E se todo dia fosse dia de literatura negra feminina?
Conheça iniciativas que buscam potencializar novas narrativas de mulheres negras e fazê-las se reconhecerem como escritoras
Por Stephanie Kim Abe
Quem segue o canal no YouTube Literatura Feminina tem a garantia de começar todos os dias com poesia. Melhor ainda, com poesia escrita por mulheres, recitada por mulheres, como Janaína Nascimento, lendo o poema “Negras narrativas”:
A iniciativa é de Jeovânia P., escritora, poeta e professora paraibana. Ela toca diversos projetos que têm como objetivo incentivar e disseminar a produção literária de mulheres, principalmente mulheres negras.
Um deles é o Livro das Marias, que traz contos e poesias de mulheres do Brasil e do mundo. Ele já tem duas edições, e a terceira já está em produção. Outro, o Escrituras Negras, é uma coletânea de contos, crônicas e poesias escritas por mulheres negras.
Ao trabalhar nessas duas diferentes obras, Jeovânia notou como o mercado editorial é mais difícil de ser acessado por escritoras negras:
O primeiro grande choque que eu tive quando fui organizar o Escrituras Negras foi em relação à diferença econômica e, consequentemente, de publicação entre o Livro das Marias e o Escrituras Negras. No primeiro, poucas mulheres estavam publicando pela primeira vez, enquanto no Escrituras Negras um número muito significativo de mulheres estava tendo ali a sua primeira oportunidade de publicação.”
Jeovânia P.
Assim, ela percebeu a potência e a importância de garantir que essas mulheres tivessem apoio e visibilidade para continuar trabalhando na sua arte.
Foto: Acervo pessoal
A gente tem no imaginário que escritor é aquele homem branco e abastado. Então quando a mulher preta escreve, ela não toma para si o nome de ‘escritora’, mesmo tendo o livro publicado. No trabalho com o Escrituras Negras, criamos uma rede de apoio e vimos muitas dessas mulheres começarem a se empoderar de sua arte, de sua capacidade de produção e de trabalhar a sua autoestima como escritoras.”
Incentivar a produção artística negra desde a infância
Diante dessa realidade, Jeovânia acredita que a escola tem um papel fundamental para incentivar que estudantes negras e negros que tenham interesse na escrita sejam estimuladas(os) a desenvolver essa habilidade artística. A seu ver, as(os) professoras(es) precisam escolher obras de autoras negras para serem lidas pelos seus estudantes, fazendo com que a escola compre esses livros e, por consequência, incentive também o mercado editorial com essa procura.
Com isso, as crianças têm o seu psicológico trabalhado desde cedo, em um processo de empoderamento que deve acontecer durante a sua formação como cidadãs, e não quando elas já são adultas e não se reconhecem como artistas que são:
As(Os) professoras(es) precisam querer que os seus estudantes olhem para si e se reconheçam enquanto potenciais escritores e escritoras. Que elas(es) olhem para uma autora negra e pensem: ‘essa escritora é a cara de mamãe. Ela parece tanto comigo, e eu escrevo também, de repente posso também estar publicando algo’. Principalmente na escola pública, onde a maior parte do alunado é negro, esse reconhecimento de sua intelectualidade e arte acontece por meio do contato com os livros na sala de aula.”
Jeovânia P
Sarau das Pretas nas escolas
Em São Paulo, o Sarau das Pretas, composto pelas escritoras periféricas Débora Garcia, Elizandra Souza, Jô Freitas e Taisson Ziggy, também tem feito esse movimento de difundir e visibilizar a literatura produzida por mulheres negras.
O projeto Conexões Literárias – Sarau das Pretas nas Redes acontece desde 2019 e tem realizado, neste mês de março, palestras em escolas da rede pública municipal. O trabalho é feito com estudantes do ensino fundamental II ao EJA, como uma forma de incentivo à leitura e à escrita.
Na ocasião, também está sendo apresentada a obra Narrativas Pretas, fruto de um concurso literário realizada no ano de 2020 que reuniu 30 autoras autodeclaradas pretas e/ou pertencentes à comunidade LGBTQIA+.
A maior parte dos escritores e escritoras iniciam tardiamente suas carreiras. Nosso projeto também visa encurtar este caminho e fomentar a literatura afrobrasileira, o movimento de saraus, a literatura periférica, mostrando que eles também podem ser protagonistas da sua própria história e publicarem, se assim desejarem. Afinal, nós passamos por todo o ensino fundamental com a imagem do escritor como um homem branco, de meia idade, e que falavam de questões que não necessariamente eram as questões que a gente via na periferia.”
Débora Garcia
O Sarau também irá distribuir o livro para 106 bibliotecas espalhadas pela capital paulista. Para marcar essa ação, as escritoras realizarão uma live no dia 28/03, no seu canal no YouTube, com a participação de Mulheres Negras na Biblioteca, para discutir o acesso às bibliotecas durante o período da pandemia e o incentivo à leitura.
Veja abaixo o último encontro do Sarau das Pretas convida, que teve a participação da diretora, cantora e atriz Naruna Costa:
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