Entrevista com Rogério Pereira e Júlio Ludemir. Publicada originalmente na Plataforma do Letramento em 2014
Segundo dados do Censo 2010, último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em abril deste ano, um quarto da população brasileira é hoje formado por jovens, o que equivale a 51,3 milhões de pessoas de 15 a 29 anos. Já o estudo “Juventude que conta”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em 2013, revela que 85,2% dos jovens brasileiros colocam a educação como prioridade. Apesar disso, o último Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), de 2018, aponta que, apesar de o país ter avançado nos níveis iniciais de alfabetismo, ainda há muito o que caminhar em direção ao pleno domínio de habilidades de leitura, compreensão e interpretação textual. Entre universitários, por exemplo, 4% são alfabetizados em nível rudimentar e 25%, em nível elementar.
Por sua vez, a quarta edição do estudo Retratos da leitura no Brasil, de 2016, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), revela dados interessantes. De um lado, 52% dos entrevistados declaram ler jornais, revistas, livros e quadrinhos todos os dias. Entre os que se declaram leitores, 43% indicam a falta de tempo como um dos motivos por não ler mais, 9% por não ter bibliotecas próximas e 7% por achar os livros caros. Por outro lado, entre os não leitores, 32% indicam a falta de tempo e 28% a falta de gosto pela leitura. À pergunta “O que a leitura significa?”, 49% responderam que ela traz conhecimento, 23%, que promove atualização e crescimento profissional, e 22%, que o hábito ensina a viver melhor. Também é interessante observar que, entre os gêneros mais lidos, estão livros religiosos, contos, romances, didáticos, infantis e quadrinhos.
Esse cenário indica que o Brasil está se construindo como um país de leitores, de acordo com o jornalista, editor e escritor catarinense Rogério Pereira, fundador do jornal literário Rascunho e, desde 2011, diretor da Biblioteca Pública do Paraná, onde coordena o Plano Estadual do Livro, Leitura e Literatura, o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais e o Núcleo de Edições da Secretaria da Cultura. Na última edição de Conversas ao Pé da Página, ocorrida em 13 e 14 de maio de 2014, na cidade de São Paulo, Pereira integrou a mesa de discussões sobre a questão “O que os jovens estão lendo?”, ao lado de Júlio Ludemir, jornalista, produtor cultural e escritor, e Bruno Torturra, jornalista e fotógrafo, fundador da Mídia Ninja (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação).
Rogério Pereira. Foto: IPL
Pereira aponta a necessidade de estruturar o leitor brasileiro, já que o cenário da leitura no país é complexo. Segundo o jornalista, passamos de uma sociedade baseada fortemente na cultura oral para o mundo digital, pulando a época do letramento propriamente dito.
Nesse cenário, é fundamental analisar com que base de leitura os jovens chegam às redes sociais. Para o especialista, é papel da escola dar oportunidades para que esse público se forme como leitor, pois isso o preparará melhor para que faça uma leitura crítica no mundo digital. São questões que os educadores devem ter em mente: Como formar esses jovens? Que oportunidades efetivas eles têm para ler? Que tipo de livro entregar a eles?
Em relação ao que os jovens estão lendo, Pereira aponta que grande parte lê os livros obrigatórios na escola − e isso não garante que serão leitores para a vida toda − e as obras que têm valor social no grupo de que fazem parte (em geral as campeãs de vendas). Segundo o escritor, além dessas leituras, os jovens estão lendo a si mesmos, o que reforça a importância de os educadores, como mediadores, observarem as possibilidades de identificação entre o leitor em formação e os livros a que são apresentados.
Ouça a entrevista de Rogério Pereira gravada após o evento.
Entrevista com Rogério Pereira (2014)
Outro integrante da mesa “O que os jovens estão lendo?” foi o escritor, jornalista e produtor cultural carioca Júlio Ludemir, criador da Festa Literária das Periferias (Flupp). A primeira Flupp aconteceu no Morro dos Prazeres, na cidade do Rio de Janeiro, em 2012. Este ano, a iniciativa difundiu-se por mais três capitais: Curitiba, Salvador e São Paulo.
Júlio Ludemir. Foto: reprodução
No debate, Ludemir apontou como a grande novidade em nosso cenário de leitura a eclosão das festas literárias por todo o território nacional. Para o escritor, é uma grande transformação na sociedade brasileira − historicamente marcada por profundas desigualdades de acesso a bens materiais e culturais −, em que as classes menos favorecidas são identificadas com a oralidade, e as elites, com a escrita. Esse cenário está mudando, afirma Ludemir: “o novo leitor está na periferia”.
Ouça a conversa com Júlio Ludemir:
Entrevista com Júlio Ludemir (2014)
Mais sobre leitura e juventude:
Assista ao vídeo que apresenta o impacto cultural da Flupp nas periferias e a participação de organizações e autores internacionais no evento ocorrido em 2013.
Para saber mais sobre o estudo “Juventude que conta”, leia o artigo do economista Marcelo Neri (2013), então presidente do Ipea (2012 a 2014) e ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE, 2013 a 2015).
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