Ideb 2021: cai o aprendizado, ressaltam-se as desigualdades
Entenda por que é importante cautela ao analisar os dados do Ideb 2021 e de que maneira ele pode ajudar a pensar estratégias de intervenção na sala de aula
Por Stephanie Kim Abe
Os esperados dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados na última sexta-feira (dia 16) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), atestam o que as redes, as(os) especialistas e as(os) professoras(os) já vinham notando há pelo menos um ano: o retrocesso nos níveis de aprendizagem das(os) estudantes por causa da pandemia.
O Ideb é calculado a partir de duas métricas: a taxa de aprovação escolar e da média das notas obtidas pelas(os) estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que são testes padronizados em larga escala em Língua Portuguesa e Matemática, com foco em leitura e resolução de problemas, respectivamente.
Como, durante o período de ensino remoto, grande parte das redes de ensino adotaram a recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) de não reprovar as(os) estudantes, essas altas taxas de aprovação incidiram sobre a nota do Ideb. Por isso, as(os) especialistas têm recomendado cautela ao analisar os dados de 2021, focando mais nas notas do Saeb.
“O fato de termos tido uma aprovação mais ampla em 2021 permitiu que o Ideb refletisse de forma mais acurada a condição do aprendizado de estudantes, uma vez que, com uma maior padronização dos indicadores de rendimento, o Ideb tende a refletir mais os resultados de aprendizagem”.
Romualdo Portela, diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec, e Anna Helena Altenfelder, presidente do conselho de administração do Cenpec
A proficiência média dos estudantes do 2o ano do ensino fundamental em língua portuguesa caiu 24,5 pontos de 2019 para 2021. É nessa idade escolar que espera-se que as crianças estejam alfabetizadas, porém o percentual de crianças do 2o ano que não sabem ler e escrever dobrou: passou de 15% para 34%, de acordo com os dados do Saeb. Em matemática, 2 de cada 10 estudantes não sabem somar e subtrair. A queda foi de 9 pontos.
No 5o ano, a perda foi maior em matemática, com uma queda de 11 pontos de 2019 a 2021. O percentual de estudantes que não conseguem identificar figuras geométricas nessa série chegou a 38,9%, frente a 30,3% em 2019.
Em língua portuguesa, a proficiência caiu 7 pontos — o que significa cerca de meio ano letivo de aprendizado.
Tanto nos anos finais do ensino fundamental (9o ano) quanto no ensino médio, os dados do Saeb 2021 mostram que houve uma queda pequena em língua portuguesa (2 e 3 pontos, respectivamente), porém mais significativa em matemática (cerca de 7 pontos para ambas as séries).
Romualdo e Anna Helena. Foto: acervo pessoal
Para Romualdo e Anna Helena, os dados do Ideb 2021 alertam tanto para a necessidade de se combater a cultura do fracasso escolar quanto de pensar como os impactos do ensino remoto, que ocorreu de forma precária em muitas partes do país, afetou principalmente quem já se encontrava em maior situação de dificuldade e exclusão:
E quem são essas alunas e alunos com dificuldades de aprendizagem? Diversos estudos já realizados dão pistas para concluir que são os mais vulneráveis: meninas e os meninos pobres, pretos e pardos e que vivem nas periferias dos centros urbanos ou nas zonas rurais. Não por acaso, foram também esses grupos os mais impactados durante a pandemia com a interrupção das aulas, a falta de conectividade, e tantos outros fatores que comprometeram o acesso digno à educação”, escreveram na coluna do jornal Folha de S. Paulo.
Romualdo Portela, diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec, e Anna Helena Altenfelder, presidente do conselho de administração do Cenpec
Levar as desigualdades em conta
O alerta sobre as limitações na análise dos dados do Ideb 2021 foi recorrente no posicionamento de diversas entidades e especialistas, ainda que tenham visões diferentes sobre o que eles mostram.
A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), por exemplo, “comemorou” os resultados, ao entender que as perdas foram menores do que o esperado:
“Diante desse contexto, e considerando que as redes se dedicaram, primeiramente, em manter o vínculo com os estudantes e suas famílias, promover a segurança alimentar e desenvolver ações de apoio socioemocional, é importante comemorar os resultados do Saeb, os quais demonstram que a queda nos níveis de proficiência foi menor do que a esperada, salvo no desempenho das crianças que se encontravam em processo de alfabetização, cujo impacto foi mais significativo. Contudo, de modo geral, não se evidenciou um possível retrocesso de 20 anos, como muitos anunciaram, visto que a defasagem na aprendizagem demonstrada pela avaliação poderá ser superada em poucos anos”.
Em entrevista para o Jornal Nacional no dia 16 de setembro, Anna Helena Altenfelder explicou a importância de olhar os resultados com cautela, levar em consideração as desigualdades que existem pelo país e agir o quanto antes para garantir o direito de aprendizagem de todos e todas:
Nós sabemos que existem grandes desigualdades educacionais territoriais no Brasil. Estados tiveram condições diferentes tanto de proporcionar o acesso à educação a distância na pandemia, como a taxa de participação varia muito de estado para estado. Quando olhamos para os resultados de aprendizagem, eles são um alerta de que medidas concretas, urgentes são necessárias para garantir que todos os alunos e alunas aprendam o que de fato têm direito e, mais ainda, aprendam aquilo o que é necessário para que possam prosseguir a sua trajetória escolar com sucesso”.
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