Conheça – e se inspire em – três boas práticas de aprendizagem solidária
Olhando para a comunidade do entorno e praticando ações de solidariedade integradas ao currículo, essas experiências trazem mais significado ao processo de aprendizagem, desafiam professores(as) e tornam estudantes mais engajados(as)
O Movimento Futuro surgiu em 2015, mas foi formalmente fundado em 2018. Ele começou como uma maneira de reforçar o protagonismo e focar no sonho dos(as) adolescentes. Após entrar na Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária (RBAS), o Movimento Futuro passou a pensar mais na integração curricular, em atuar com uma fala intencional para com os alunos para que pensem de que forma os conteúdos em sala de aula se relacionam com os temas trabalhados nas aulas do Movimento.
No início, nós deixávamos muito livre, então havia projetos que eram inviáveis ou que não eram significativos (para a comunidade, o aluno ou a escola), e isso gerava uma frustração. Começamos a estudar a aprendizagem solidária e percebemos que tínhamos que ter um olhar pedagógico. Ou seja, juntar o que o estudante está aprendendo com o que ele quer fazer de relevante. Ele se sente mais ativo e a aprendizagem passa a ter uma significância muito maior
Sofia Carvalho, uma das fundadoras do Movimento Futuro.
O professor Henrique Pereira, que desenvolveu um projeto com seus alunos com o olhar para a realidade do entorno, também reconhece a importância do trabalho interdisciplinar. “Os problemas do mundo real são muito complexos, não conseguimos resolvê-los com apenas uma disciplina. Precisamos do auxílio de mais informações”, defende.
Webinário Prêmio Aprendizagem Solidária: Tira-dúvidas para as inscrições
As inscrições para o 1º Prêmio Aprendizagem Solidária – Experiências que Transformam foram prorrogadas até o dia 15 de outubro. Para você não perder essa oportunidade e participar da iniciativa, a organização do Prêmio realizou um webinário para tirar todas as dúvidas de como se inscrever.
Para saber mais informações e se inscrever no Prêmio, clique aqui.
Confira abaixo a íntegra do webinário realizado no dia 07/10, tire as suas dúvidas e inscreva-se:
Desafios para os professores
Para Ana Cecília Chaves Arruda, coordenadora do Prêmio Respostas para o Amanhã no CENPEC Educação, além de não conhecerem ferramentas como o ensino baseado em projetos ou as metodologias ativas, os educadores têm como principal desafio para a execução desses projetos de aprendizagem solidária o trabalho integrado com outras disciplinas.
“A sala de aula deixa de ser expositiva. É um processo de aprendizagem em que você está junto com os alunos, então você tem que estar aberto também a esse diálogo – com os alunos e também com os outros professores”, defende Ana Cecília.
A partir desse conceito, o CENPEC Educação traz o relato de três experiências realizadas em diferentes instituições de ensino localizadas no estado de São Paulo que ilustram boas práticas em aprendizagem solidária.
1. Ensinando Língua Portuguesa para imigrantes e refugiados
Raio-x do projeto
Os(as) participantes: alunos(as) do último ano do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Singularidades, em São Paulo (SP).
A realidade: Para conseguir se naturalizar no Brasil, imigrantes e refugiados precisam apresentar, entre outras documentações, um certificado de proficiência em Língua Portuguesa ou conclusão em curso de ensino superior ou pós-graduação. Por isso, eles buscam cursos de Língua Portuguesa para estrangeiros.
O olhar para o entorno: A professora Olívia Nakaema, coordenadora do projeto, percebeu que havia uma escassa oferta de cursos de Língua Portuguesa para estrangeiros com certificação na cidade de São Paulo, e uma grande demanda por eles.
A proposta de intervenção: Por meio de um projeto de extensão universitária, ofertar um curso de Língua Portuguesa para estrangeiros gratuito no Instituto Singularidades e abrir uma oportunidade de estágio obrigatório para os estudantes do último ano da Licenciatura em Letras.
A intencionalidade formativa: Como participam do mapeamento e planejamento das atividades do curso, os alunos se encontram em um contexto muito real de prática de experimentação dos conteúdos aprendidos nas disciplinas de Metodologia de Português para estrangeiros e Didática de Português para estrangeiros.
O protagonismo dos(as) estudantes: A professora Olívia dá algumas aulas introdutórias, mas são os alunos que assumem as turmas. Eles também participam do planejamento, levantam demandas dos cursistas, ministram aulas e fazem a reflexão pós-curso. Eles também têm liberdade para criar minicursos temáticos, como voltado só para mulheres.
Com a pandemia, as aulas ofertadas pelo projeto, que se iniciou em 2019, passaram a ser on-line, o que ampliou o seu alcance e possibilitou que imigrantes e refugiados de outros estados pudessem participar.
O curso segue se baseando no conceito do Português como língua de acolhimento, que significa dar ferramentas para que estudantes possam se adaptar aos poucos à sociedade brasileira.
Nós temos a proposta de facilitar de alguma forma essa vivência e as necessidades que eles terão aqui. O que muda em relação a um curso de língua estrangeira de forma geral? Os temas norteadores das aulas são questões como: ser atendido na rede pública de saúde, como fazer o seu CPF, como elaborar um currículo, como se naturalizar etc
Professora Olívia Nakaema, responsável pelo curso de extensão.
Para Marcelo Ganzela Martins de Castro, coordenador do curso de Licenciatura em Letras no Instituto Singularidades, um dos principais benefícios que esse projeto traz para os(as) alunos(as) é a ampliação do universo cultural.
Os alunos passam por reflexões muito ricas sobre multiculturalismo, choque de culturas. A maior parte dos refugiados e imigrantes que nos procuram são sírios, de maioria muçulmana, então há essa necessidade de entender as diferenças entre os países e as pessoas, e promover uma integração que, ao mesmo tempo que apresenta a cultura brasileira, respeita a do outro
Marcelo Ganzela Martins de Castro, coordenador do curso de Licenciatura em Letras no Instituto Singularidades
Assista ao minidocumentário para saber mais sobre o projeto:
Minidocumentário Travessia pela Educação – Português para Estrangeiros
2. PETCOM.: ajudando animais abandonados em meio à pandemia
Não foi difícil para os(as) alunos(as) do 8º ano do Ensino Fundamental do Colégio Anhembi Morumbi decidirem o tema com o qual iriam trabalhar ao longo deste ano nas aulas Movimento Futuro, que acontecem uma vez por semana. A turma já tinha uma inclinação à causa animal, mas com as notícias de aumento no número de cachorros, gatos e outros pets sendo abandonados durante a pandemia, eles perceberam que havia uma necessidade de ajudar esses bichinhos.
Ainda que este ano o projeto esteja sendo realizado de forma totalmente on-line, o Movimento Futuro não é novo nesta escola privada, localizada no Brooklin, zona sul da capital paulista. Ele já acontece há sete anos na instituição, e se baseia no jogo Caminho do Futuro.
O jogo costuma ser desenvolvido ao longo de um ano com turmas do Ensino Fundamental II e/ou Ensino Médio de escolas públicas ou privadas, e se desenrola em seis passos: Inter-agir, Com-fiar, Sonhar, Planejar, Realizar e Contagiar.
No passo Sonhar, temos a grande pergunta do projeto: se você tivesse um mês para transformar o mundo, o que você faria? Para que eles possam dar essa resposta, nós planejamos uma volta pelo bairro, para discutir e observar tanto as belezas do entorno como aquilo que incomoda e que pode ser transformado – tudo com um olhar pedagógico intencional
Isabella Alchorne, uma das fundadoras do Movimento Futuro.
Desde então, os(as) estudantes têm conversado com especialistas, como veterinários e ONGs que atuam com a causa, para entender mais sobre quais as reais necessidades desse público, e como podem melhor ajudar. O projeto está em andamento, e deve ser finalizado até o final do ano.
Raio-x do projeto
Os(as) participantes: alunos(as) do 8º ano do EF do Colégio Anhembi Morumbi, em São Paulo (SP).
A realidade: Com a pandemia, aumentou o número de animais abandonados nas ruas (principalmente cachorros e gatos).
O olhar para o entorno: Como as aulas estão sendo realizadas de forma on-line, os alunos não puderam fazer o passeio pela comunidade, que geralmente é realizado na aula Movimento Futuro. Assim, eles fizeram esse mapeamento por meio de um aplicativo de turismo, que possibilitava a visão 360º durante a excursão virtual.
A proposta de intervenção: O Projeto PETCOM. foca na castração, vacinação e adoção de animais abandonados. Entre as ações planejadas, estão a promoção de live para arrecadação de ração, feira de adoção e disseminação de conteúdos de conscientização sobre a causa.
A intencionalidade formativa: Colaboração, empatia, autonomia, capacidade de realização são algumas das habilidades socioemocionais estimuladas durante as diferentes etapas do jogo Caminho do Futuro. No caso do Projeto PETCOM., também estão sendo articuladas habilidades aprendidas durante a aula de Educação Digital (para construir o site e a conta de Instagram do projeto), e conteúdos de Língua Portuguesa (escrita de artigos, autobiografia e argumentação).
O protagonismo dos(as) estudantes: Todas as etapas do jogo Caminho do Futuro estimulam que os(as) alunos(as) pensem como e que atividades vão realizar. No caso do Planejar, por exemplo, são eles(as) que devem pensar quais os próximos passos, como irão executar o projeto, quem será responsável por cada etapa etc.
Aprendizagens
O projeto traz uma outra realidade do mundo, porque faz os alunos olharem para fora do bairro. Assim, eles acabam criando uma empatia com o outro, além da colaboração e da sensibilização do aluno. O Movimento Futuro tira o aluno da zona de conforto e mostra que podemos de alguma forma ajudar a melhorar outras realidades
Thalita Cristina Novelli, diretora do Colégio Anhembi Morumbi.
Ainda que os(as) professores(as) tenham uma certa dificuldade de entender e aceitar a proposta, de início, eles(as) acabam percebendo a importância do projeto pelas mudanças de comportamento que testemunham na sala de aula.
Para que o projeto funcione, Thalita Novelli acredita que é preciso que toda a comunidade escolar esteja envolvida e alinhada à essa proposta de aprendizagem solidária.
“Os estudantes demonstram empatia não só com os outros, mas com os professores também. Há uma transformação social muito forte, e uma melhora significativa nas turmas onde acontece o Movimento Futuro”, diz a diretora do Colégio Anhembi Morumbi, em São Paulo.
3. Protegendo trabalhadores com capacetes construídos com resíduos industriais
Os(as) estudantes da Escola Estadual Ângelo Scarabucci, em Franca, interior de São Paulo, já estão acostumados(as) a ter uma base diversificada, já que a escola tem a modalidade de Ensino Integral. O que não faziam, porém, era olhar para a comunidade e pensar nos problemas que estavam ali postos.
Foi a partir do ano passado que os(as) professores(as) se engajaram em fazer os alunos pensarem em intervenções e soluções para problemas reais – e um desses projetos que deram bons resultados foi orientado pelo professor de Biologia Henrique Pereira.
Capacete desenvolvido no projeto.
Raio-x do projeto
Os(as) participantes: Alunos(as) do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Ângelo Scarabucci, em Franca (SP).
A realidade: Trabalhadores da fábrica de calçados localizada no entorno da escola utilizavam a bicicleta como meio de transporte, sem nenhum tipo de equipamento de segurança.
O olhar para o entorno: Na aula de Práticas Experimentais, que busca fazer experimentos para mostrar na prática como funcionam elementos aprendidos em sala de aula, os alunos foram convidados a refletir sobre a sua realidade, identificando e pensando soluções para problemas encontrados. Um grupo, que costumava ir embora a pé para casa e passava pela fábrica no caminho, presenciou um acidente com um desses funcionários que usavam a bicicleta.
A proposta de intervenção: Na busca por uma forma de melhor proteger os trabalhadores, eles pensaram em fabricar um capacete para ciclistas, utilizando resíduos produzidos pela própria fábrica.
A intencionalidade formativa: Como a aula de Práticas Experimentais já é interdisciplinar, não foi difícil pensar em quais disciplinas seriam trabalhadas durante esse projeto. Foram utilizados conhecimentos de Química, para entender o processo de construção dos calçados e os resíduos que eram produzidos; de Matemática, para tabular e gerar gráficos; e de Biologia, para entender conceitos de conservação ambiental e sustentabilidade.
O protagonismo dos(as) estudantes: O professor Henrique Pereira foi apenas orientando o grupo e ajudando quando preciso, como para marcar visita à fábrica de calçados, conversar com os funcionários, realizar questionários etc. O grupo chegou a fazer um protótipo do capacete e a apresentá-lo aos trabalhadores, mas não houve continuidade uma vez que o ano letivo se acabou.
O projeto conquistou o 3º lugar na 6º edição do Prêmio Respostas para o Amanhã, ocorrida em 2019. Cada um dos alunos da equipe recebeu um tablet Samsung.
Assista ao vídeo sobre o projeto:
Vídeo sobre o projeto
O principal obstáculo é essa predisposição do professor de abraçar essa ideia. Porque não é fácil de se fazer, os alunos não estão acostumados a serem protagonistas desse jeito. Mas se nos propormos a fazer algo diferente, conseguimos conquistar grandes resultados, e o trabalho pode ser desenvolvido de forma extracurricular
Professor de Biologia Henrique Pereira, que desenvolveu o projeto com seus alunos.
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