Reunindo alunos e professores de todo o Brasil, os encontros de semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa tiveram início com os gêneros Crônica, entre os dias 23 a 25 de outubro; e Memórias Literárias, de 28 a 30.
Em São Paulo, os semifinalistas foram recebidos com uma série de atividades culturais e educativas. Mais que uma etapa de seleção, esse é um momento de formação e compartilhamento entre todos os participantes, vindos das mais diversas realidades: de escolas do campo e da cidade, do interior e da capital das várias regiões do País.
As atividades realizadas se dividiram entre o trabalho em
sala de aula – com os participantes separados em pequenos grupos e acompanhados
por formadores experientes – e visitas a museus, palestras com escritores e
celebrações para a entrega das medalhas de bronze e, ao final dos encontros,
das medalhas de prata aos finalistas.
Outro momento importante foi o dos saraus. Professores e alunos puderam mostrar seus talentos em forma de música, poesia, cordel e dança, sempre com muito humor e criatividade.
Crônica
Premiação prata, da categoria Crônica. Foto: Camilla Kinker/Itaú Social.
O escritor Jessé Andarilho falou para alunos e professores semifinalistas do gênero Crônica sobre como o cotidiano o inspira a escrever e como suas histórias nascem do que ele via e ouvia na favela. O autor também falou sobre a importância de cada um registrar sua visão de mundo.
Se tivéssemos um livro de história escrito pelos índios ou pelas pessoas escravizadas, hoje o Brasil seria outro. Por isso, temos de escrever nossos próprios livros, nossas crônicas, nossas histórias, contar sobre o lugar onde vivemos.”
Jessé Andarilho
Jessé falou ainda sobre os desafios que enfrentou, a
dificuldade de publicar seu primeiro livro e sobre a experiência de escrevê-lo
no celular. “Eu escrevia no trem, nas três horas que levava de casa até o
trabalho. As pessoas falavam ‘você é maluco, escrever um livro no trem!’,
porque elas pensavam no livro inteiro. Eu não. Eu só pensava na próxima
palavra, e que depois vem outra, depois um parágrafo, outro, um capítulo, um
livro, depois outro…”
Depois da palestra, os semifinalistas foram conhecer a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Para muitos, foi a primeira vez em um grande museu de arte. Além de apreciar e refletir sobre as obras, os alunos fizeram fotos do passeio. A partir dessas imagens, eles foram convidados a redigir uma nova crônica.
Revelando um olhar crítico e sensível, os jovens fotografaram e escreveram sobre o
que viram no museu e na cidade: a orquestra de música clássica, obras antigas e
contemporâneas, grafites, o caos do trânsito, os vendedores ambulantes e os
moradores de rua.
Selecionados na categoria Memórias Literárias. Foto: Camilla Kinker/Itaú Social.
Já a escritora convidada para falar com os semifinalistas da categoria Memórias Literárias foi Geni Guimarães. Na palestra para os professores, ela falou sobre sua trajetória literária, sua carreira como professora e sobre o racismo que precisou enfrentar dentro e fora da escola.
Minha formação acadêmica não me ensinou a ser negra. A escola não ensina a criança negra que ela é negra, que ela pode, que tem capacidade.”
Geni Guimarães
Geni mostra uma marca na perna, feita ainda na infância, e
explica sua origem: “aqui eu raspei com tijolo, porque queria ser branca. Dá
para imaginar o tamanho dessa violência? Isso não pode acontecer! Quebrar as
barreiras depois é muito difícil! Mas tenho medo que ainda aconteça…”, diz a
autora, que sonha com o fim do preconceito: “Se quisermos, o mundo todo pode
ser uma grande família”.
No dia seguinte, foi a vez de os alunos conhecerem a
escritora. A partir de perguntas elaboradas em sala de aula, eles entrevistaram
Geni, perguntando sobre sua infância, o lugar onde vivia, sua escola, sua
família e sobre como essas histórias aparecem em seus livros. Os alunos
registraram as respostas no papel e elaboraram um texto sobre as memórias da
escritora, escolhendo alguns episódios marcantes de sua história para narrar.
Os semifinalistas de Memórias Literárias ainda visitaram o Museu Afro Brasil, onde puderam conhecer mais sobre a forte influência da África na cultura brasileira. Os grupos foram conduzidos por educadores que apresentaram a história dos afro-brasileiros, dos orixás e de artistas negros da pintura, escultura e literatura brasileira.
Conhecer mais dos semifinalistas é uma das maiores riquezas da Etapa Regional (Semifinal) da Olimpíada, cujo tema é “O lugar onde vivo”. Professores e alunos que fazem arte, poesia, música e, sobretudo, transformam sua realidade todos os dias.
Em Ribeira do Pombal (BA), a seleção de uma crônica para a semifinal mobilizou toda a comunidade escolar: aluno e professora receberam homenagens, deram entrevistas para as rádios locais e foram parar até nos outdoors da cidade.
Em Caruaru (PE), a escola de um aluno selecionado para semifinal passou a ser vista com outros olhos pela comunidade do entorno e teve sua estrutura remodelada. Nas palavras de Ruan Henrique: “Tudo por causa da Olimpíada, de uma crônica e do trabalho de um professor”.
Já em Santa Bárbara do Leste (MG), o ânimo com a classificação de uma escola que está há cinco anos sem prédio próprio, realizando as aulas em espaços adaptados, levou a comunidade a se mobilizar por mudanças. No próximo ano, a nova unidade deve ser inaugurada, para alegria da professora Silvania Paulino Teixeira e seus alunos.
Também conhecemos histórias como a de Beatriz e seu irmão, João Pedro, que foi finalista da Olimpíada em 2016. O jovem diz que ter seu texto selecionado mostrou a ele o tamanho de sua capacidade e foi um grande incentivo para que estudasse e tentasse a aprovação no vestibular.
Aprovado, hoje ele cursa medicina numa universidade federal
e incentiva as irmãs a participarem da Olimpíada também.
Finalmente, em Palmas (TO), a jovem Ana Beatriz criou um projeto de visitas às bibliotecas do município. O que começou como um programa entre amigos de sua turma hoje envolve diversas escolas da cidade.
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