Biblioteca Mais Diferenças: livros acessíveis e diferentes formas de ler

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Biblioteca Mais Diferenças: livros acessíveis e diferentes formas de ler

Livro acessível vai além de estar em braile ou ter audio-descrição. Saiba mais sobre as diferentes formas de ler e conheça a biblioteca on-line e gratuita com acervo de mais de 40 livros acessíveis

Por Stephanie Kim Abe

O pequeno príncipe, escrito pelo francês Antoine de Saint-Exupéry, é uma das obras mais clássicas da literatura mundial. Mesmo quem nunca leu o livro já ouviu algumas de suas passagens marcantes – como “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” ou “o essencial é invisível aos olhos”. 

Ou reconhece as ilustrações icônicas, que foram feitas pelo próprio autor, e que compõem uma parte importante da obra e de sua interpretação. É o caso do desenho da cobra que come um elefante: 

Mas, para que todas e todos de fato possam usufruir dessa obra, é preciso que ela esteja disponível em formato acessível. Ou que a pessoa que está contando essa história saiba media-la de tal forma que a obra seja entendida por todo e qualquer público.

Isso significa, por exemplo, que haja uma descrição da imagem que vemos acima:

“Uma cobra marrom está na horizontal, apoiada ao chão. Seu corpo, que é fino na cauda, se avoluma e cria no meio um alto relevo, como um monte, com duas ondulações, que diminui novamente em direção à cabeça. Essa saliência aparenta ser o volume de um outro corpo dentro do corpo da cobra”. 

A descrição acima foi tirada dos recursos disponíveis sobre O Pequeno Príncipe na Biblioteca Mais Diferenças, que disponibiliza essa e mais de 40 obras da literatura infantil, infantojuvenil e adulta com recursos de acessibilidade.

Carla Mauch, coordenadora geral da ONG Mais Diferenças, instituição responsável pelo projeto, conta mais sobre os recursos disponíveis:

Foto: acervo pessoal

Há mais de 10 anos nos colocamos nesse exercício de pensar o que seria um livro para todos. Por isso, nós pegamos os livros em papel e os vertemos para uma versão audiovisual acessível, com Libras – que é uma língua em movimento, não escrita –, descrição das imagens, linguagem simples, narração, paisagem sonora, imagens em movimento. Assim temos obras que podem ser acessadas por todas as crianças de um grupo ou de uma sala de aula que tenham diferentes deficiências e características. Afinal, não existe apenas uma forma de ler e de fruir dessa leitura”.

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Múltiplas formas de leitura

O acesso à Biblioteca Mais Diferenças é gratuito, mas é preciso fazer um cadastro. O acervo tem tanto livros em domínio público, como A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne, e As aventuras de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, como obras com direitos autorais – como O menino azul de Cecília Meireles e Bem do seu tamanho de Ana Maria Machado. 

O acesso aos livros com direitos autorais é permitido apenas às pessoas com deficiência, seus familiares e responsáveis e profissionais que atuam com pessoas com deficiência. Essas informações devem ser dadas no momento do cadastro.

Historicamente, não temos pensado a literatura para todos e todas. Quando a gente fala de livro acessível – inclusive no próprio Marco Legal isso ainda é frágil –, geralmente as pessoas pensam em livro em braile e áudio-livro. No entanto, nós precisamos pensar nas crianças e nos estudantes surdos que têm direito a livros bilíngues (português – língua de sinais). Estudantes com deficiência intelectual ou com autismo têm direito a livros em leitura fácil, linguagem simples, que é um outro recurso de acessibilidade muito pouco trabalhado e desenvolvido ainda no país”, lembra .
Carla Mauch, coordenadora geral da ONG Mais Diferenças
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A coordenadora ressalta que disponibilizar diferentes recursos para as obras é uma forma de inclusão que vai além de pensar apenas nas pessoas com deficiência, e passa a compor uma nova possibilidade de estratégia pedagógica a ser desenvolvida seja com todos e todas.

Costumamos trabalhar a descrição de imagens e a áudiodescrição como recurso de acessibilidade para estudantes com deficiência visual. Mas também é possível usar esses recursos para os demais estudantes a partir de uma perspectiva de letramento visual. Quando eu estou descrevendo uma imagem, eu estou trabalhando questões de ampliação de repertório, de gêneros literários ou de suporte. Eu posso fazer uma descrição mais objetiva, mais detalhada, ou mais poética. Posso trabalhar questões atencionais, fazer um diálogo entre texto e imagem. A imagem não é simplesmente ilustrativa. Mas muitas vezes os educadores trabalham o texto como o principal, esquecendo ou passando muito rapidamente pela imagem, que também compõe a obra“, explica.

Carla Mauch, coordenadora geral da ONG Mais Diferenças

Assim, ela reforça a ideia da educação inclusiva como uma possibilidade de avançar nas possibilidades de oferta de práticas pedagógicas mais interativas, diversificadas e interseccionais, que abraçam todas as diferenças e diversidades. 

“Do ponto de vista da arquitetura do site, também construímos a Biblioteca a partir da perspectiva acessível, em um trabalho colaborativo com pessoas com diferentes deficiências. Ou seja, além de ser de fácil usabilidade e navegabilidade, o conteúdo da Biblioteca também foi produzido com leitura fácil e linguagem simples para que um número maior de pessoas possa acessá-lo, considerando as questões de baixo letramento e de alfabetismo do nosso país”, explica Carla.

Acesse o Guia de Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva


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