Apoio Pedagógico Complementar: desafios da implementação

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Apoio Pedagógico Complementar: desafios da implementação

Com base na experiência distinta de Sapé e Mogeiro (PB), conheça como as gestões municipais têm se organizado para montar o plano de ação e realizar o diagnóstico previstos no programa

Por Stephanie Kim Abe

Desde o começo do ano, o Programa Apoio Pedagógico Complementar (APC) tem dado especial atenção ao plano de ação e às suas primeiras etapas de implementação, que envolvem o levantamento de dados e o diagnóstico da aprendizagem dos(as) estudantes. Afinal, o plano de ação é o documento norteador do APC, que se insere no âmbito do Programa Melhoria da Educação, do Itaú Social. O objetivo é apoiar as secretarias de Educação dos municípios do Consórcio Intermunicipal de Gestão Pública Integrada nos Municípios do Baixo Paraíba (Cogiva) a enfrentar os desafios de aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental.

A coordenadora do Programa pelo CENPEC Educação, Érica Maria Toledo Catalani, explica:

Érica Catalani
Foto: arquivo pessoal

Muitas secretarias desenvolvem ações de apoio pedagógico, mas elas não estão de certa forma sob a chancela de um programa. Portanto, não têm monitoramento, cuidado com prazos, delimitação de responsabilidades, organização coletiva da equipe em torno da temática. O plano de ação vem garantir que haja intencionalidade e que as ações estejam a serviço da resolução de um problema – no caso, a aprendizagem das crianças -, congregando forças tanto da escola como da equipe técnica e monitorando os seus resultados.”

Érica Catalani

O APC conta atualmente com 13 municípios, sendo que entre eles há cidades que já participavam do no ano passado e outras que se inscreveram pela primeira vez em 2021. Para garantir que todos os municípios tenham o apoio necessário para a implementação efetiva do APC, a equipe tem procurado acompanhar os encontros de planejamento e apresentação do Programa dos municípios com as suas equipes e gestores(as) – como uma visita técnica remota. 

Érica comenta a importância de fazer esse acompanhamento mais individualizado:

Em uma semana, realizamos a reunião com os técnicos; em outra, com os gestores. Além disso, a equipe busca reunir-se com cada município para que possa acompanhar essa formação com a equipe local. Assim, garantimos que haja um movimento de um ciclo, algo que prezamos muito na formação sistêmica do Programa.” 

Érica Catalani

Neste mês de maio, a equipe acompanhou dois municípios, que estão em fases distintas de implementação do Programa: Sapé e Mogeiro. Conheça abaixo a situação e experiência de cada um deles com o APC e os possíveis caminhos e desafios a serem enfrentados.

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Sapé: desafios para o plano de ação 

No município de Sapé, 2021 começou com uma nova gestão municipal, o que acarretou também em uma nova equipe técnica. Além disso, como acontece na maioria dos municípios que fazem parte do Cogiva, os(as) gestores(as) escolares são cargos de confiança, ou seja, são indicados pela equipe técnica da Secretaria. Com uma nova equipe, também estrearam novos(as) gestores(as) na rede.

Nesse cenário, os desafios de Sapé se mostram ainda maiores, o que tem deixado a equipe técnica um pouco apreensiva, como explica Maria Genilva de Souza, secretária executiva pedagógica do município.

Maria Genilva de Souza
Foto: arquivo pessoal

Além de sermos uma gestão nova, assumimos em uma situação delicada, de pandemia. Os gestores, por serem novos, não têm experiência de como construir um plano de ação. O APC é um programa muito organizado de formação continuada e processo contínuo, que tem prazos a serem cumpridos e muitas atividades – que nesse contexto devem ser realizadas remotamente. Por todas essas questões, à princípio nós ficamos apavorados e pensando que não iríamos acompanhar o ritmo.”

Maria Genilva de Souza
Foto: arquivo CENPEC

Essas dificuldades têm sido percebida pela equipe do Programa Apoio Pedagógico Complementar, que buscou ajudar de forma mais expressiva o município, conta Maria Alice Junqueira, coordenadora de projetos no CENPEC Educação que também participou dos encontros:

Nosso apoio foi mais intenso em Sapé, porque eles contaram conosco tanto para a apresentação do Programa para a rede (desenho, plataforma Melhoria, funcionamento, prazos) quanto para a compreensão do primeiro passo, que é a elaboração do plano de ação.”

Maria Alice Junqueira

Nesse sentido, as dúvidas não foram poucas. A equipe do Programa explicou para que serve o plano de ação, como ele deve ser organizado e preenchido, como os(as) gestores(as) escolares e a secretaria podem se articular para elaborar o documento etc. Foram oferecidos subsídios para apoiar os(as) gestores(as) nessa tarefa, que têm sido essenciais para que que eles(as) possam escrever os seus planos de ação. 

Desses primeiros encontros, decidiu-se por um circuito de reuniões semanais, que devem ser reavaliadas ao longo do tempo, para organizar a implementação. “Sapé percebeu logo de cara essa necessidade de ter reuniões frequentes com os gestores em torno do programa”, explica Érica.

Reunião com gestoras. Foto: arquivo pessoal

Com esse apoio, Maria Genilva já vê muitos esforços da equipe, como a iniciativa de gestoras que se encontraram para construir juntas os seus planos de ação. Ela acredita que o trabalho intenso de reuniões, conversas por aplicativos de mensagem e solução das dúvidas dos(as) gestores(as) tem sido fundamental para incentivar a construção do plano de ação pelas escolas e a implementação do Programa:

Quando vamos construir uma casa, precisamos ter a ajuda de um arquiteto e um plano para nortear o nosso trabalho e garantir que o que estamos construindo vai dar certo. O plano de ação é fundamental então para que a gente possa nortear os projetos e as ações que vamos realizar no restante do ano. Temos sido muito bem assistidos pela equipe do APC e estamos aprendendo muito nesse processo. O mais importante é que esse resultado se reflita na aprendizagem dos alunos, que eles sejam os verdadeiros vitoriosos dessa construção.” 

Maria Genilva de Souza

Mogeiro: possibilidades para a aplicação da avaliação diagnóstica

Em seu segundo ano de APC, Mogeiro apresenta uma evolução mais avançada com relação à implementação do Programa. O plano de ação fora esboçado já no final do ano passado, mas, como contemplava a possibilidade de um ensino presencial em 2021, foi preciso ajustá-lo no começo deste ano para atender à atual situação pandêmica e que tem mantido as escolas fechadas.

O município também já avançou no levantamento dos dados referentes à distorção idade-ano e ao perfil dos alunos que estão nessa situação (quem são, onde se encontram, quantos são etc), assim como na formação das turmas que devem realizar o apoio pedagógico complementar no contraturno. 

A questão, agora, é entender quais são essas lacunas na aprendizagem:

Depois de mapeados quem são esses alunos, o passo seguinte é aplicar uma avaliação diagnóstica, para ter um mapeamento claro de quais são esses conhecimentos que eles já possuem e onde estão as lacunas, as falhas. É justamente nesses pontos onde os estudantes apresentam maior dificuldade que precisamos investir para que todos consigam avançar e ter garantido o seu direito de aprendizagem.”

Maria Alice Junqueira

Saiba mais sobre a importância do diagnóstico

“Qual a melhor forma de aplicar esse diagnóstico?”. É em torno dessa pergunta que centraram-se os últimos encontros do município. Tanto a equipe técnica quanto os(as) professores(as) da rede se mostraram reticentes à aplicação da avaliação de forma remota, como uma atividade impressa a ser feita em casa. 

Foto: arquivo pessoal

Como explica Taíses Araújo da Silva Alves, coordenadora do Departamento de Ensino de Mogeiro:

Já fizemos essa experiência com outras avaliações, e nos deparamos com situações em que a atividade não volta ou o aluno não chega a realizá-la. Ou que percebemos claramente que não é o aluno quem respondeu as questões, mas os pais ou outra pessoa.”

Taíses Araújo da Silva Alves

Érica Catalani acredita que esse episódio mostra como há uma visão distorcida das diferentes funções de uma avaliação – um problema que não é novo, mas que veio à tona com a pandemia e a necessidade de se avaliar os conhecimentos que os alunos estão adquirindo (ou não) no ensino remoto:

Se queremos de fato saber as dificuldades do aluno e aluna, não tem sentido uma outra pessoa responder a prova e devolver algo que de certa forma não corresponde à realidade da aprendizagem. Essa situação deixa muito nítido que não há uma compreensão da função desse levantamento. Como a escola sempre lidou com a avaliação no seu sentido mais classificatório, fica mais difícil demonstrar agora – tanto para professores como familiares e alunos – a sua função diagnóstica.”

Érica Catalani

Vários caminhos foram apresentados pela própria equipe de Mogeiro para solucionar este problema, como a aplicação do instrumento via Google Forms no laboratório das escolas ou a realização da avaliação presencial impressa nas escolas, de maneira escalonada, em formato de rodízio, etc. Além disso, também veio à tona as questões referentes às diferentes condições de cada uma das 20 escolas da rede – algumas têm dispositivos eletrônicos, outras não, por exemplo.

Para Érica Catalani, foi muito interessante presenciar a conversa da equipe local e perceber que há uma preocupação de todos com a necessidade de mapear os conhecimentos dos(as) alunos(as) para de fato oferecer um material impresso que esteja alinhado com o que eles(as) aprenderam. De acordo com Taíses, ficou encaminhado que o diagnóstico será aplicado no mês de julho de forma presencial e escalonada, seguindo todos os protocolos de saúde. 

Taíses destaca como o APC tem contribuído muito para o crescimento da equipe, mesmo em seu segundo ano de Programa:

A nossa equipe e o nosso município fazem muitas ações, mas não as sistematizávamos muito bem. O APC tem nos fornecido instrumentos e orientações para fazer essa sistematização no nosso planejamento e na implementação do programa. Além disso, acredito que as formações, que se apresentam na perspectiva da homologia de processos, nos preparam para realizar a multiplicação delas com os outros públicos. Ao longo do processo, foram feitas adaptações na proposta inicial para atender as nossas demandas com a pandemia.”

Taíses Araújo da Silva Alves

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