Quase 36 mil assassinados em 2017, com uma taxa recorde de 69,9 homicídios para cada 100 mil jovens. A morte prematura de jovens (15 a 29 anos) por homicídio cresce desde a década de 1980 no Brasil, levando o Atlas da Violência 2019, relatório produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a afirmar que o País tem uma juventude perdida.
Juventude perdida
“É fundamental que se façam investimentos na juventude.” (Atlas da Violência 2019). Foto: Reprodução.
Publicado nesta quarta-feira (5), o relatório alerta para o fato de que os homicídios – que são hoje a principal causa de morte entre jovens brasileiros, com 59,1% dos óbitos de homens de 15 a 19 anos, por exemplo – têm impactos excepcionalmente negativos para um país que passa pela transição demográfica, rumo ao envelhecimento.
Além da tragédia humana, os homicídios de jovens geram consequências sobre o desenvolvimento econômico (…). As mortes violentas de jovens custaram ao Brasil cerca de 1,5% do PIB nacional em 2010.”
Atlas da Violência 2019
O relatório também aponta que há estados que destoam da taxa nacional, alguns com uma taxa muito inferior e outros com valores bem mais preocupantes. São Paulo, por exemplo, registra 18,5 homicídios por 100 mil habitantes jovens, enquanto o Rio Grande Norte atinge 152,3.
No recorte regional, houve um decréscimo residual da letalidade no Sudeste e no Centro-Oeste desde 2007, estabilização na Região Sul no mesmo período e forte crescimento no Norte e Nordeste, sobretudo em 2016 – provavelmente por conta das disputas entre facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
As diferenças entre as unidades da federação (UF) e regiões respondem por um aumento de 6,7% na taxa global de homicídios de jovens no País entre 2016 e 2017. Na década, o aumento é de 37,5%, de 50,8/100 mil jovens em 2007 para os 69,9 detectados na publicação. Em termos de redução por UF, o destaque vai para o Distrito Federal: -21,3% entre 2016 e 2017.
Violência por gênero e raça
Mulheres negras são mais afetadas pela violência que as não negras. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil. Compartilhada sob Licença Creative Commons Attribution 2.0 Generic.
No recorte por gênero, os homens são especialmente afetados pelas mortes violentas prematuras. Quando são observados especificamente os homens jovens, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes chega a 130,4 no ano de 2017, por exemplo.
Além disso, os homens respondem por mais de 94% das quase 36 mil vítimas de homicídio em 2017, com um crescimento de 6,4% em comparação com o ano de 2016.
No entanto, houve também um aumento da violência contra a mulher. Em 2017, quase 5 mil mulheres foram assassinadas, o maior número desde 2007. Nesses 10 anos, o crescimento é de 30,7%. Roraima, com 10,6 vítimas por 100 mil habitantes mulheres, foi o estado com a maior taxa em 2017.
A raça e etnia são bastante presentes como elementos diferenciadores nos números femininos. Enquanto, para mulheres não negras, o aumento na taxa de homicídios é de 1,6% entre 2007 e 2017, a taxa de mulheres negras cresceu 29,9%. Em números absolutos, a diferença é ainda maior: 1,7% de crescimento para não negras versus 60,5% para negras.
Parte considerável da morte de mulheres acontece em casa – até 39,3%, com aumento de 17,1% desde 2012 –, o que pode indicar feminicídio íntimo, realizado, por exemplo, por companheiros e cônjuges.
A arma de fogo também traz um dado preocupante, uma vez que, nos últimos 10 anos, as mortes em residências com arma de fogo tendo mulheres como vítimas cresceram 29,8%.
A desigualdade racial também aparece nas estatísticas totais. Em 2017, por exemplo, mais de 75% das vítimas de mortes violentas foram de indivíduos negros (soma de pretos e pardos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).
Na verdade, para cada indivíduo não negro assassinado, 2,7 negros foram mortos. Aqui, destaca-se negativamente também o Rio Grande Norte, com 87 mortos para cada 100 mil habitantes negros em 2017 e um crescimento de mais de 333% em 10 anos.
Efeitos de políticas públicas e educação
A arma de fogo também aparece como principal método de execução nas estatísticas gerais: 76,9% dos homicídios masculinos foram cometidos por armas de fogo, que também vitimaram quase 54% das mulheres.
A boa notícia é que, apesar do crescimento, o Estatuto do Desarmamento permitiu que este fosse menor do que o inicialmente projetado. Sem o Estatuto, por exemplo, a taxa de homicídios teria aumentado 12% acima da verificada entre 2004 e 2017.
Fonte: Atlas da Violência 2019. Clique para ampliar.
O Estatuto do Desarmamento (…) conseguiu frear a escala armamentista. O percentual de mortes por armas de fogo, em relação ao total de homicídios, se estabilizou no patamar de 70% até 2016 (quando ficou em 71,1%), ante um índice de 46,9% em 1980 e que cresceu consistentemente até 2003 (…).
Enquanto nos 14 anos após o ED, entre 2003 e 2017, o crescimento médio anual da taxa de homicídios por arma de fogo no país foi de 0,85%. Nos 14 anos antes do ED, a taxa média anual havia sido de 5,44%, ou mais de seis vezes maior.”
Atlas da Violência 2019
Além de dados inéditos, como a violência contra LGBTIs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou transgêneros e intersexuais), o Atlas da Violência 2019 traz também informações sobre a escolaridade das vítimas.
De acordo com o Atlas, a maior parte dos homicídios vitima indivíduos com baixa escolaridade, que cursaram até o segundo ciclo do Ensino Fundamental incompleto.
Fonte: Atlas da Violência 2019. Clique para ampliar.
A falta de oportunidades, que levava 23% dos jovens no país a não estarem estudando nem trabalhando em 2017, aliada à mortalidade precoce da juventude em consequência da violência, impõem severas consequências sobre o futuro da nação (…).
Nesse ponto, é fundamental que se façam investimentos na juventude, por meio de políticas focalizadas nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a garantir condições de desenvolvimento infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do jovem no mercado de trabalho.
Inúmeros trabalhos científicos internacionais, como os do Prêmio Nobel James Heckman mostram que é muito mais barato investir na primeira infância e juventude para evitar que a criança de hoje se torne o criminoso de amanhã, do que aportar recursos nas infrutíferas e dispendiosas ações de repressão bélica ao crime na ponta e encarceramento.”
O Portal CENPEC Educação salva o seu histórico de navegação. Ao continuar navegando, você concorda com nossa política de Termos de uso e política de privacidade
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these cookies, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may have an effect on your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.