogo ao Brasil e ao mundo após homenagem em desfile
Por João Marinho
Dois de maio de 1997. No Hospital Albert Einstein, em São Paulo, falecia, aos 75 anos, de um ataque cardíaco, aquele considerado um dos maiores – senão o maior – educador brasileiro, homenageado com 29 títulos de doutor honoris causa de universidades da Europa e América e com prêmios internacionais, como o de Educação para a Paz, da UNESCO, concedido em 1986: o pernambucano Paulo Freire.
Freire foi oficialmente considerado patrono da educação brasileira em 2012, por meio da Lei 12.612 e, mais recentemente, voltou aos holofotes, ao ser homenageado durante o desfile da escola de samba Águias de Ouro, vencedora do Carnaval de São Paulo em 2020.
Há, porém, tentativas de retirar-lhe o título de patrono, quase todas baseadas em argumentos ideológicos, como o de que seria comunista e que sua obra, adotada por educadores brasileiros, seria responsável pelos resultados insatisfatórios do País em provas internacionais, como o PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Programme for International Student Assessment).
Diálogo e contexto
“Na verdade, a grande questão envolvendo Paulo Freire é que ele tinha como princípio que ensinar a ler era, acima de tudo, ensinar a ler o mundo, e não apenas estabelecer relações entre os sons de letras e palavras e sua representação gráfica”, explica Maria Alice Junqueira de Almeida, psicóloga e coordenadora do projeto Letra Viva Alfabetiza, do CENPEC Educação.
“Foi essa abordagem, que leva em conta o território onde as pessoas vivem e as faz refletir sobre esse território e suas condições de vida, que causou toda a polêmica envolvendo seu trabalho, porque não era do interesse de todos”, afirma a especialista.
A leitura de mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquela.”
Paulo Freire
Sérgio Haddad, biógrafo de Paulo Freire e autor de um artigo na Folha de S. Paulo sobre o pedagogo e filósofo, fundamenta a observação de Maria Alice Junqueira: “Cinco décadas atrás, Freire foi preso e exilado pelos militares após o golpe de 1964”, escreve Haddad. “A experiência na cidade de Angicos [Rio Grande do Norte] ganhou notoriedade internacional por se propor a concluir em 40 horas o processo de alfabetização e a formar cidadãos mais conscientes de seus direitos e dispostos a defendê-los de maneira democrática.”
Veja um vídeo abaixo sobre o método Paulo Freire, produzido pela Repórter Brasile disponibilizado pela Carta Capital.
Para Paulo Freire, o educando precisaria ser considerado como ser social, histórico, cultural, político e afetivo. A pedagogia, além de acolher as diversidades e os diferentes saberes e demandas, deveria pautar-se pela escuta e pelo diálogo. O próprio currículo deveria ser revisto e considerar as demandas e realidades dos alunos, e o conhecimento era uma construção coletiva.
“Em tese, o analfabetismo poderia ter sido erradicado com ou sem Paulo Freire. O que faltou foi decisão política (…). O discurso da classe dominante mudou, mas ela continua não concordando, de jeito nenhum, que as massas populares se tornem lúcidas”, afirmou o próprio Paulo Freire, como citado no artigo de Sérgio Haddad.
Completados 22 anos de sua morte, neste dia 2 de maio, qual o legado do educador? Para Felipe Bandoni, professor de Ciências na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, o título de patrono faz jus à relevância das ideias de Freire para a educação “Além de serem aceitas mundialmente, elas são aplicáveis, especialmente no Brasil. Sua obra é abrangente e certeira ao diagnosticar as questões e realidade nacionais”, disse o professor à revista Nova Escola.
“Paulo Freire falava: a função da educação é humanizar, é tornar o ser humano mais humano (…). Quando tantos seres humanos são negados em sua humanidade, são roubados de sua humanidade, e a função da educação é recuperar a humanidade roubada”, comentou o sociólogo e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Miguel Arroyo, à plataforma Educação&Participação.
Não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.”
Reconhecido pela UNESCO e pelo Instituto Paulo Freire, O Andarilho da Utopia contém cinco programas sonoros de cerca de 12 minutos cada produzidos pelo professor e radialista Andre Barbosa Filho para a Rádio Nederland – e conta a trajetória pessoal, profissional e acadêmica do pedagogo. Acompanhe.
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