O contato com a palavra se inicia desde muito cedo. Ainda que não compreenda o sentido do que se fala, os bebês notam, na entonação do adulto, quando é hora de conversar, de brincar e de ouvir histórias. Cantar cantigas, brincar com parlendas, trava- -línguas, adivinhas, ler e contar histórias para um pequeno grupo de bebês e crianças pequenas estimula sua imaginação, sua inteligência e seu desenvolvimento social e afetivo.
“Quando organizamos uma roda, nos sentamos com as crianças ou as fazemos ninar ao som do ‘era uma vez’, estamos ajudando-as a constituir a memória, o sentido de ouvir histórias pelas palavras de um adulto afetivo. É um bom jeito de reconhecer, desde cedo, a diversidade de sentidos que estão guardados nos livros que os adultos lhes apresentam”, defende Silvana de Oliveira Augusto, especialista em Educação Infantil.
A roda de histórias é uma atividade simples e agradável que pode ser incorporada à rotina das famílias e das escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental. É importante intercalar momentos de contar histórias e situações de leitura. Enquanto a narração de histórias reporta a criança à expressão oral do adulto, ao canto, à expressão corporal, as histórias lidas familiarizam os pequenos a textos mais estáveis, com vocabulário e estrutura linguística mais complexa. Com as crianças ao seu redor, livros ilustrados à disposição para serem observados e manuseados, os adultos que leem histórias atuam como intérpretes de um novo mundo que se desvenda por meio dos livros.
Alguns cuidados devem ser observados na leitura para bebês: selecionar bem o texto, observando sua capacidade de estimular a imaginação e respeitar a inteligência dos pequenos; levar em conta os valores éticos e estéticos transmitidos; perceber as representações sociais na trama (como as personagens femininas são representadas? E os negros? As crianças se identificarão com as personagens?). Além disso, é necessário preparar-se para a leitura, conhecendo antes o texto em detalhes. Durante a roda, é importante apresentar o livro às crianças, lendo seu título (você pode estimular expectativas de leitura, perguntando: do que será que este livro tratará?), falando um pouco sobre o autor e a obra, e compartilhando os motivos de sua escolha. Esses cuidados permitem que as crianças conheçam comportamentos leitores. Também é importante não interromper a leitura sempre que uma palavra nova apareça, para não quebrar o ritmo da narrativa e permitir à criança fazer inferências e construir sua própria interpretação do texto. Ao final, é sempre interessante compartilhar impressões sobre a leitura: do que mais gostaram, rever alguns detalhes e, eventualmente, reler os trechos preferidos pela turma. Essas práticas ajudam a criança a ampliar seus conhecimentos sobre a linguagem escrita. Leia mais no artigo de Silvana de Oliveira Augusto.
Leitura para neoleitores
O neoleitor é a pessoa com mais de 18 anos que está em processo de alfabetização ou início de experiência leitora. Em contrapartida, traz uma larga experiência de vida e tem contato com todo tipo de material escrito. Faz parte da sua cultura a tradição oral, seja da cultura popular de causos, trovas, histórias de cordel, seja das músicas tocadas nas rádios ou por violeiros, narrativas veiculadas na televisão, histórias da Bíblia que ouvem em igrejas, lendas, canções de ninar, adivinhações, provérbios, fábulas, entre outras.
A literatura para neoleitores é uma forma de dar acesso a esse público à literatura dos bancos escolares. Ela também pode ser usada para aproximar jovens estudantes, do Ensino Fundamental e Médio, dos textos clássicos. A leitura de versões facilitadas de obras clássicas é um tema que desperta bastante polêmica no ensino de literatura. Leia mais sobre o perfil dos neoleitores no Brasil.
Leitura entre adolescentes e jovens
Os jovens de hoje não leem, preocupam-se muitos pais e professores. As novas tecnologias são consideradas uma concorrência brutal para os livros e para a literatura. No entanto, o mercado editorial tem percebido que essa rivalidade talvez seja mais mito que realidade, já que a produção, as vendas de livros e os eventos literários voltados para o público juvenil têm aumentado consideravelmente. Especialistas apontam aspectos que favorecem a leitura entre jovens: escolha de temas como autoconhecimento, sexualidade, drogas, questões muitas vezes consideradas polêmicas na escola e na família, mas pelas quais o jovem tem interesse e sente necessidade de refletir e discutir a respeito; comportamento leitor dos pais e professores; momentos e espaços de leitura que se integrem à rotina do jovem, sem se tornar mais uma tarefa; conversas sobre livros que estão lendo, tanto em casa quanto na escola. Alguns formatos podem aproximar os jovens, como as histórias em quadrinhos. Hoje as HQs e suas variantes (charges, mangás, tirinhas...) são aceitas e estimuladas pelas legislações educacionais e fazem parte do acervo das bibliotecas. Há também boas adaptações de livros para quadrinhos, como o romance Dois irmãos, de Milton Hatoum (Veja mais sobre a obra original no mapa com livros selecionados pela Plataforma.)
Saiba mais dicas de como estimular a leitura para jovens e adolescentes no vídeo a seguir.