Vídeo conta experiência de alfabetização em ambiente remoto, realizada pela Comunidade Cenpec em parceria com a Fundação Tide Setubal; confira depoimentos das pessoas participantes
Em uma reportagem de setembro de 2021, contamos sobre o Letra Móvel, iniciativa da Comunidade Cenpec em parceria com a Fundação Tide Setubal ao longo da pandemia. O projeto, que começou em abril de 2020, buscou apoiar estudantes do 1º ano do ensino fundamental de uma escola estadual do Jardim Lapenna, na periferia de São Paulo, no seu processo de alfabetização e letramento durante o ensino remoto.
Esse apoio aconteceu por meio de chamadas de vídeo de WhatsApp, que ocorriam duas vezes por semana. A cada encontro, sempre com a presença de um(a) familiar, as alfabetizadoras voluntárias propunham atividades e brincadeiras, como leitura de diferentes gêneros literários, para introduzir as crianças aos usos sociais da língua escrita.
Para contar sobre essa experiência inédita, os resultados esperados e inesperados (teve até familiar que voltou a estudar) e as lições aprendidas – por estudantes, formadoras, famílias e professoras -, a gente produziu um vídeo-relato. A produção audiovisual conta como nasceu a ideia, apresenta as formadoras voluntárias, além de refletir sobre os principais ganhos da experiência e trazer registros fotográficos das atividades realizadas com as(os) estudantes em ambiente remoto. Confira abaixo:
E quem participou, o que achou?
Ainda que tivesse como foco a alfabetização das crianças, o Letra Móvel impactou profundamente outras pessoas. Ao longo de todo o processo, as famílias estiveram muito próximas das formadoras, e estas também aprenderam muito sobre as dificuldades que cada estudante e cuidador(a) enfrenta no dia a dia.
Leia, veja ou escute a seguir alguns depoimentos.
Ilda Ferreira da Silva, coordenadora pedagógica da Escola Estadual Prof. Pedro Moreira Matos:
Esses encontros foram momentos gratificantes, momentos de crescimento, de revisitar e repensar a própria prática. De olhar para os alunos também com um olhar muito especial. Os professores tiveram um crescimento nas suas práticas, tiveram mais segurança nas suas práticas e puderam compartilhar, tirar de si tantas angústias que eles traziam.”
Ilda Ferreira
Malu Gomes, analista de programas e projetos do Galpão Tide Setubal:
Foto: acervo pessoal
“Foi um trabalho incrível que o Letra Móvel desenvolveu com as famílias. As professoras entravam em contato comigo para empréstimo de livros para as crianças participantes do projeto e, com isso, as mães também se tornavam leitoras juntamente com seus filhos, que cada vez mais se aproximavam da alfabetização.
Foi incrível receber informações que as crianças já estavam lendo e que tinham prazer em ler – inclusive, atualmente, continuam pegando livros emprestados. Ver o despertar da literatura nas famílias é maravilhoso!
Entendemos que somar esforços é necessário para a garantia e a promoção de uma educação de qualidade, e que juntos podemos transformar uma comunidade em um território educador. Como dizem: ‘juntos somos mais fortes’!”
Foto: acervo pessoal
Daniel Linhares da Silva, estudante com disfunção na fala da Escola Estadual Prof. Pedro Moreira Matos:
Muito obrigado por vocês terem ajudado no tom de fala e a ler e escrever. Eu agradeço.”
Daniel Linhares
Ouça o depoimento do Daniel
Vania e filhos. Foto: acervo pessoal
Vania Silva, mãe do estudante Daniel Linhares da Silva:
Eu posso falar que esse projeto foi transformador. Ele transformou não só a vida do Daniel, mas a vida de toda a família. Porque todas as atividades envolviam a família inteira. Então o aprendizado era mútuo, a aproximação feita… os momentos de estar juntos, aprendendo, rindo e brincando, momentos prazerosos que nos aproximava e nos ensinavam muito além do letramento.”
Vania Silva
Ouça o depoimento da Vânia
Madalena e filhas. Foto: arquivo pessoal
Madalena Pereira de Santana, mãe da estudante Monalisa de Santana Silva:
Eu agradeço muito, muito a Patrícia, porque ela me ajudou bastante com a Monalisa, com formas de poder… como separar as sílabas, formar as palavras, jogos, brincadeiras. Sempre que eu podia, eu acompanhava.”
Madalena Santana
Ouça o depoimento da Madalena
Elisa Pitombo, formadora voluntária:
Foto: acervo pessoal
“Nos encontros mensais que realizamos apenas com as famílias, a partir de novembro de 2020, buscávamos fortalecer a ideia de que todos temos saberes e conhecimento – inclusive os familiares. Elas tinham muitas dúvidas com relação à nossa metodologia e nós discutimos intensamento o ritmo e o estilo de aprendizagem de cada estudante, que é diferente, ainda mais nessa situação de ensino remoto.
Também trabalhamos com elas os limites que precisavam ser colocados naquele ambiente domiciliar, para garantir uma condição mínima para que o atendimento individual com as crianças acontecesse: um espaço longe da televisão, uma tábua ou bandeja para colocar os jogos etc.
Esses encontros se tornaram espaços de ressignificação, união e acolhimento para essas famílias, e de criação de vínculo para nós. A famlia é parte fundamental do letramento e alfabetização, porque é com ela que se desenvolve todo o vocabulário, toda a relação afetiva, e é com ela que a gente fazia a leitura e os jogos.
Foi um aprendizado para todas(os) e, para mim, foi muito gratificante ver crianças como o Daniel saindo de um lugar de não aprendente para um lugar em que ele pode aprender – e tem aprendido.”
Sonia Madi, coordenadora das formações do Letra Móvel:
Foto: Acervo Cenpec
“Uma das coisas mais importantes que fizemos foi esse trabalho em conjunto com as famílias, porque uma criança de seis anos não dá conta de ficar sozinha atenta ao celular na atividade que estamos propondo.
Além disso, essa parceria era necessária justamente pela condição do ambiente remoto. Qual é o comportamento de alguém que tem aula por celular, em uma sala em que também está a avó deitada no sofá assistindo televisão, a tia fazendo a unha no banquinho, a mãe fazendo comida? Todas nós formadoras sabíamos dar aulas na escola, mas e nesse ambiente domiciliar de múltiplas tarefas?
As mães também estranharam muito a nossa maneira de se relacionar com as crianças, porque conversávamos muito com elas. Para nós, conversar serve tanto para a construção do vínculo como para o desenvolvimento da linguagem oral, da expressão do pensamento completo. Mas as mães, que não tem essa experiência de ver a criança enquanto não sabe, ficavam ansiosas e achavam que estávamos jogando conversa fora e perdendo tempo.
Por isso, acho que esse nosso maior desafio foi também a nossa maior conquista. Porque foi difícil, mas conseguimos, nessas condições, construir compromisso e vínculo, responsabilidade umas com as outras, fazer combinados e respeitá-los. E as famílias passaram a valorizar a conversa, aceitar escritas não convencionais, aguentar o erro das crianças. Mais importante, elas perceberam a necessidade de um ambiente alfabetizador e letrado na casa, então elas penduravam as letras do alfabeto, escreviam bilhetes na geladeira, pediam livros do Galpão para serem entregues de bicicleta em suas casas.
Esse, aliás, é o maior conselho que a gente pode tirar dessa experiência e dar para qualquer escola e comunidade: a importância de ampliar a presença da escrita na vida de todas as famílias, porque uma criança que nasce em uma família com presença e uso da escrita tem mais condições de ser alfabetizada, já que compreende desde muito cedo o que é a escrita e pra que ela serve.”
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