Em mostra temporária em São Paulo, artistas refletem sobre imigração no Brasil e sobre a potência da arte e da educação para trabalhar a pluralidade e a diversidade nas escolas
Por Stephanie Kim Abe
Durante os séculos XIX e XX, a Hospedaria de Imigrantes, localizada no bairro Brás, em São Paulo (SP), foi a porta de entrada para milhares de imigrantes que chegaram ao Brasil para trabalhar principalmente nas lavouras de café e nas indústrias. Também passaram por ela migrantes de outros estados brasileiros, que vinham à São Paulo em busca de uma vida melhor.
Hospedaria de imigrantes de São Paulo por volta de 1905. Foto: Wikipédia
Hoje, esse prédio histórico abriga o Museu da Imigração do Estado de São Paulo, que busca preservar a história dessas pessoas que chegaram ao Brasil por ela. Quem visita o local desde a semana passada até 30 de outubro, além da exposição permanente, poderá conferir também a mostra temporária Eu vim de lá.
Realizada de forma conjunta por três artistas — a venezuelana Anaís Escalona, o congolês Shambuyi Wetu e o brasileiro Zé Vicente —, a instalação envolveu uma pesquisa no acervo fotográfico do museu e da Folha de S. Paulo.
Zé Vicente conta que a instalação foi pensada como uma grande colcha de retalhos e que houve bastante dificuldade em encontrar imagens que retratassem alguns grupos, como as(os) migrantes nordestinas(os) e mesmo as(os) indígenas:
Foto: Gabriel Cabral/Folhapress
Tem uma diversidade de rostos, de pessoas, de objetos, de lugares que estão representados ali que destoa da exposição permanente de fato. E a gente fez questão de imprimir algumas fotos para dar o devido destaque a essas pessoas, que percebemos que no próprio acervo não têm certa representatividade.”
Para a fotógrafa venezuelana Anaís Escalona, a produção artística de migrantes e imigrantes tem ganhado cada vez mais destaque ultimamente.
Foto: Gabriel Cabral/Folhapress
A arte deve estar em todos os espaços. Ela traz essa possibilidade de apresentar um assunto do cotidiano de diferentes maneiras e formatos (fotografia, literatura, música, instalação etc.). Fazer uma exposição no Museu da Imigração que traz as riquezas de outros períodos, que não aquele da política de branqueamento, é fundamental – principalmente se pensarmos que as escolas trazem suas(seus) estudantes para essas visitas.”
Anaís Escalona
A escola tem um papel importante na vida da artista, que chegou ao Brasil em 2006 junto com a sua família. “Eu não tinha vontade de sair do meu país. O meu vínculo com o Brasil aconteceu principalmente a partir das relações sociais construídas na escola”, conta.
Apesar da barreira da linguagem, que dificultou a sua formação, Anaís se formou em Fotografia e Audiovisual e hoje trabalha como professora auxiliar na mesma escola em que estudou quando chegou ao país.
Não foi fácil chegar até onde está, já que há muitas barreiras para que a pessoa imigrante consiga trabalhar na área em que se formou. É o caso do artista congolês Shambuyi Wetu, que também sofreu para se comunicar:
Foto: Gabriel Cabral/Folhapress
Quando cheguei, em 2014, fui trabalhar na construção civil. Foi ali que consegui aprender algumas coisas em português. Somente em 2017 comecei a trabalhar apenas com a minha arte, tendo a oportunidade de realizar a minha primeira exposição na cidade de São Paulo.”
Shambuyi Wetu
Para Anaís, é importantíssimo que as escolas acolham as(os) imigrantes, garantindo que a língua não seja uma barreira, que haja apoio para questões emocionais, que as(os) demais colegas respeitem e recebam essas crianças, que haja representatividade e pluralidade para inspirar as atitudes de todos e todas.
Ter uma referência na escola é fundamental – e é assim que eu me sinto para alunos venezuelanos que entram na minha escola. Criamos um vínculo muito forte. O currículo escolar também precisa fugir da ideia eurocêntrica e branca, e trazer outros olhares para a formação da sociedade brasileira. E, como eu sempre falo, é preciso dialogar com as crianças sobre imigração, cidadania, direitos humanos, respeito e pluralidade.”
Anaís Escalona
🧳 Para conhecer mais histórias de quem vem de fora
Além do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, há outros museus espalhados pelo país que guardam, celebram e expõem as histórias e a cultura das pessoas que imigraram para o Brasil – ou mesmo migraram entre diferentes regiões do território nacional.
Listamos alguns deles abaixo. Confira!
Foto: Museu da Pessoa
Museu da Pessoa
Neste museu virtual e colaborativo, toda história importa. No acervo disponível on-line, é possível encontrar mais de 20 mil histórias de vida, montar a sua própria coleção e ainda contar a sua própria história, claro.
Periodicamente, são organizadas exposições virtuais que agregam as histórias por diferentes temas. O Museu nasceu em 1991, a partir da exposição Memória & Migração que ocorreu no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo.
Museu da Imigração da Ilha das Flores (Rio de Janeiro-RJ)
Foto: Museu da Imigração da Ilha das Flores
Logo na entrada da exposição permanente, as(os) visitantes que chegam para conhecer esse museu localizado onde antes funcionava a Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores recebe um passaporte, tal qual ocorria com as(os) migrantes e imigrantes que chegavam por ali entre o final do século XIX e XX.
Criada ainda no período imperial, essa foi a primeira hospedaria de imigrantes criada pelo governo brasileiro. No tour pelo Circuito a Céu aberto, as(os) visitantes são acompanhadas(os) por monitoras(es) militares ou estudantes do curso de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
As visitações devem ser realizadas com, no mínimo, 48 horas de antecedência, por meio de formulário no site.
Em um prédio considerado patrimônio histórico do município desde 2005, estão expostos em salas temáticas (Sala de Gaitas, Arte Sacra, Objetos Pessoais e Ofícios, Quarto de Dormir, Cozinha, Trabalho e Vinho) alguns dos itens doados pela comunidade – o acervo tem cerca de 20 mil deles. A ideia é preservar e contar a história de imigrantes da região.
No site do museu, é possível fazer um tour 360º on-line e baixar gratuitamente recursos pedagógicos, como um jogo de cartas chamado Trunfo do Patrimônio e uma Caixa de Memórias com objetos do acervo não catalogado do museu.
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